Mensagem angélica

Seria o mesmo anjo que, na primeira aparição, a si próprio se denomina Anjo da Paz; na segunda, Anjo de Portugal; e na terceira, se manifesta como Anjo da Reparação Eucarística? Lúcia responde textualmente: “Parece-me ser sempre o mesmo” e declara não lhe ter notado diferença alguma entre a primeira e a segunda aparição. Por isso, conclui o Rev. Dr. Sebastião Martins dos Reis: “O Anjo das presentes aparições é certamente o mesmo, pois os videntes tiveram a sensação e a convicção de que era idêntico. De fato, referem-se invariavelmente não a um anjo ou a outro anjo, mas ao mesmo anjo, que é sempre o de Portugal”.

As Aparições do Anjo em Fátima vêm-nos recordar algumas verdades da nossa fé.
1. A primeira é a existência dos Anjos. Desde o Concilio Ecumênico de Nicéia, no ano de 325, até ao Concílio Vaticano II, em 1965, sempre a Igreja propôs ou supôs, como verdade de fé, a existência dos Anjos. São do Concílio IV de Latrão (Denz 428) estas solenes palavras repetidas pelo Concílio I do Vaticano (Denz 1730): “Deus, simultaneamente, desde o princípio do tempo, criou do nada, as duas criaturas, a espiritual e a corporal, isto é, a angélica e a mundana”. O recente Concílio Vaticano II a eles se refere quatro vezes (LG 49, 50, 66, 69).

2. Anjos das nações. Se cada pessoa tem o seu anjo da guarda, como nos ensina a Igreja e venera a piedade cristã, segundo as Palavras de Jesus (Mt 18,10), também as nações gozam de igual privilégio (Dn 10,13.21;12,1). Daniel afirma expressamente ser São Miguel o Anjo do povo eleito, como também tinham o seu Anjo as nações da Pérsia e da Grécia (Dn 10,13.20). Sabemos que o Anjo que apareceu em Fátima é aquele a quem está confiado Portugal, como ele próprio declara: “Atraí assim sobre a vossa Pátria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal”.

Portugal, a única nação no mundo que desde o princípio do século XVI (6.6.1504) celebrava a festa Litúrgica do seu Anjo Custódio, viu premiada esta sua devoção com a aparição daquele Ente Celestial que vela pelo seu bem. Recomenda oração, reparação e sacrifício para atrair a paz para a nação que lhe está confiada.

3. A primeira impressão que recebemos no contato com o mundo angélico na Bíblia, é o respeito, submissão e veneração dos Anjos perante a Majestade infinita de Deus. “Todos os Anjos… lemos no livro do Apocalipse, prostraram-se diante do trono e adoraram a Deus” (Apoc. 7,11).

Em Fátima, esta atitude reverencial aparece igualmente. Na primeira aparição o Anjo “ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão” fazendo repetir três vezes aos Pastorinhos, atos de fé, esperança e caridade. Na terceira visita ajoelhou-se novamente e, com o rosto em terra, proferiu um ato de desagravo arraigadamente teológico, dirigido à Santíssima Trindade, o qual começa com estas palavras: “Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, adoro-vos profundamente”.

4. Palavras. Os termos usados pelo Anjo, estão em perfeita consonância com a Bíblia. Setenta e cinco são as vezes que o texto sagrado designa Deus com a palavra Altíssimo (69 no Antigo Testamento e 6 no Novo Testamento). Lembremos apenas algumas passagens do Evangelho. O Arcanjo S. Gabriel diz a Maria: “Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo… A virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra” (Lc 1,32-35). Referindo-se a seu filho, o futuro Precursor, S. João Baptista, diz seu pai, o velho Zacarias: “E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo.” E o Anjo mau de Gerasa “dando gritos e em voz alta” caiu aos pés de Jesus exclamando: “Que há entre mim e ti Jesus, Filho de Deus Altíssimo?” (Lc 6,28).

5. Ao ouvirmos o Anjo na sua primeira aparição sossegar os Pastorinhos: “Não temais”, parece-nos escutar S. Gabriel dizendo no Templo de Jerusalém ao Pai do futuro S. João Batista: “Não temas, Zacarias” (Lc 1,13) ou ao dirigir-se a Nossa Senhora na humilde casa de Nazaré: “Não temas, Maria” (Lc 1,30). Esse mesmo ou outro mensageiro celeste acalmou os pastores de Belém no dia de Natal com esta recomendação: “Não tenhais medo” (Lc 2,10).

6. As duas orações ensinadas pelo Mensageiro Celeste, achamo-las tão belas e perfeitas que nos parecem não poderem ter origem cá na terra. Adiante, comentá-las-emos.

Os Pedidos do Anjo

Oração, Sacrifício, Eucaristia.
Na sua primeira visita pede orações e ensina uma bela súplica: “singela na sua forma e riquíssima de conteúdo… Não haverá teólogo que, se lhe presta atenção, não a admire. Na simplicidade da expressão perfeitamente compreensível a qualquer criança da doutrina, os atos das mais excelentes virtudes cristãs: das virtudes teologais, as primeiras de todas e da rainha das virtudes morais, a religião… tudo junto, na oração pelos que não crêem… com o exercício do desagravo”.

Garante o Anjo: “Os Corações de Jesus e de Maria estão atentos à voz das vossas súplicas”. Tal recomendação é o eco das promessas do Senhor, tantas vezes repetidas no Evangelho, comprometendo-se a atender sempre as nossas orações: “Pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e abrir-se-vos-ᔠ(Mt 7,7).

À oração que só é pedida nesta Aparição, acrescenta o Anjo, na sua segunda visita o pedido dos sacrifícios: “Orai! Orai muito! Oferecei constantemente ao Altíssimo, orações e sacrifícios… De tudo que puderdes oferecei um sacrifício”.

Reparemos na insistência desta mensagem: Recomenda o Anjo que se reze muito e constantemente; contrariando as tendências do mundo atual, cujo espírito é oração pouca e rápida. Para quê a oração e o sacrifício? “Em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores”. Se a guerra é, como tantas vezes nos ensina a Bíblia, o castigo merecido pelos nossos pecados (Dt 28,47ss; 2 Cron 12,5ss; 24,24; Jz 3,8; 4,1-3; 6,1; 10,6-9; 13,1; Is 5,25ss; Jer 5,15ss; Mac 13,7), a oração e a penitência são o meio de aplacar a Deus e obter a paz: “Atraí assim sobre a vossa Pátria a paz” – recomenda o Anjo.

Na terceira visita, traz o Anjo às três crianças “o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos” e ensina-lhes um belíssimo ato de desagravo que será comentado no capítulo dedicado à Eucaristia e que com eles, repete seis vezes, três antes e três depois da sagrada comunhão.