Pode um cristão mentir?

O salmista não se mostra muito generoso, quando, num momento de decepção, exclama: “Todos os homens são mentirosos” (Sl 116,11). Ser amante da verdade é um aprendizado. Para fugir de complicações, todos temos a tendência para a dissimulação, isto é, procuramos enganar para nos safar de eventuais punições. Só Jesus mesmo para poder dizer: “Eu sou a verdade” (Jo 14,6).

Conheço algumas circunstâncias – as mentirinhas profissionais – em que não se produz culpa. Por exemplo: a enfermeira avisa, ao aplicar uma injeção: “não vai doer”. Ou o pároco, quando vai pedir ajuda financeira aos fiéis: “esta é a última campanha que vamos fazer”. São as tais mentirinhas inocentes, que não prejudicam ninguém. Mas São Tomás de Aquino ensina que existe uma situação, na qual podemos até mentir em assunto sério. É quando alguém pergunta se nós cometemos certos crimes. É lícito negar, mesmo sendo culpados, porque o ônus da prova cabe ao acusador.


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O critério melhor para aquilatar a vileza de uma mentira é verificar o mal que ela produz e os sofrimentos  que provoca. A contragosto, refiro-me a homens e mulheres que ocupam cargos de maior relevância como ministros do Supremo Tribunal Federal. Não posso deixar de comentar a fraqueza de alguns ao basearem seu raciocínio contra os direitos das crianças anencefálicas (melhor seria dizer meroencefálicas), com argumentos mais do que equivocados.

Vários ministros e ministras afirmaram que não podem aceitar a intromissão de razões religiosas para julgar a favor da vida dessas crianças. Isso é uma afirmação falsa. É notório que os maiores defensores das crianças provém das fileiras das Igrejas. No entanto, nenhum representante veio argumentar com razões religiosas. Ninguém debateu com argumentos bíblicos. Nenhum aduziu que o Papa não quer.

Os argumentos foram todos humanitários, filosóficos, científicos e de amor à vida. Tais ministros, conscientemente, afrontaram o bom senso, construindo seu voto em cima de uma base errônea. Isso deu um sentimento de insegurança a todos nós. Só vejo uma possibilidade, de eles recuperaram, aos poucos, a confiança da nação seriamente abalada: julgar, com retidão, os envolvidos no mensalão. “A verdade vos libertará” (Jo 8, 32).