Maria e o valor da mulher!

A doutrina Mariana, amplamente desenvolvida no nosso século sob o aspecto teológico e espiritual, assumiu recentemente nova importância sob o aspecto sociológico e pastoral, também para a melhor compreensão do papel da mulher na comunidade cristã e na sociedade, como emerge de não poucas intervenções significativas do Magistério.

São conhecidas as palavras da mensagem que, na conclusão do Concílio Vaticano II, no dia 8 de Dezembro de 1965, os Padres dirigiram às mulheres do mundo inteiro: “Mas a hora vem, a hora chegou, em que a vocação da mulher se realiza em plenitude, a hora em que a mulher adquire na sociedade uma influência, um alcance, um poder jamais conseguidos até aqui” (Ench.Vat. 1,307)

Recordei essas afirmações, alguns anos mais tarde, na Encíclica Mulieris dignitate: “A dignidade da mulher e a sua vocação – objeto constante de reflexão humana e crist㠖 têm assumido, em anos recentes, um relevo todo especial” (n.1).

O Papel e a dignidade da mulher foram particularmente reivindicados, neste século, pelo movimento feminista, que quis reagir, às vezes de formas vibrantes, contra aquilo que, no passado e no presente, dificultou a valorização e o pleno desenvolvimento da personalidade feminina, bem como a sua participação nas múltiplas manifestações da vida social e política.

Trata-se de instâncias, em grande parte legítimas, que contribuíram para uma visão mais equilibrada da questão feminina no mundo contemporâneo. Para com essas instâncias a Igreja, sobretudo em época recente, demonstrou singular atenção, encorajada também pelo fato que a figura de Maria, se for tida à luz da sua vicissitude evangélica, constitui uma válida resposta ao desejo de emancipação da mulher: Maria é a única pessoa humana que realiza de maneira eminente o projeto de amor divino para com a humanidade.

Esse projeto manifesta-se já no Antigo Testamento, com a narração da criação, que apresenta o primeiro casal criado à imagem do próprio Deus: “Deus criou o homem à Sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher” ( Gn. 1,27). A mulher, portanto, não menos do que o homem, traz em si a semelhança com Deus. Vale também para ela, desde o seu aparecimento sobre a terra como resultado da obra divina o apreço: “Deus, vendo a Sua obra, considerou-a muito boa” (Gn.1,31). Segundo essa perspectiva, a diversidade entre o homem e a mulher não implica a inferioridade, nem a desigualdade dela, mas constitui um elemento de novidade que enriquece o plano divino, manifestando-se como coisa “muito boa”.

Contudo, o intento divino vai para além daquilo que revela o Livro do Gênesis. Em Maria, com efeito, Deus fez surgir uma personalidade feminina que supera a condição ordinária da mulher, tal como emerge na criação de Eva. A excelência única de Maria no mundo da graça e a sua perfeição são frutos da particular benevolência divina, que quer elevar todos, homens e mulheres, à perfeição moral e santidade próprias dos filhos adotivos de Deus. Maria é a “bendita entre todas as mulheres”; todavia, na sua sublime dignidade no plano divino participam, de algum modo, todas as mulheres.

O dom singular feito à Mãe do Senhor não só testemunha aquilo a que poderíamos chamar o respeito de Deus pela mulher, mas evidencia, além disso, a consideração profunda que existe nos desígnios divinos, devido ao seu papel insubstituível na história da humanidade.

As mulheres têm necessidade de descobrir esta estima divina, para tomarem cada vez mais consciência da sua elevada dignidade. A situação histórica e social que provocou a reação do feminismo, era caracterizada por uma falta de apreço pelo valor da mulher, constrangida com freqüência a um papel de segundo plano ou até mesmo marginal. Isto não lhe permitiu exprimir plenamente as riquezas de inteligência e de sabedoria que a feminilidade contém. No decorrer da história, de fato, as mulheres não raro sofreram de escassa consideração no que concerne às suas capacidades e, por vezes, até de desprezo e de injustos preconceitos. Trata-se de uma situação que, não obstante modificações significativas, permanece infelizmente também hoje em não poucas nações e em não poucos ambientes do mundo.

A figura de Maria manifesta tal estima de Deus pela mulher, que priva de fundamento teórico qualquer forma de discriminação.

A obra admirável, feita pelo Criador em Maria, oferece aos homens e às mulheres a possibilidade de descobrirem dimensões, antes não compreendidas suficiente, da sua condição. Olhando para a Mãe do Senhor, as mulheres poderão melhor compreender a própria dignidade e a grandeza da sua missão. Mas também os homens, à luz da Virgem Mãe, poderão ter uma visão mais completa e equilibrada da sua identidade, da família e da sociedade.

A atenta consideração da figura de Maria, tal como no-la apresenta a Sagrada Escritura lida na fé pela Igreja, é ainda mais necessária perante a desvalorização que, por vezes, lhe foi atribuída por algumas correntes feministas. A Virgem de Nazaré foi apresentada, nalguns casos, como o símbolo da personalidade feminina encerrada num horizonte doméstico restrito e augusto.

Maria, ao contrário, constitui o modelo do pleno desenvolvimento da vocação da mulher, tendo exercido, não obstante os limites objetivos postos pela sua condição social, uma influência imensa no destino da humanidade e na transformação da sociedade.

A doutrina Mariana, além disso, pode pôr em evidência os múltiplos modos com que a vida da graça promove a beleza espiritual da mulher.

Diante da vergonhosa exploração de quem às vezes torna a mulher objeto sem dignidade, destinado à satisfação de paixões torpes, Maria reafirma o sentido sublime da beleza feminina, dom e reflexo da beleza de Deus.

É verdade que a perfeição da mulher, tal como se realizou plenamente em Maria, pode parecer à primeira vista um caso excepcional, sem possibilidade de imitação, um modelo muito alto para ser imitado. De fato, a santidade singular d’Aquela que, desde o primeiro instante, recebeu o privilégio da concepção virginal, foi considerada às vezes como sinal de uma distância intransponível.

Mas, ao contrário, a excelsa santidade de Maria, longe de ser um obstáculo na via do seguimento do Senhor, é destinada, no desígnio divino, a encorajar todos os cristãos a abrirem-se ao poder santificador da graça de Deus, a Quem nada é impossível. Em Maria, portanto, todos são chamados a uma confiança total na onipotência divina, que transforma os corações, guiando-os para uma disponibilidade plena ao seu providencial plano de amor.

Fonte: “58 Catequese do Papa sobre Nossa Senhora”