Preciosos Defeitos

      Esterco: se o deixarmos ao ar livre, atrai moscas, mosquitos, baratas, vermes e doenças. Se o enterrarmos no mato para nos livrarmos dele, cresce mais mato. Se o jogamos no rio, polui a própria água que bebemos. Mas se o enterrarmos num jardim ele produz flores, num pomar ele produz frutos, numa horta ele produz alimentos. Ou seja: esterco, todos nós produzimos. A diferença está em como cada um trata o seu.

      Assim são os defeitos. Todos nós os temos, em maior ou menor quantidade. Mas não é isso que conta. O que conta é o que vamos fazer com eles. Se não fizermos caso deles (deixá-los ao ar livre), vão produzir todo tipo de podridão em nós e ao nosso redor. São os pecados graves e os vícios. Se o reprimimos (enterrar no mato), produzirão ervas daninhas. São as imperfeições que vão se instalando em nosso coração e com as quais vamos nos acostumando. Não chegam a ser pecados mortais, mas incomodam bastante. Por mais que as arranquemos, elas sempre tornam a crescer, porque se alimentam de nossos defeitos reprimidos.
Se os difundirmos (jogar no rio), eles se voltarão contra nós. Grande erro é apregoar os próprios defeitos e induzir os outros a nos imitarem. Agindo assim estaremos sendo causa de escândalo, e estaremos contaminando a própria sociedade em que vivemos. Um dia seremos vítimas de nossos próprios venenos. Mas podemos usar nossos defeitos no cultivo das virtudes. Assim eles nos ajudarão a produzir flores, frutos e alimento, para nós mesmos, para os irmãos e para Deus.

      Um cristão jamais deve se acomodar com seus defeitos. Deve aceitá-los humildemente, sim. Mas deve apresentá-los a Deus, para que ele, trabalhando em nosso coração, os transforme em bênção e vida. Como imaginar um cristão violento, explosivo, orgulhoso, mal-humorado, avarento, preguiçoso, guloso, impuro, beberrão, ciumento, invejoso, ladrão, desonesto, assassino, corrupto e outras coisas do gênero? Estas coisas não combinam com a santidade de Cristo. São defeitos e pecados com os quais não podemos nos conformar. Acho difícil alguém ter todos esses defeitos; mas com certeza todos nós temos alguns ou vários deles. Tudo isso — defeitos e pecados — devem ser trazidos à luz, para que Deus transforme em luz para a nossa vida. Quantos homens violentos, depois que encontraram Jesus, se tornaram famosos por sua mansidão! Os avarentos se tornam generosos, os preguiçosos põem-se a servir, os egoístas tornam-se altruístas, os luxuriosos abraçam a pureza, os ricos se desapegam de seus bens, os explosivos adquirem auto-controle, os inertes se enchem de iniciativa, os desonestos e injustos tornam-se honestos e justos, os assassinos defendem a vida.

      Bem disse São Paulo: “Quando me sinto fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,10), pois é na nossa fraqueza que Deus revela totalmente a sua força (Cf. 2Cor 12,9). Por isso, se você tem muitos defeitos, Deus quer dar-lhe muitas virtudes. “Onde abundou o pecado, superabundou à graça” (Rm 5,20). Basta ter paciência e permanecer com Deus, sem nunca desanimar. Pois é Deus quem realiza em nós o querer e o executar (Cf. Fl 2,13), e sem ele nada podemos fazer (Cf. Jo 15,5). Estou convencido de que exatamente naqueles pontos em que nossa fraqueza é mais evidente, é aí mesmo que Deus quer manifestar a sua glória. Se você é violento, exercite-se na mansidão. Ainda que você sinta muita ira, peça a Deus a graça de ser manso. Os sentimentos vão mudando pouco a pouco, na medida em que você perseverar e buscar a santidade. Se você é preguiçoso, mexa-se. Se você é guloso controle-se. Se você é desonesto, procure ser absolutamente honesto em tudo. Se você tem uma tendência à luxúria, evite toda e qualquer ocasião de pecado, por pequena que seja, e comece a cultivar a pureza do corpo, da alma e do pensamento. E assim devemos proceder com todos os nossos defeitos: não negar, não se conformar, mas trabalhá-los à luz de Deus.

      Não tenha medo. Tenho certeza absoluta de que Deus estará com você, a cada passo, guiando-o e ajudando-o a caminhar. Mas dê passos. Faça a sua parte. A graça de Deus jamais faltará, pois Ele, muitíssimo mais que você, quer que você seja santo. E qual será o nosso primeiro passo nessa jornada? Cultivar uma amizade com Deus. “Diga-me com quem andas, e te direi quem és”. Se você anda com Deus, você é cristão. A amizade com Deus nós cultivamos através da oração, dos Sacramentos, da vida comunitária na Igreja e, principalmente, do amor a Deus e aos irmãos.

      Vamos nessa!