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Existe sabedoria no silêncio?

Sócrates, o sábio filósofo grego, dizia que a eloquência é, muitas vezes, uma maneira de exaltar falsamente o que é pequeno e diminuir o que é, de fato, grande. A palavra pode ser mal-usada, mascarada e empregada para a dissimulação. É por isso que os sábios sempre ensinaram que só devemos falar alguma coisa “quando as nossas palavras forem mais valiosas que o nosso silêncio”. A razão é simples: nossas palavras têm poder para construir ou para destruir. Elas podem gerar a paz, a concórdia, o conforto, o consolo, mas podem também gerar ódio, ressentimento, angústia, tristeza e muito mais. “Mesmo o estulto, quando se cala, passa por sábio, por inteligente, aquele que fecha os lábios” (Pr 17,28). O silêncio é valioso, sobretudo quando estamos em uma situação difícil, quando é preciso mais ouvir do que falar, mais pensar do que agir, mais meditar do que correr.

Existe sabedoria no silêncio?

Foto ilustrativa: Andréia Britta/cancaonova.com

Tanto a palavra quanto o silêncio revelam o nosso ser, a nossa alma, aquilo que vai dentro de nós. Jesus disse que “a boca fala daquilo que está cheio o coração” (cf. Lc 6,45). Basta conversar por alguns minutos com uma pessoa que podemos conhecer o seu interior revelado em suas palavras; daí a importância de saber ouvir o outro com paciência para poder conhecer de verdade a sua alma. Sem isso, corremos o risco de rotular rapidamente a pessoa com adjetivos negativos.

A palavra tem poder, mas, às vezes, o silêncio é a melhor opção!

Sabemos que as palavras são mais poderosas que os canhões, pois provocam revoluções, conversões e muitas outras mudanças. A Bíblia, muitas vezes, chama a nossa atenção para a força das nossas palavras. “Quem é atento à palavra encontra a felicidade” (Eclo 16,20). “O coração do sábio faz sua boca sensata e seus lábios ricos em experiência” (Eclo 16,23). “O homem pervertido semeia discórdias, e o difamador divide os amigos” (Eclo 16,28). “A alegria de um homem está na resposta de sua boca, e que bom é uma resposta oportuna!” (Pr 15,23).

Quanta discórdia existe nas famílias e nas comunidades por causa da fofoca, das calúnias, injúrias e maledicências! É preciso aprender que quando errarmos por nossas palavras, quando elas ferirem, injustamente, o irmão, teremos de ter a coragem sagrada de ir até ele pedir perdão. Jesus ensina que seremos julgados por nossas palavras: “Eu vos digo: no dia do juízo, os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido. É por tuas palavras que serás justificado ou condenado” (Mt 12,36).

Nossas palavras devem sempre ser “boas”, isto é, sempre gerar o bem-estar, a edificação da alma, o consolo do coração; a correção necessária com caridade. Se não for assim, é melhor se calar. São Paulo tem um ensinamento preciso sobre quando e como usar a preciosidade desse dom que Deus nos deu, que é a palavra: “Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só a que for útil para a edificação, sempre que for possível, e benfazeja aos que ouvem” (Ef 4,29).

Erramos muito com nossas palavras, mas por quê?

Em primeiro lugar, porque somos orgulhosos, queremos logo “ter a palavra” na frente dos outros. Mal entendemos o problema ou o assunto e já queremos dar a nossa opinião, a qual, muitas vezes, é vazia, insensata, porque imatura e irrefletida. Outras vezes, erramos, porque as pronunciamos com o sangue quente, quando a alma está agitada. Nessa hora, a grandeza da alma está em se calar, em conter a fúria, em dominar o ego ferido e buscar a fortaleza no silêncio.

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Fale com sinceridade, reaja com bom senso e sem exaltação e sem raiva, expresse sua opinião com cautela, depois que entender bem o que está em discussão. Muitas vezes, nos debates, estamos cansados de ver tanta gente falando e poucos dispostos a ouvir. Os grandes homens são aqueles que abrem a boca quando os outros já não têm mais o que dizer. Mas, para isso, é preciso muito exercício de vontade; é preciso da graça de Deus porque a nossa natureza sozinha não se contém.

Deus nos fala no silêncio, quando a agitação da alma cessou; quando a brisa suave substitui a tempestade; quando a Sua palavra cala fundo na nossa alma; porque ela é “eficaz e capaz de discernir os pensamentos de nosso coração” (cf Hb 4,12).

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Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino