O que é o mal?

Não há como fugir desta pergunta: Sendo Deus Amor, como pode haver o mal, sofrimento, morte, pecado?

De onde provém o mal?

A princípio temos que entender o mal como um fato: ‘seria inútil tentar ignorá-lo ou dar a esta realidade obscura outros nomes’ (catecismo 386).

O mal provém de Deus?

Não! Ensina D. Estevão, osb, em seu texto ‘Senhor onde Estás?’:

‘Deus não pode ser o Autor dos males que afligem os homens, pois, por definição, Deus é o Santo e o Perfeito. O mal só pode provir das criaturas limitadas.’

De fato, os males são conseqüência do mal uso de nossa liberdade.

A liberdade é uma característica pertencente a Deus, e nós, como somos a sua imagem e semelhança, também somos dotados de total liberdade em nossas ações.
Em nome de nossa liberdade, Deus permite o mal que provém das próprias criaturas.
Entretanto, continua D. Estevão,osb:

‘O papel nobre de Deus, no caso, será o de fazer que os próprios males das criaturas contribuam para o bem das mesmas.’

Conclui o teólogo com ‘chave de ouro’:

‘O cristão não se abate, mas sabe que nada lhe acontece fora do sábio plano da Providência, que nunca permitiria o mal se não tivesse recursos para tirar do mal bens ainda maiores.’

Santo Agostinho já afirmava que o mal por si só não é nada mais que a privação de um bem:

‘Donde se segue que o mal não é senão a privação de um bem, e que o mal como tal não existe. Tudo que existe é bom. Logo, o que não é bom isto é: o mal não existe.’ (…) ‘De sorte que o mal nada é de positivo, mas uma privação ou destituição.’
E continua o mestre do ocidente:

‘Por todas estas razões, o mal não pode originar-se de Deus. Sendo o mal um não-ser, é impossível que alguém lhe haja dado o ser.’

‘Deus é o criador de todas as coisas, e tudo o que Ele criou é bom.’

Desta forma Agostinho soluciona o problema: ‘o mal, como o pecado, não é uma substância, mas sim uma lacuna, um defeito, uma ausência de algo que deveria estar presente.’ [fonte: História da Filosofia Cristã, autores: Philotheus e Gilson, pag. 147]
Seguindo a mesma linha de pensamento São Tomas de Aquino afirma:

‘A essência do mal consiste na deficiência de um determinado grau de perfeição, e por conseguinte, na privação de um determinado bem.’

‘O mal é uma privação. Não é nenhuma realidade.’

‘O termo mal só pode significar a ausência do bem e do ser; pois o ser, enquanto ser, é um bem.’

‘Deus não é causa do mal.’ [fonte: História da Filosofia Cristã, pag. 466-467]

Essa nossa análise filosófica acerca do mal não nos pode levar a uma condição passiva, cômoda frente às misérias do mundo. Ao invés da comodidade, devemos agir com mais eficácia e confiança sabendo que tudo que tem um ‘ser’ vem de Deus, e tudo o que vem de Deus é bom.

Quem vive o evangelho está na vontade de Deus-Amor, ‘…nem um só cabelo de vossa cabeça se perderá.’ (Lc 21,17-18), pois tudo concorre para o bem para aqueles que amam a Deus.

É importante observar que mesmo não tendo o mal uma substância positiva, ou seja não é uma realidade em si mesma, mas a privação de outra realidade: o bem; o cristão deve ser essa substância que completa ‘esta lacuna’ que origina o mal. Devemos completar os espaços (de ausência do bem) a tal ponto não ter mais oportunidade do mal se manifestar. Como a luz que ilumina a escuridão.