O Brasil ansiou por ter um santo

No próximo domingo, dia 9 de junho, aqui na cidade de São Paulo, a nossa Arquidiocese celebrará uma solene missa de Ação de Graças pela canonização de Madre Paulina, às 9h, na igreja da Imaculada Conceição, junto ao seminário, no bairro Ipiranga.

Há tanto tempo, o Brasil ansiou por ter um de seus filhos ou filhas elevado pela Igreja às honras dos altares. Lembro-me, desde o tempo de seminário menor, como achava estranho não existir nenhum santo brasileiro. Cheguei a conhecer então, como todo estudante do nosso país, nas aulas de História do Brasil, as heróicas figuras dos primeiros missionários que trouxeram a fé católica ao Brasil, a partir do momento em que os portugueses aportaram no litoral brasileiro, em 1500. Entre esses missionários, destacava-se o Padre José de Anchieta. Mas, com estranheza, nós, seminaristas adolescentes, recebíamos a informação de que ele não era reconhecido como um santo pela Igreja. E perguntávamos: Por que não existe santo brasileiro? Será que os brasileiros são menos católicos do que outros povos? Só mais tarde, aos poucos, fui entendendo que há, sim, santos e santas brasileiros, mas nunca foram assim reconhecidos pela Igreja, porque não houve suficiente empenho em levar suas causas a Roma para serem reconhecidos como santos e serem canonizados.

Agora, com o pontificado de João Paulo II, essa situação modificou-se. Ele mesmo, no horizonte da passagem do milênio, estimulou as dioceses do mundo inteiro para que verificassem em suas comunidades e tomassem conhecimento de pessoas falecidas, que viveram fielmente o Evangelho em sua vida terrena e poderiam ser apresentadas ao mundo de hoje como modelos de discípulos de Jesus Cristo e que, portanto, se iniciasse seu processo de canonização. A Igreja no Brasil atendeu este apelo e começou a preparar e enviar muitos processos de canonização a Roma.

De fato, o Papa João Paulo IIjá beatificou diversos brasileiros e brasileiras: beato Padre José de Anchieta, beato Padre Frei Antônio de Santana Galvão (o nosso Frei Galvão), os beatos Proto-Mártires Brasileiros (homens, mulheres, jovens e crianças do Estado do Rio Grande do Norte) e a beata Paulina do Coração Agonizante de Jesus (nossa Madre Paulina), que no Dia de Pentecostes foi canonizada, ou seja, definitivamente declarada santa pela Igreja.

Na verdade, Santa Paulina nasceu na Itália, na região de Trento, mas veio ao Brasil como criança com sua família, que foi morar no Estado de Santa Catarina, na localidade de Vigolo, de Nova Trento, em 1875. Ali nossa santa cresceu e começou a buscar o caminho da santidade, dedicando-se à catequese e depois, com uma companheira, ao cuidado de uma senhora cancerosa, o que foi, em 1895, o início da fundação, que depois se chamaria a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Santa Paulina, Superiora Geral à frente da fundação, trouxe-a para a cidade de São Paulo, no bairro Ipiranga, em 1903. Aqui ela se dedicou aos idosos ex-escravos e aos órfãos descendentes de escravos. Em obediência ao arcebispo da época, deixou São Paulo e foi trabalhar por vários anos em Bragança Paulista. Retornando mais tarde a São Paulo, aqui veio a falecer em 1942 e aqui está sepultada. Morreu dizendo: “Seja feita a vontade de Deus”. Por ter vivido praticamente toda a sua vida aqui no Brasil, é com razão que a consideramos “brasileira”. E assim, a primeira santa “brasileira”.

A congregação religiosa, por ela fundada, conta com cerca de 600 religiosas, espalhadas em 22 Estados brasileiros e diversos países pelo mundo afora. Dedica-se aos pobres, aos doentes, à educação de crianças e adolescentes, bem como à ação pastoral nas dioceses e paróquias.

Por tudo isto, é justo que o povo brasileiro, em especial os católicos, se alegrem e louvem a Deus por esta santa. E que ela, lá do céu, interceda pelo Brasil, pela Igreja no Brasil e, em especial, pelos pobres e desamparados! Que seu exemplo, lembre a todos nós que a santidade é vocação de todos e de cada um dos cristãos e cristãs e que esta santidade tem como ingrediente necessário a caridade e a solidariedade para com os pobres! Santa Paulina, rogai por nós!

Dom Cláudio Cardeal Hummes
Arcebispo de São Paulo