Posso falar o que penso?

A virtude da veracidade – dizer a verdade –, é como uma alta montanha com duas vertentes. A primeira contempla a “sinceridade”, o dever de dizer a verdade, evitando absolutamente a mentira. A segunda vertente contempla a virtude da “discrição”, concretamente, o silêncio virtuoso e “o segredo que deve ser guardado” (Catecismo da Igreja Católica, n. 2469).

Há um direito à verdade e há um direito ao silêncio. Há o dever de falar e há o dever de calar-se. Assim como muitas vezes a justiça e o amor exigem que a verdade seja manifestada ao próximo, em outras ocasiões mandam guardar silêncio para resguardar a verdade.

É oportuno, para que isso fique mais claro, relembrar agora o que o Catecismo diz sobre a mentira: «Mentir é induzir em erro aquele que tem o direito de conhecer a verdade» (n. 2483).


Sublinhamos de propósito a expressão “tem o direito”, porque ela nos dá a chave desta segunda vertente. «O direito à comunicação da verdade – esclarece o Catecismo – não é incondicional. Cada um deve conformar a sua vida com o preceito evangélico do amor fraterno. Este requer, nas situações concretas, que se avalie se é conveniente ou não revelar a verdade àquele que a pede» (n. 2488).


Assista: “Nem tudo me convém”, com o saudoso padre Léo
 


Abordemos essa questão em forma de perguntas e respostas:

– É sempre oportuno dizer a um doente o grau de gravidade do seu mal?

– Às vezes, não é.
– Mas não é uma grave omissão esconder de um moribundo a situação crítica em que se encontra – falando-lhe pelo menos de “situação de risco” ou de “perigo”– , impedindo-o de se preparar com a recepção dos últimos Sacramentos?
– Sem dúvida, é um pecado de omissão.
– Mais uma pergunta: Um marido deve deixar aflita a esposa narrando todos os detalhes da crise profissional que o ameaça, se não há necessidade disso ou uma clara conveniência? Não será mais caridoso evitar-lhe, serenamente e com um sorriso, um sofrimento perfeitamente inútil, e só falar mais tarde, caso a crise se confirme?
– Depende das circunstâncias, mas geralmente é um ato de caridade evitar queixas, alarmismos e angústias inúteis, que só vão fazer sofrer uma pessoa que, no momento, não pode ajudar.
– Pelo contrário, não deverá falar à esposa quando for preciso viver uma especial confiança e apoio mútuos, a fim de enfrentarem juntos a adversidade?
– Certamente, nestes casos, deverá.

As situações, como percebemos, são inúmeras, mas a “regra de ouro” é sempre a mesma: a caridade, a norma que Cristo nos ensinou: Tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o vós a eles (Mt 7, 12).