A encarnação do verbo: celebrando a presença de Deus
Celebramos, com alegria, o Natal do Senhor, contando o tempo e nossos dias pela plenitude dos tempos, marcada pela Encarnação do Verbo Eterno de Deus. Que maravilha saber que não vivemos girando em torno de nós mesmos, mas voltados para aquele que dá sentido à nossa existência, o Senhor de nossas vidas, mergulhados, através do Batismo, na vida da Santíssima Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo! A Deus toda honra e toda glória, neste ano que termina, no ano novo que vai começar e até os confins do mundo e da eternidade!
Alguns espaços nos são propostos para recolher os frutos do Natal e fazê-los multiplicados no ano novo: o coração, o mais íntimo de nós mesmos, onde só Deus pode penetrar e se joga o confronto entre seu plano de amor e nossa liberdade, é lá dentro que desejamos plantar a forças da graça recebida de Deus e a resposta da fé. É do tamanho da eternidade o que Deus faz conosco e o Natal tornou patente! Deus nos ama com um amor infinito e sério.
Não fomos jogados ao léu no mundo ou em nossos relacionamentos com a vida e as pessoas. Fomos criados para nos realizarmos e sermos felizes nesta vida e na outra, depois de nossa Páscoa pessoal na morte! Não nos resignamos a permanecer fechados ou nos acostumarmos com os problemas e sofrimentos! Não fomos destinados ao acomodamento e à preguiça, mas feitos com um dinamismo nascido da imagem e semelhança com as quais foram criados os homens e as mulheres!
O amor renovador diante da vontade de Deus
Consequências? Assumir com fé e grande responsabilidade o dia a dia, vivendo bem cada momento presente, acolhendo com amor todos os acontecimentos passados, sendo capazes de agradecer, reconhecer as próprias falhas, acolher o perdão de Deus, perdoar, começando de dentro de nós mesmos, todas as ofensas recebidas, dispostos à reconciliação que nos for possível com os outros.
Vale a recomendação de São Paulo: “É assim que eu conheço Cristo, a força da sua Ressurreição e a comunhão com os seus sofrimentos, tornando- me semelhante a ele na sua morte, para ver se chego até a Ressurreição dentre os mortos. Não que eu já tenha recebido tudo isso, ou já me tenha tornado perfeito. Mas continuo correndo para alcançá-lo, visto que eu mesmo fui alcançado pelo Cristo Jesus. Irmãos, eu não julgo já tê-lo alcançado. Uma coisa, porém, faço: esquecendo o que fica para trás, lanço-me para o que está à frente. Lanço-me em direção à meta, para conquistar o prêmio que, do alto, Deus me chama a receber, no Cristo Jesus” (Fl 3,10-13).
Para tanto, uma boa dose de criatividade e liberdade interior contribuirá para a vivência do tempo novo que se abre, um verdadeiro dom de Deus. A casa e os relacionamentos próximos podem ser um espaço de verdadeiro treinamento. Com certa frequência podemos projetar os conflitos pessoais e familiares nos demais espaços de vida e convivência. Desejamos fazer a proposta de um amor maior pela casa/família e também pela casa/espaço familiar. Nossas casas podem ser mais harmônicas, acolhedoras para nós mesmos e os outros!
Família, o templo do amor de Deus na terra
Um pouco mais de tempo à mesa de uma refeição, sem formalidade, a ajuda recíproca nas dificuldades de estudo dos irmãos, e daí por diante! Consideremos como tarefa possível, exigente, sem dúvida, mas essencial, dar mais tempo e qualidade de vida junto dos familiares. Sempre impressiona o fato de que Deus, que é Todo-poderoso, tenha planejado a vinda de seu filho ao mundo numa família, sem dúvida excepcional, mas família, com moradia, trabalho, dificuldades materiais, viagens, alegrias e angústias. A casa é o espaço do amor de caridade para todos nós!
E, neste final de semana, celebramos justamente a Festa da Sagrada Família! Em nossas Paróquias, pode ser o ano que vai começar o tempo de um grande mutirão de valorização do Sacramento do Matrimônio. É tempo de fazer crescer o número e qualidade das famílias marcadas pela graça sacramental! Cresça e apareça mais a pastoral familiar, que tem feito tanto bem por toda parte, nas várias dimensões de sua atividade! E desejamos chamar este trabalho de “Pastoral Vocacional para o Matrimônio”.
A Igreja se abre para um tempo especial, o Jubileu convocado pelo Papa Francisco, “Peregrinos de Esperança”. Um desafio de nossos tempos, com todas as guerras e os problemas sociais e econômicos existentes, é justamente a falta de perspectivas para tantas pessoas. A Igreja tem como tarefa para o ano do Jubileu oferecer uma verdadeira injeção de esperança ao mundo.
Transformando o mundo por meio da esperança em Deus
E para nós cristãos, a esperança é uma virtude teologal, um dos presentes recebidos no Batismo. Vejamos o que diz o Papa, na Bula de convocação do Jubileu (n.3): “Com efeito, a esperança nasce do amor e funda-se no amor que brota do Coração de Jesus trespassado na cruz: ‘Se de fato, quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Ele pela morte de seu Filho, com muito mais razão, uma vez reconciliados, havemos de ser salvos pela sua vida“(Rm 5, 10).
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E a sua vida manifesta-se na nossa vida de fé, que começa com o Batismo, desenvolve-se na docilidade à graça de Deus e é por isso animada pela esperança, sempre renovada e tornada inabalável pela ação do Espírito Santo. Na verdade, é o Espírito Santo, com a sua presença perene no caminho da Igreja, que irradia nas pessoas de fé a luz da esperança: mantém-na acesa como uma tocha que nunca se apaga, para dar apoio e vigor à nossa vida.
O amor de Deus como fundamento de um novo tempo
Com efeito, a esperança cristã não engana nem desilude, porque está fundada na certeza de que nada e ninguém poderá jamais separar-nos do amor divino: “Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores graças àquele que nos amou. Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, Senhor nosso”(Rm 8, 35.37-39).
Por isso mesmo essa esperança não cede nas dificuldades: funda-se na fé e é alimentada pela caridade, permitindo assim avançar na vida. A propósito escreve Santo Agostinho: “Em qualquer modo de vida, não se pode passar sem estas três propensões da alma: crer, esperar, amar”.
Com simplicidade, propomos ao coração o crer, à família o amar, e à missão da Igreja no mundo o esperar!
Feliz, verdadeiro, abençoado e santo ano novo!
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará