O homem, ser religioso

Sustentamos que o ser humano é por sua natureza um ser religioso, ordenado a transcender-se a si mesmo. Como tal, o ateísmo não é um fenômeno humano conatural ou inato. Longe de ser o próprio homem a norma última dos valores, ele só pode realizar-se quando passa além de si mesmo, segundo a conhecida frase de Pascal: “O homem ultrapassa infinitamente o homem”.

De fato, só Deus responde as aspirações profundíssimas do coração humano, que nunca se sacia plenamente com os alimentos terrestres. Impulsionado sem cessar pelo Espírito de Deus, jamais seremos de todo indiferentes aos problemas da religião. Sempre desejamos conhecer o significado de nossa vida, de nossa atividade e sobretudo de nossa morte. Faltando Deus e a esperança da vida eterna, a dignidade do homem é prejudicada de maneira muito grave; e os enigmas da vida e da morte, da culpa e da dor, continuarão sem solução. E então somos não poucas vezes lançados ao desespero.

Na verdade todo homem permanece em si e para si mesmo um problema insolúvel, obscuramente percebido. E em algumas ocasiões, sobretudo nos mais importantes acontecimentos da vida, ninguém consegue fugir de todo a estas perguntas. Sem o Criador, a criatura como que desvanece e pelo esquecimento de Deus, ela se torna obscura para si mesma.

A renovação trazida pelo Concílio Vaticano II (1962-1965) foi uma inesperada primavera de vida cristã. A fase difícil surgida depois do Concílio foi de fato uma crise positiva de renovação, de purificação e também de crescimento.

Não podemos ignorar que o fator religioso continua também em nossos dias uma das grandes realidades humanas. Os teóricos do cristianismo a-religioso ou do mal chamado “ateísmo cristão” são excessivamente pessimistas na descrição da situação religiosa atual. Falam e escrevem como se já não houvesse mais nem religião nem fé em Deus. Na realidade estamos vivendo em uma época de surpreendente e sincera renovação espiritual e religiosa, sobretudo depois da ruidosa implosão do comunismo ateu. Pode-se até constatar que, comparada com o passado, a Igreja vive hoje excepcionais tempos de fidelidade e autenticidade.

Frei Boaventura Kloppenburg, O.F.M.
O autor é doutor em teologia e bispo emérito de Novo Hamburgo