dignidade

O trabalho

O trabalho como meio de salvação e santificação

A maior parte da nossa vida transcorre no trabalho de cada dia. O trabalho foi colocado em nossa vida, por Deus, como um meio de salvação e de santificação. Depois que o homem pecou no paraíso, e perdeu o estado de justiça e santidade originais, Deus fez do trabalho um meio de redenção para o homem.

“Porque escutaste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te proibira de comer, maldito é o solo por causa de ti. Com sofrimentos dele te nutrirás todos os dias de tua vida. Ele produzirá para ti espinhos e cardos e comerás a erva dos campos. Com suor do teu rosto comerás teu pão até que retornes ao solo, pois dele foste tirado” (Gênesis 3,17-19).

A partir de então, o trabalho foi inserido na sua vida para a sua redenção. Por causa do pecado, ele agora é acompanhado do “suor”, mas deste sofrimento Deus fez matéria prima de salvação.

Infelizmente, a maioria dos homens, mesmo os muito católicos, têm uma visão distorcida do trabalho, e, por isso, fazem de tudo para se verem livres dele. É um engano.

Jesus e o trabalho

Jesus trabalhou até os trinta anos naquela carpintaria humilde e santa de Nazaré. E para nos mostrar que todo trabalho é santo, qualquer que seja, do lixeiro ou do Papa, do pedreiro ou do médico, Ele assumiu o trabalho mais humilde, o de carpinteiro, que era desprezado no seu tempo.

São Bento de Nurcia, tomou como lema da vida dos seus mosteiros: (Reza e Trabalha!). Ao criar o homem e a mulher, Deus os colocou no seu jardim; era o sinal da familiaridade com Deus. E lá os colocou “para o cultivar e guardar” (Gn 2,15); logo, “”o trabalho não é uma penalidade, mas sim a colaboração do homem e da mulher com Deus no aperfeiçoamento da criação visível”” (Catecismo da Igreja Católica 378).

Falando da vida oculta de Jesus, na família de Nazaré, o Papa Paulo VI dizia: Uma lição de trabalho. Nazaré, ó casa do “Filho do Carpinteiro”, é aqui que gostaríamos de compreender e celebrar a lei severa e redentora do trabalho humano…” (05/01/1964). Deus ao criar o homem e a mulher lhes ordenou: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28). Este mandamento de Deus, de “submeter” a terra, o homem cumpre pelo trabalho de suas mãos e de sua inteligência.

Ensina o Catecismo que: “”O trabalho é, pois, um dever: “Quem não quer trabalhar, também não há de comer” (2Tessalonicenses 3,10). O trabalho honra os dons do Criador e os talentos recebidos. Suportando a pena do trabalho unido a Jesus, o artesão de Nazaré e o crucificado do Calvário, o homem colabora de certa maneira com o Filho de Deus na sua obra redentora. Mostra-se discípulo de Cristo carregando a cruz cada dia, na atividade que está chamado a realizar. O Trabalho pode ser um meio de santificação e uma animação das realidades terrestres no Espírito de Cristo”” (CIC 2427).

Sem o trabalho do homem não existem o pão e o vinho que, na mesa eucarística, se transformam no Corpo e no Sangue de Cristo. Sem o trabalho do homem, não teríamos o pão de cada dia na mesa, a roupa, a casa, o transporte, o remédio, a cultura, etc.

O homem e o trabalho

O Fundador da “Opus Dei”, São José Escrivá, dizia: “enquanto houver homens sobre a terra; por muito que se alterem as técnicas de produção, haverá sempre um trabalho humano que os homens poderão oferecer a Deus, que poderão santificar”. O Concilio Vaticano II disse que: “É específico dos leigos, pela sua própria vocação, procurar o Reino de Deus exercendo as funções temporais e ordenando-as segundo Deus… A eles, portanto, cabe de maneira especial iluminar e ordenar de tal modo todas as coisas temporais, às quais estão intimamente unidos, que elas continuamente se façam e cresçam segundo Cristo e contribuam para louvor do Criador e Redentor”( LG, 31).

Para nós leigos, portanto, o caminho normal, ordinário, de santificação e de apostolado é o trabalho. Os primeiros cristãos não se afastaram do mundo para viverem o Evangelho; mas continuavam a viver no meio da sociedade.

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Santificar o trabalho é dar glória a Deus por meio dele. São Paulo disse aos coríntios: “Quer comais ou bebais ou façais qualquer outra coisa, façais tudo para a glória de Deus” (1Cor 10,31). Se até o simples comer e beber devem dar glória a Deus, quanto mais o trabalho!
Aos colossenses São Paulo explica mais claro ainda:

“Tudo quanto fizerdes, por palavra ou por obra, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” (Col 3,17). “Tudo o que fizerdes, fazei-o de bom coração, como para o Senhor e não para os homens. Sabeis que recebereis como recompensa a herança das mãos do Senhor. Servi ao Senhor Jesus Cristo” (Col 3,13).

O trabalho do homem em Deus

Tudo o que fazemos deve ser feito “para o Senhor”. Não importa o que seja, se é grande ou pequeno, deve ser feito tendo o Senhor como o “Patrão”.

Se você é lavadeira, então lave cada camisa ou cada calça, como se o próprio Jesus fosse vesti-las. Se você cozinha, faça a comida como se o Senhor fosse sentar-se à mesa daqui a pouco, para comer essa comida. Se você é professor, dê a sua aula como se Jesus fosse um aluno que quer aprender. Se você é um médico, atenda cada paciente como se o próprio Jesus fosse o doente. É isso que São Paulo quer nos ensinar quando diz que “tudo deve ser feito de bom coração, como para o Senhor, e não para os homens”. É claro que com essa “nova ótica”, faremos o trabalho da melhor maneira possível, com todo o talento, cuidado, esmero, dedicação, competência, honestidade, pontualidade… perfeição, porque eu o faço para o “meu Senhor”. Isto santifica.

Quando trabalhamos assim, em casa ou na rua, toda a vida muda de sentido, e toda ela se torna perfeitamente sagrada, pois é vivida plenamente para Deus. É importante também notar o que São Paulo diz a seguir: “Sabeis que recebereis como recompensa a herança das mãos do Senhor”.

Isto mostra que cada minuto do nosso labor aqui na terra, vivido por amor a Deus, com “reta intenção” de agradá-lo, se transforma em semente de eternidade. Portanto, o trabalho só será maravilhoso aos nossos olhos quando adquirirmos essa nova concepção da sua grandeza. Então não trabalharemos apenas por causa do salário a receber no final do mês, ou porque o chefe está vigiando, ou porque ele me dará uma posição social de destaque, ou ainda porque eu sou obrigado a fazê-lo. Não. Trabalharemos para servir a Jesus, servindo os irmãos. O Apóstolo conclui dizendo: “Servi a Jesus Cristo”.

Pelo trabalho de cada um, conscientemente realizado, como explicado acima, podemos restituir ao mundo a beleza, a bondade e a ordem, com que Deus o criou. Assim, o trabalho fica sendo “a marca do homem na criação”, tornando-se assim um grande colaborador de Deus. Daí a altíssima dignidade do trabalho humano aos olhos de Deus.


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino