Exorcismo

Possessão demoníaca: discernimento e sinais

Como discernir quais são os sintomas de uma possessão demoníaca?

Essa pergunta não é tão difícil de ser respondida, uma vez que é somente necessário entender do que se trata uma possessão demoníaca.

A primeira realidade que precisa estar clara é que uma possessão demoníaca é possível, e que o próprio Jesus, nos Evangelhos, demonstra essa verdade expulsando o demônio, como por exemplo, no Evangelho de Marcos, capítulo 5; em Mateus, nos capítulos 8, 9, 12, e em outros… Os apóstolos, no capítulo 10 do Evangelho de Lucas, atestam o poder do Nome de Jesus quando dizem:

“Senhor, até os demônios nos obedecem por causa do Teu nome” (Lc 10,17).

Na tradição da Igreja, nos relatos e na vida dos santos, também é possível ver claramente essa realidade da ação demoníaca direta sobre uma pessoa.

Ação direta do demônio sobre uma pessoa

Quando nós falamos de uma ação direta do demônio sobre uma pessoa, a Igreja, com o passar do tempo e com a experiência, pôde pontuar algumas realidades que, se observadas e somadas, nos levam a um tipo maior de discernimento para concluirmos se se trata ou não de uma ação extraordinária do Mal sobre aquela pessoa.

Em geral, os sintomas de uma possessão diabólica são tão claros, e de certa forma até extraordinários, que, chegar a um discernimento não é difícil. É claro que aqui estou falando de um discernimento feito por pessoas preparadas para isso, que estão acostumadas com as realidades espirituais.

Podemos dizer que, quando falamos de uma possessão diabólica, estamos falando de uma ação do demônio diretamente sobre uma pessoa, na qual o demônio começa a ter um certo domínio sobre o corpo da pessoa, sobre os seus movimentos, sobre a sua fala e ações. A pessoa que sofre tal ação do Maligno não tem, de certo modo, responsabilidades sobre os seus atos, uma vez que não está em posse de sua plena liberdade de fazer escolhas. Só por isso já poderíamos ter, de inicio, um bom discernimento; porém, é verdade que existem certos tipos de doenças mentais que podem chegar muito próximas aos “traços” de uma possessão diabólica, por isso a Igreja nos ensina, dentro do próprio ritual dos exorcismos, mais alguns critérios que podem nos servir como ajuda no discernimento.

Em geral, uma pessoa que está sofrendo uma ação direta do demônio ficará muito incomodada em estar presente em momentos fortes de oração, seja em momentos de orações comunitárias, na oração do Santo Terço, em momentos de louvores, no Grupo de Oração e, de modo muito acentuado, na Santa Missa.

É importante frisar que uma pessoa que sofre de uma possessão diabólica não está constantemente em “transe”, por isso pode levar uma vida normal, tendo, em alguns momentos, certos tipos de manifestações específicas. Por isso que frisei, em primeiro lugar, os momentos de oração, pois isso incomoda muito o demônio. Também é comum que pessoas que sofrem essa ação extraordinária do demônio, que é a possessão, acabam por experimentar outros tipos de ações do demônio, como por exemplo, obsessões diabólicas ou vexações diabólicas.

O que diz o Ritual Romano

O Ritual Romano indica alguns outros sinais que podem nos ajudar no discernimento e diagnóstico. É bom reforçar que sinais isolados precisam ser bem averiguados para se discernir com precisão, mas que, quanto mais sinais destes que serão apresentados forem possíveis confirmar, maior se torna a possibilidade de uma real possessão diabólica.

Assim descreve o Ritual Romano:

Segundo a prática comprovada, consideram-se como sinais de possessão do demônio: dizer muitas palavras de língua desconhecida ou entender quem assim fala; revelar coisas distantes e ocultas; manifestar forças acima da sua idade ou condição natural. estes sinais podem fornecer algum indício. Como, porém, os sinais deste gênero não são necessariamente atribuíveis à intervenção do diabo, convém também atender a outros, sobretudo de ordem moral e espiritual, que manifestem de outro modo a intervenção diabólica, como por exemplo a aversão veemente a deus, ao santíssimo Nome de Jesus, à Bem-aventurada virgem Maria e aos santos, à igreja, à Palavra de deus, a objetos e ritos, especialmente sacramentais, e às imagens sagradas. Finalmente, por vezes é preciso ponderar bem a relação de todos os sinais com a fé e o combate espiritual na vida cristã, porque o Maligno é principalmente inimigo de deus e de tudo o que relaciona os fiéis com a ação salvífica”. (Ritual Romano, Prel. 16)

Em síntese, esse são os sinais:

Falar ou compreender línguas desconhecidas:

Durante a manifestação diabólica, o possesso pode falar perfeitamente ou compreender línguas que nunca aprendeu e com as quais nem mesmo teve algum tipo de contato.

Estas línguas podem ser línguas atuais, modernas, e até mesmo línguas mortas. Consideram-se línguas mortas o idioma que não possui mais falantes nativos, e somente há registros de sua escrita. Por exemplo o Latim, o Fenício, sânscrito, e outras mais.

– Revelação de coisas ocultas ou distantes:

Durante a manifestação diabólica, o demônio pode, através do possesso, revelar realidades e acontecimentos escondidos e esquecidos das pessoas que estiverem presentes durante o ritual do exorcismo ou oração de libertação.

É possível também que o possesso revele um segredo ou um pecado escondido que não foi confessado ou que não houve verdadeiro arrependimento.

O demônio pode saber o nome de pessoas, sem que o possesso nem mesmo conheça essas pessoas. Pode dizer fatos que estão acontecendo em outros lugares naquele exato momento.

– Força física além do natural e outros sinais corporais:

Durante a ação diabólica, o possesso pode manifestar uma força que é desproporcional em relação à sua idade ou até mesmo em relação às suas condições físicas. Por exemplo, uma jovem franzina precisar de quatro homens fortes para segurá-la durante a possessão, ou ainda, uma pessoa de idade e até mesmo debilitada fisicamente ganhar agilidade e força desproporcional em relação à sua condição física atual.

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– Aversão ao Sagrado:

Tudo o que é sagrado ou remete ao sagrado gera um certo incômodo a pessoa. Se não estiverem possessas naquele momento, qualquer momento de oração gerará certa agitação na pessoa ou fará com que ela se sinta mal fisicamente, com mal estar, fraquezas, ânsias de vômito, ódio e raiva sem explicações.

Não conseguem usar com frequência sacramentais atados ao seu corpo, passam mal ao entrar em igrejas, quando dado água benta a estas pessoas, muitas reclamam do sabor amargo.

Portanto, esses são apenas alguns sinais que podem demonstrar uma real possessão diabólica numa pessoa, o que faz com que nada mais se veja no campo da  medicina ou no campo humano. Sendo assim possível, chegarmos a um discernimento mais apurado.

Mas faço questão de frisar mais uma vez: esse campo do discernimento e da oração por tais pessoas, só devem ser realizados por pessoas habilitadas e que saibam o que está sendo feito.

Danilo Gesualdo
Missionário da Canção Nova