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Caminhemos rumo à santidade!

Recentemente, foi beatificado o adolescente Carlo Acutis, de apenas quinze anos, com as características de nosso tempo e da juventude. O convite à santidade repercutiu especialmente no meio dos jovens. E agora, celebramos a Solenidade de Todos os Santos, jovens ou menos jovens, mártires, confessores da fé, virgens, pais e mães de família, operários, papas, bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas. Dá para ver que o chamado à santidade se dirige a todos nós, em qualquer estado de vida e idade em que nos encontrarmos. Sabemos que a festa está ligada a outra comemoração, a dos fiéis falecidos, celebrada pela Igreja Católica no dia dois de novembro, muitas vezes até acompanhada, com as visitas aos Cemitérios, por pessoas de outras confissões cristãs ou outras religiões, a indicar que a memória dos irmãos e irmãs que partiram e pelos quais rezamos, convicção bem católica e presente em nosso calendário litúrgico, acaba atraindo muitas outras pessoas!

Para chegar à santidade confirmada e sigilada pela Igreja, todos passam pela misteriosa experiência da morte. Podemos vivê-la apenas como uma tragédia, ou então, se nos deixamos guiar pela fé, saberemos encará-la como uma transformação e não como retirada da vida. De fato, para os cristãos, passar pela morte é fazer a experiência da Páscoa pessoal, para abrir os olhos à nova e definitiva realidade da eternidade, o “lado de lá”!

Caminhemos rumo à santidade!

Foto ilustrativa: eclipse_images by Getty Images

Apelos à santidade

Entretanto, a vocação à santidade é nossa estrada aqui na terra, até porque o Paraíso será nossa casa definitiva e eterna, mas devidamente preparada aqui mesmo, nas labutas diárias pela fidelidade a Deus e a Sua Palavra, no coração da Igreja. Já no Antigo Testamento, a Sagrada Escritura está repleta de apelos à santidade: “Porque eu sou o Senhor vosso Deus. Santificai-vos e sede santos, porque eu sou santo. Pois eu sou o Senhor que vos fez subir do Egito, para ser o vosso Deus. Sede pois santos, porque eu sou santo. Fala a toda a comunidade dos israelitas e dize-lhes: Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Lv 44a.45; 19, 2). Assim encontramos depois, no Livro de Esdras: “Eu lhes falei assim: “Vós estais consagrados ao Senhor” (Esd 8,28).

A primeira Carta de São Pedro faz ressoar assim o convite à santidade: “Por isso, aprontai a vossa mente, sede sóbrios e colocai toda a vossa esperança na graça que vos será oferecida no dia da revelação de Jesus Cristo. Como filhos obedientes, não moldeis a vossa vida de acordo com as paixões de antigamente, do tempo de vossa ignorância. Antes, como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos, também vós, em todo o vosso proceder. Pois está escrito: “Sereis santos porque eu sou santo” (1 Pd,13-16). Impressionante o apelo: “Não moldar a vida de acordo com as paixões de antigamente!”

E o grande São Paulo, na carta aos Efésios, proclama um convite ouvido tantas vezes nos dias do Círio, por causa do apelo a sermos imaculados, olhando para Maria: “Em Cristo, Deus nos escolheu, antes da fundação do mundo, para sermos santos e imaculados diante dele, no amor” (Ef 1, 4). Vale afirmar que Deus nos escolheu para sermos santos e imaculados. Seu projeto não inclui nivelar a vida das pessoas pelo rodapé do pecado, mas nos quer o Senhor olhando para o alto e para frente. Quem fica parado, já está regredindo!

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Os caminhos possíveis dentro de cada vocação

Mas vale procurar os caminhos para a santidade, e aqui é magistral o Papa São João Paulo II (Cf. Novo Millenio ineunte, 30): “A redescoberta da Igreja como mistério, como um povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo não podia deixar de implicar um reencontro com a sua santidade, no seu sentido fundamental de pertença àquele que é o Santo por excelência, o três vezes Santo (Cf. Is 6, 3). Professar a Igreja como santa significa apontar o seu rosto de Esposa de Cristo, que a amou entregando-se por ela precisamente para a santificar (cf. Ef 5, 25-26). Este dom de santidade, por assim dizer, objetiva, é oferecido a cada batizado. E o dom gera, por sua vez, um dever, que há de moldar a existência cristã inteira: Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação (1 Ts 4, 3). É um compromisso que diz respeito aos cristãos de qualquer estado ou ordem, chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Significa exprimir a convicção de que, se o Batismo é um verdadeiro ingresso na santidade de
Deus através da inserção em Cristo e da habitação do seu Espírito, seria um contrassenso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial. Perguntar a um catecúmeno: Queres receber o Batismo? significa ao mesmo tempo pedir-lhe: Queres fazer-te santo? Significa colocar na sua estrada o radicalismo do Sermão da Montanha: Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai Celeste (Mt 5, 48). Os caminhos da
santidade são variados e apropriados à vocação de cada um. É hora de propor de novo a todos, com convicção, esta medida alta da vida cristã ordinária!

Acreditar na santidade, buscá-la com todo ardor, pensar nas coisas do alto, não se acostumar com o pecado e com a mediocridade. Depois, cada pessoa busque a perfeição e a virtude correspondentes ao seu estado de vida! Para tanto, aceitar a pedagogia da santidade, com a qual haveremos de ter a paciência necessária com cada pessoa, reconhecendo que existe um processo dependente das condições de vida, das marcas existentes na história pessoal, no ambiente em que cada um foi criado e cresceu. O que importa é que todos nós, sem exceção, apontemos a bússola de nossa vida pera a perfeição.

Caminhemos para ser santos!

É ainda necessário buscar os meios oferecidos pela Igreja. O Beato Carlo Acutis encontrou na Eucaristia, na devoção a Nossa Senhora e na prática da caridade instrumentos preciosos para preencher os seus apenas quinze anos de verdadeiro heroísmo, capaz de convencer familiares e amigos, com um verdadeiro apostolado, respondendo a um convite feito há alguns anos de que o mundo precisava de santos “de calça jeans”. Ele foi um jovem da geração da internet, tanto que preparou uma série a respeito dos milagres eucarísticos! Seu corpo exposto na beatificação mostrava um adolescente vestido com roupas esportivas e de tênis!

Nossa Páscoa pessoal acontecerá no dia e nas circunstâncias pensadas por Deus, e que ele nos encontre preparados! Mas é importante tomar consciência de que o momento presente vivido no amor a Deus e ao próximo nos dispõe para estar prontos a tudo! O ideal da santidade tome conta de nosso horizonte e nos disponha a caminhar a passos largos nesta direção.

A Imaculada, Nossa Senhora de Nazaré, em torno da qual nos reunimos em dias de Círio, ela que passou na nossa frente, reze por nós e reze conosco, para que o plano de Deus se realize plenamente em nossa vida. Caminhemos seguros para ser santos e imaculados no amor!


Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.