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A oração carismática, dom do Espírito Santo

Nos artigos anteriores, levantei alguns tópicos sobre como a oração é a vida da alma e como podemos começar a entender a oração mística ou contemplação. Todos esses assuntos, com maior ou menor aprofundamento, você encontra na grande literatura composta pelos santos e doutores da Igreja e nos dois livros que escrevi sobre esses assuntos.

Gostaria, para encerrar essa coleção de três artigos, tratar de uma oração que não tem tantos autores e conteúdo histórico assim: a oração carismática.

Oração carismática, a Igreja de Cristo

Os dons de Deus ou carismas são, portanto, intervenções do próprio Espírito Santo, por meio daqueles ou daquelas que se colocam ao seu serviço. A oração carismática é aquela oração que, por meio da força do Espírito Santo, intervém, auxilia, direciona, consola, cura e põe em movimento a Igreja de Cristo.

Enviado na história, o Verbo encarnou-se, morreu, ressuscitou, deu nova vida à Igreja e, em comunhão com o Pai, enviou o Espírito Santo para ser o guardião e guia desta mesma Igreja.

No entanto, São Tomás de Aquino, em sua Suma Teológica, esclarece sobre a missão das pessoas divinas e diz que essas missões (ou envios), embora tenham acontecido na história uma única vez, continuam acontecendo espiritualmente até hoje.

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Vimos, no artigo anterior, que a contemplação é causada por um movimento da Verdade que atinge o intelecto. E quem é o Caminho, a Verdade e a Vida, senão Jesus Cristo? Essa iluminação interior que recebemos é a própria visita do Cristo. É uma missão espiritual do Verbo em nós.

Mas como saber se fomos impactados pelo próprio Senhor ou por uma iluminação qualquer, uma revelação exclusivamente intelectual? O critério que São Tomás nos apresenta é o mesmo da contemplação: quando tocados pelo próprio Cristo, não só nosso intelecto se ilumina, mas nossa vontade é atingida por um derramamento de amor.

Já entendeu que esse amor não é um sentimento, mas o Amor por excelência, o Espírito Santo?

Como ocorre na missão exterior (histórica), ocorre na missão interior (espiritual): o Verbo sopra o Espírito sobre nós.

A oração carismática e os dons carismáticos são os dons do Espírito que recebemos no sacramento do batismo e, renovados e intensificados no sacramento do crisma, sofrem ainda novo impulso com o encontro pessoal e cotidiano com Cristo, proporcionado de múltiplos modos.

Se a oração contemplativa nos leva a um estreitamento com Deus e uma santificação pessoal, a oração carismática é a utilização dos dons proporcionados por esta intimidade para o proveito da Igreja e dos irmãos.

O Espírito Santo proporciona o dom de acordo com a pessoa e o benefício que quer provocar na comunidade de cristãos reunidos: dom de orar em línguas, dom de falar em línguas, dom de interpretação das línguas, dom de profecia, dom de ciência, dom de sabedoria ou palavra de sabedoria, dom de cura, dom de milagres e dom de discernimento dos espíritos.

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Cuidados na oração carismática

Como nas orações anteriores, é possível nos desviarmos do caminho também com a oração carismática. Alguns cuidados são, portanto, fundamentais: o Espírito Santo costuma prover os dons necessários e distribuí-los na comunidade reunida. Essa é uma forma de confirmação de que a inspiração é divina e não humana.

Assim, quando há uma profecia em línguas, uma palavra de ciência ou de sabedoria, a interpretação segura do que é e ao que se refere vem sempre do mesmo Espírito, mas por meio de outra pessoa.

Aquele que, além de receber a mensagem, se sente inspirado a interpretá-la, pode incorrer em um grave erro. Quem nos garante que não estão influindo nessa interpretação “inspirada” seus próprios medos, suas próprias crenças e desejos inconscientes?

Todos se sentem mais seguros e os próprios fatos parecem se desencadear com mais assertividade quando, durante a oração carismática, um traz a palavra, outro traz a interpretação, ainda outro traz o discernimento ou confirma a palavra e a interpretação com o dom do discernimento dos espíritos. É o próprio Espírito quem multiplica e unifica.

Outro cuidado que deve provocar constante atenção vem de algumas certezas de: 1. a oração carismática é para o crescimento da Igreja; 2. os dons que acompanham a oração são dons de serviço, para servir a Igreja; 3. os dons de Deus são irrevogáveis, ou seja, Ele não dá o dom e depois o retira.

Dons e carismas

Estes três pontos nos dizem que a pessoa que busca viver uma vida santa, que aprofunda-se na oração carismática, que dispõe-se a ser instrumento do Espírito Santo na edificação e manutenção da sua Igreja e recebe dons e carismas, não os perde, mesmo cometendo um pecado mortal.

Para aqueles que possuem dons carismáticos, esse conhecimento deve ser motivo de cuidado. Se, por um lado, a pessoa continua sendo instrumento de Deus no meio do seu povo, por outro, perdeu a graça santificante e, se não fizer o caminho do sacramento da penitência, certamente, perderá a vida eterna.

Alguns se enganam pensando que o pecado cometido não deve ser tão grave, já que ainda continua ao serviço do Espírito Santo. Estes esquecem que Deus utiliza-se até mesmo de uma jumenta para suas obras (Nm 22, 28-30).

Outros pensam que a salvação eterna é uma espécie de matemática com prós e contras, e as milhares de pessoas curadas pelo seu serviço compensam sua infidelidade conjugal, os furtos que cometeu ou quaisquer outros pecados que, embora mortais, foram realizados em menor quantidade.

Tanto em um caso, como no outro, esses viverão na prática o evangelho de Mateus (7,22-23) quando Jesus relata que: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não foi em teu nome que pregamos, que expulsamos os demônios e realizamos muitos milagres? E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci! Afastai-vos de mim, operários maus”.

Que possamos, verdadeiramente, crescer em nossa vida espiritual, por meio da oração, aprofundar em intimidade e santidade na contemplação e nos colocar ao serviço dos irmãos e da Igreja, por meio da vivência correta dos dons da oração carismática.