Não é a mediocridade, e sim a santidade

Num dia desses, em que tive uma manhã de domingo com menos compromissos, resolvi
passar rapidamente os sucessivos canais de televisão, para estar informado do que acontecia em tal horário. Por coincidência ou não, eram vários os programas com a celebração de santas missas, de culto e palestras católicos e outros de irmãos protestantes. ‘Nada mal!’, conclui. Ficava assim comprovada, mais uma vez, que boa parte do povo brasileiro não é avesso a Deus, à fé, à religião. A dificuldade, porém, consiste em saber qual é a Igreja verdadeira de Jesus.

De outro lado, na parte que toca aos católicos, podemos nos interrogar se não é a nossa falta de fé, digamos claramente, nossa mediocridade, nossa tibieza em vivermos aquilo em que acreditamos, uma das causas de alguns se afastarem da verdadeira fé. E isto se aplica, conforme acaba de lamentar o Santo Padre, no Encontro da Juventude, no Canadá, também a eclesiásticos, que escandalizaram a Igreja e o mundo, recentemente.

Partindo, pois, de mim, bispo, e de nós, padres, como seriam diferentes o Brasil e o mundo, se nós fôssemos como Jesus quer e como João Paulo II repropôs aos jovens: ‘Sois o sal da terra… Sois a luz do mundo‘ (Mt 5,13.14). Ou ainda, se Cristo disse para todos os seus seguidores: ‘Deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito‘ (Mt 5,43), quanto mais isto se aplicará aos ministros do altar!

Nós, católicos, somos felizes, pois, no início deste novo milênio, o Espírito Santo, através de João XXIII, Paulo VI e, agora, João Paulo II, nos anuncia o desejo perene de Deus para cada um de seus filhos e filhas: a santidade! O mundo está cansado de palavras. Precisa de testemunhas vivas de Cristo e de seu Evangelho. E o atual Papa tem beatificado e canonizado inúmeros homens e mulheres, crianças adolescentes e adultos, para nos servirem de modelo.

O que nos falta então? É colocar em prática a nossa fé. Qual a razão pela qual alguns movimentos, algumas congregações, institutos de vida consagrada e sociedades de vida apostólica, masculinos e femininos, atraem tantos jovens e outros vão, aos poucos, definhando? Por que algumas dioceses, no Brasil e no estrangeiro, têm tantas vocações sacerdotais e outras não?

A Igreja de Cristo possui três verdades características que só existem nela, ao mesmo tempo: a Eucaristia, Maria e o Papa. Não basta nos orgulharmos delas. O importante é perguntarmo-nos: Como vivenciamos a Eucaristia? A resposta é: Fracamente! A maioria dos católicos não vai à missa nem aos domingos! E dos que vão, quantos são os que comungam e bem preparados? Há religiosas que vivem sem a missa diária e até sem a comunhão eucarística. Sabe-se de padres que não celebram a missa todos os dias, e talvez nem ao menos comunguem, por ser dia de folga! Há comunidades religiosas com fraca vida comunitária, apostólica e de oração; não falta, porém, o tempo para acompanhar a televisão e até as novelas.

Os jovens correm atrás daqueles que vivem com seriedade a pobreza, a obediência ao Papa e aos superiores, a castidade sem compromisso com o espírito mundano, a devoção a Maria, que leva a imitar suas virtudes.

E o que dizer de nossas famílias, das concessões que fazem ao espírito do mundo, ao ateísmo prático, à falta de educação religiosa dos filhos, à não abertura para a vida e a geração da prole, à mentalidade materialista? Que tipo de cidadãos e de cristãos serão tais filhos e netos?
Diante desse quadro, o que fazer? Desanimar? Jamais! Sempre que lemos a vida de santos e de santas, é afirmado que a sociedade de seu tempo e certos setores da Igreja precisavam de uma renovação. Ele não cruzaram os braços, dispuseram-se a fazer algo, a acender, pelo menos, um palito de fósforo, uma pequena luz. Foram luz, no meio das trevas. Tal luz, depois, foi colocada por Deus em lugar bem alto, para que iluminasse a todos.

Grande é a nossa responsabilidade de bispos, padres, consagrados e de fiéis leigos. O Apocalipse nos adverte: ‘Conheço tua conduta: não és frio nem quente… porque és morno, nem frio nem quente, estou para te vomitar de minha boca’ (3,15-16). Que isto não nos aconteça, mas que tenhamos sempre fome e sede de justiça e de santidade, pois cremos nesta palavra que foi dirigida a todos nós: ‘Que o sedento venha, e quem o deseja receba gratuitamente água da vida‘ (Ap 22,17). [03 de agosto de 2002]

+Dom Carlos Alberto Etchandy Gimeno Navarro
Arcebispo Metropolitano de Niterói