Mensagem da CNBB para o dia 1º de maio

Neste 1º de Maio de 2005, a Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem a alegria de se dirigir a todos os trabalhadores e trabalhadoras do país, entrar em suas casas, saudar suas famílias e marcar presença em seus locais de trabalho.

Como pastores, queremos chegar a todos com uma palavra amiga e uma mensagem de esperança e solidariedade. O desejo é que nossa voz alcance todos os recantos do mundo do trabalho, em especial os porões da sociedade onde a dignidade da pessoa encontra-se mais aviltada e ameaçada.

Temos consciência que o desemprego e o subemprego persistem como uma das chagas mais vivas em todo o território nacional. Os mecanismos de exploração na macro-economia se sofisticaram, atingindo diretamente o trabalhador. Sabemos que está em curso um processo de flexibilização das leis trabalhistas e de terceirização, o qual, quando realizado à revelia das legítimas organizações trabalhistas, corre o sério risco de tornar ainda mais precárias as relações e condições de trabalho. E sabemos, ainda, do grave escândalo do trabalho escravo e infantil, como também da discriminação que pesa sobre as mulheres e as comunidades afro-descendentes, seja quanto aos critérios de seleção, seja quanto à definição dos salários. Não ignoramos, por fim, o êxodo do campo para a cidade, com suas conseqüências e implicações; o crescimento da emigração de brasileiros para o exterior, ao lado do tráfico de seres humanos para fins de exploração sexual; e os clamores dos povos indígenas pela reconquista de seu solo pátrio.

Tudo isso denunciamos como chagas profundamente dolorosas e reveladoras de um perigoso divórcio entre o trabalho, o emprego e a cidadania. Como afirmou o Papa João Paulo II “o trabalho é a chave de toda questão social, provavelmente a chave essencial; daí o trabalho humano assumir uma importância fundamental e decisiva na questão social”. Graves injustiças e desigualdades sociais viciam pela raiz o crescimento econômico, e criam condições para o recrudescimento da violência urbana e rural. Como repetidas vezes temos afirmado, “a democracia não se realiza, de fato, quando o sistema econômico exclui parcelas da população dos meios necessários a uma vida digna: acesso ao trabalho com justa remuneração, à moradia, à terra, à educação, à organização sindical, à participação dos lucros e na gestão da empresa”.

Por isso, queremos fazer nossos, neste momento, os sentimentos de Jesus Cristo ao anunciar a Boa Nova do Evangelho. O evangelista Mateus diz que Jesus “percorria todas as cidades e aldeias da região”, encontrava pelos caminhos “as multidões cansadas e abatidas”, e diante delas “sentia compaixão” (cf. Mt 9,35-38).

Queremos fazer nossa, igualmente, a esperança do Papa Bento XVI ao assumir o seu pontificado com o coração aberto e os braços estendidos para um horizonte de justiça e paz. A compaixão de Jesus e a atitude do Santo Padre são faróis que orientam nossa solicitude pastoral.

As mãos dos trabalhadores e trabalhadoras cultivam a terra, erguem edifícios, preparam o alimento, fabricam bens, curam, constroem, limpam, ensinam, educam, acariciam… Enfim, convertem a matéria bruta da natureza em bens de uso, que servem a uma vida de qualidade crescente. “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em plenitude”, diz Jesus no Evangelho.

As mesmas mãos que são capazes de transformar a natureza e a história indicam o caminho da transformação de nós mesmos e, por outro lado, nos ajudam a transformar as relações interpessoais, comunitárias e sócio-econômicas. Nas mãos dos trabalhadores e trabalhadoras está a possibilidade de construir o sonho de uma sociedade justa, solidária e fraterna, sinal do Reino definitivo.

Assim, no Dia do Trabalhador/a, reverenciando os que deram sua vida pela defesa das causas trabalhistas, queremos lembrar as conquistas conseguidas em tantos anos de luta. Entre elas fazemos especial menção à demarcação da terra indígena Raposa Terra do Sol. O gesto do governo, com o qual nos congratulamos, só foi possível após uma difícil e longa luta dos índios e seus aliados, sustentada pela esperança dos que crêem na vitória da verdade e da justiça.

Tomando emprestadas as mãos dos trabalhadores/as queremos estender nossa benção a todo o povo brasileiro. Pela intercessão de Maria e de São José Operário, que Deus faça resplandecer sua face e oriente os passos de todos aqueles que vivem do suor do seu trabalho, ou daqueles que, impossibilitados de trabalhar, contam com a solidariedade social.

Cardeal Geraldo Majella Agnelo
Arcebispo de São Salvador da Bahia e Presidente da CNBB

Dom Antônio Celso de Queirós
Bispo de Catanduva-SP e Vice-Presidente da CNBB

Dom Odilo Pedro Scherer
Bispo Auxiliar de São Paulo e Secretário-Geral da CNBB

Brasília (DF), 29 de abril de 2005