O Mestre divino ensinava na sinagoga de Cafarnaum e diz São Marcos que “todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois doutrinava como quem tem autoridade” (Mc 1,22). É que o Rabi da Galiléia era verdadeiramente o Filho de Deus, possuindo uma competência absoluta. Suas palavras e seus atos sempre estiveram numa concordância plena e admirável. Eis porque podia intimar a satanás a sair de um pobre endemoninhado, dizendo ao espírito mau: “Cala-te e sai dele!”. Seus ensinamentos vêm atravessando os séculos porque ele abeira-se do íntimo dos corações e, por isto, converteu a Zaqueu, iluminou a Nicodemos, encheu do verdadeiro amor a Samaritana. Abriu para seus seguidores horizontes fulgurantes, afiançando uma vida eterna feliz para os que acreditassem na Boa Nova que trouxera do céu. Em todos os temas sobre os quais discorreu ia sempre ao essencial, deixando uma mensagem fulgurante que transformou inúmeros pecadores e através dos tempos continua a iluminar as mentes, conduzindo milhares a uma reformulação total de vida, rumo às rotas da perfeição.
Que singeleza, que encantos em suas instruções! Quanta elevação em suas máximas! Que presença de espírito, que subtileza e que certeza em suas respostas!
Eis porque sua influência milenar é uma das realidades mais visíveis e gloriosas da História da humanidade, mesmo porque Ele demonstrou sempre uma pedagogia inigualável. Nenhuma literatura da terra, nem mesmo a mais bela, a mais maravilhosa na forma, a mais rica no conteúdo, nunca superou nem sobrepujará jamais o que está compendiado nos Evangelhos que apresentam páginas insuperáveis como a narrativa do Filho Pródigo, o Sermão da Montanha, a imagem do Bom Pastor.
Jesus mostrou toda uma revelação do Ser Supremo, irradiou a paz, resolveu os problemas mais difíceis. Cristo instruiu como ninguém jamais falou. Sua palavra poderosa possui uma eficácia maravilhosa sobre aqueles que se abrem à sua luminosidade, revolucionando o mundo espiritual dos que acolhem sua mensagem divina. Cumpre, porém, ao cristão se beneficiar sempre, na prática, da sabedoria de Jesus e de tudo que dela emana.
Trata-se de agir em Cristo, permanecendo, vivendo de acordo com a comunicação sublime que trouxe de junto do Pai, que é a fonte desta sua autoridade. Isto significa a necessidade da coerência radical, donde a advertência de São João: “Não amemos por palavras nem com a língua, mas por obras e em verdade. […] Quem observa seus mandamentos permanece em Deus, e Deus nele; e que ele permanece em nós sabemos por este sinal: pelo espírito que nos concedeu” (1 João 3, 18.24).
Não basta, realmente, admirar a doutrina de Jesus, mas é preciso ser agradável a ele, praticando o que ele ensinou com procedimentos conseqüentes de uma dileção sincera, esclarecida. O grande drama dentro do cristianismo vem exatamente do fato de que muitos ostentam o nome de cristãos, mas não o são na vivência cotidiana e razão tem o adágio: “Os atos falam mais do que as palavras”.
Somente assim a presença de quem foi batizado no mundo transmite a vida de Cristo que faz seu Corpo Místico crescer na justificação, na santificação. Este é, aliás, o que magnificamente lembrou o Papa Bento XVI numa de suas alocuções na jornada da juventude em Sydney: “Enriquecidos dos dons do Espírito vós tereis a força de ir além de qualquer utopia, da precariedade do momento, para oferecer a consistência e a certeza do testemunho cristão”.
Isto quer dizer que o discípulo verdadeiro à luz da autoridade do Mestre divino depara a verdade e a unidade interior. O autêntico epígono de Cristo não pretende parecer bom, mas, sim, ser bom em tudo de acordo com o que pregou o Redentor. É deste modo que se vence o relativismo contemporâneo que fragmenta a existência e dispersa as energias, porque muitos querem agradar a Deus e ao mundo, numa tentativa de compatibilizar o sim e o não, numa simbiose impossível, negando-se desta maneira o valor de tudo que o Filho de Deus pregou, seu saber, seu prestígio e o crédito que merece sua autoridade.
Esta exige comprometimento absoluto, total, evitando as indecisões perante a aliciação do mal que os meios de comunicação apresentam, como se os formadores de opinião tivessem a mesma sabedoria que Jesus. Grande, portanto, a responsabilidade do cristão, ou seja, mostrar ao mundo com palavras e obras que o Mestre divino é único que pode falar realmente com toda autoridade, por ser Ele a Luz do mundo, o Verbo eterno de Deus e o que não se compatibiliza com seus ensinamentos deve ser taxado de erro pernicioso que lança nas mais profundas trevas e nas mais terríveis desgraças…
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.