❤️ Amar até o fim

Paciência nas aflições: o caminho da esperança e da fé

“Alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração” (Rm 12,12).

Quantas vezes lemos este versículo de São Paulo como se fosse apenas uma frase de encorajamento para os frágeis?

Eu mesma, no início da minha caminhada cristã, achava que ser “paciente na aflição” era palavra para quem estivesse abatido por problemas familiares ou dificuldades de saúde.

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As outras exortações de Romanos 12 pareciam mais práticas: amar sem fingimento, viver em paz com todos, ser acolhedora, fazer o bem, socorrer os necessitados (cf. Rm 12,9-13). Isso fazia mais sentido para mim.

Mas, depois de enfrentar as minhas próprias dores — a morte do meu pai e o impacto do diagnóstico de câncer na língua —, passei a ler este trecho com novos olhos. Essas aflições arrancaram as cascas superficiais da minha vida e revelaram o que permanece: o amor fiel e eterno de Deus.

O que significa paciência na tribulação?

Duas forças podem mover a alma: o prazer e a dor. O prazer tende a nos arrastar para o pecado; a dor, a afastar-nos dele. Para resistir ao prazer, precisamos de continência; para enfrentar a dor, precisamos de paciência.

É nessa luta interior que a alma pode ser enganada: ora é seduzida por promessas de prazer, ora busca escapar da dor. Eu mesma vivi, por mais de quinze anos, fugindo dela. Mas a Palavra nos recorda que não basta sermos bem instruídas, precisamos também ser sustentadas. O Salmo nos ensina: é de Deus que vem a paciência necessária para enfrentar o sofrimento.

E aqui está o papel do Espírito Santo: Ele nos transforma de dentro para fora, faz de nós filhas, derrama a vida divina em nossos corações. A graça não é apenas um presente, é o próprio Deus em nós.

A paciência que nasce da fé

Na tribulação, quando deixei de apoiar minha confiança em coisas humanas, descobri que era possível ser alegre na esperança. Minhas orações, no meio da dor, se tornaram mais reais. A aflição reformou até os recantos mais sombrios do meu coração.

Essa experiência também deu origem ao meu livro O Espírito e a Esposa dizem: Vem!, no qual compartilho como o Espírito Santo age nas nossas dores mais profundas e nos conduz a viver como filhas e esposas amadas de Cristo. É justamente nesse encontro com a dor e com a graça que aprendemos a caminhar com paciência, esperança e amor.

O testemunho dos mártires hoje

Ao contemplarmos a vida dos santos e mártires, vemos que a paciência deles não era fruto apenas de disciplina exterior, mas dom de Deus. Não buscavam ser exaltados, mas apontar para o Senhor.

São Pedro nos lembra disso de forma clara: “Por meio dessas promessas, vocês se tornam participantes da natureza divina” (2Pd 1,4).

O que significa participar da natureza divina? Imagine um pedaço de ferro colocado numa forja. O ferro não deixa de ser ferro, mas, em contato com o fogo, aquece, incendeia, torna-se vermelho, incandescente… parece até fogo.

Assim acontece com a nossa alma quando recebe a graça de Deus. Continuamos sendo quem somos — humanas, frágeis —, mas, misteriosamente, recebemos dentro de nós uma participação real da própria vida de Deus. É isso que sustenta os mártires: a vida de Cristo acesa neles.

Essa mesma força se manifesta, hoje, em missionários que permanecem junto ao povo em meio a guerras, mesmo podendo sair. Eles ficam não por heroísmo humano, mas porque cada vida tem valor infinito diante de Deus.

Todos os anos, na Basílica do Getsêmani, em Jerusalém, na Solenidade de Corpus Christi, são lidos diante do Santíssimo os nomes dos mártires daquele ano. São homens e mulheres que deram a vida pelos irmãos — não para aparecer, mas para que a chama da fé não se apague no mundo.

O exemplo de Floribert Bwana Chui

Em junho de 2025, a Igreja celebrou a beatificação de Floribert Bwana Chui, jovem congolês nascido em 1981.

Engajado desde cedo na Escola da Paz da Comunidade de Sant’Egidio, acreditava que a fé precisava se traduzir em compromisso com os pobres e com a verdade.

Trabalhando na alfândega de Goma, recusou liberar cargas de alimentos estragados que colocariam em risco a população mais vulnerável. Apesar das ameaças e subornos, respondeu sempre: “Não posso trair a minha fé, nem colocar em perigo a vida das pessoas”.

Por essa decisão, foi sequestrado, torturado e assassinado em 2007, aos 26 anos. Reconhecido como mártir, tornou-se símbolo de resistência contra a corrupção e testemunho luminoso de fidelidade a Cristo. Hoje, é lembrado como um “mártir da honestidade”, exemplo para jovens africanos e para todos os cristãos.

A lógica da cruz contra a lógica do mundo

O mundo aplaude heróis eficientes, que deixam resultados e legados. Mas os mártires não deixam cálculos. Eles deixam testemunho.

O mártir não busca aplausos. Ele entrega tudo. O herói moderno, muitas vezes, troca fidelidade por sucesso e verdade por performance.

E, na nossa geração, surge um novo ídolo: a celebridade. Importa ser vista, comentada, seguida — não servir, não se doar. Contra essa lógica, ecoa a voz do Evangelho:

“Não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor; e a nós, como vossos servos por causa de Jesus” (2Cor 4,5).

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Sofrer por Cristo: a verdadeira paciência

A paciência cristã não é dureza nem resignação amarga. É graça. É dom. São Paulo escreve: “A vós foi dado não somente crer em Cristo, mas ainda sofrer por ele” (Fl 1,29).

Eis a boa causa: sofrer por Cristo. Não por ideologias, não por vaidades, mas pelo Senhor que deu a vida por nós. O nosso sofrimento ganha novo sentido quando vivido por Ele. Foi Ele quem disse: “Quem não está comigo está contra mim, e quem não recolhe comigo, espalha” (Mt 12,30).

Portanto, paciência nas aflições não é passividade, mas fidelidade. É amar até o fim. É amar mais a Jesus do que a própria saúde, bem-estar, conforto, família e bens. É pedir a Deus a graça de permanecer de pé, mesmo quando o mundo chama isso de loucura.

“É loucura, sim — para os que se perdem; mas, para nós que nos salvamos, é poder de Deus” (1Cor 1,18).

Romanos 12,12 não é um versículo motivacional. É uma promessa de caminho. Um caminho que Deus percorre conosco se O deixarmos conduzir. Um caminho que não apaga a dor, mas a atravessa; que não nos poupa das provas, mas nos molda nelas; que reforma o coração e nos torna mais fortes do que jamais imaginamos.

E é isso que procuro testemunhar em meu livro O Espírito e a Esposa dizem: Vem!, que será lançado em dezembro de 2025. Nele, partilho a experiência de uma fé que se fortalece nas provações e floresce na esperança. Um convite para viver a paciência como virtude transformadora, capaz de nos preparar como Esposa do Cordeiro, fiéis até o fim.

Call-to-action (CTA):

Em dezembro, você poderá mergulhar mais fundo nessa experiência espiritual através do livro O Espírito e a Esposa dizem: Vem!. Que este lançamento seja também um encontro com a graça de Deus, que sustenta, consola e renova.

Grazielle Rossi Lacquaneti