FÉ E POLÍTICA

O período que antecede a realização das eleições 2004 caracteriza-se por uma incomum agitação. Inicia-se com a escolha dos candidatos, a busca dos votos, as promessas de soluções de problemas. O bem comum deveria ser o objetivo que orientaria toda essa movimentação, o que nem sempre acontece. A designação das pessoas ao eleitorado, em uma autêntica democracia, teria como critério o nível moral e profissional dos indivíduos, para governar ou participar da elaboração de leis que assegurem o bem-estar da coletividade. E, no entanto, o mais comum é a busca de interesses particulares, familiares ou de grupos às custas do Estado. Trata-se de uma luta desigual: os bons levam desvantagem diante dos aproveitadores, pois estes usam métodos inaceitáveis aos homens de bem, capazes de trazer o progresso à coletividade e a solução dos problemas que afligem a comunidade.

O primeiro passo a ser dado pelo católico é valorizar a política, apesar do baixo conceito que a caracteriza em nossos dias. O Concílio a denomina de “nobre arte da política”, apesar dos aproveitadores. Os casos que são levados ao conhecimento público revelam o estado a que chegamos. No entanto, há uma outra face da moeda que resgata e enobrece. A posição da Igreja é clara. Em “Gaudium et Spes”, temos a palavra do Vaticano II: “Os que são ou podem tornar-se aptos para exercer a difícil e muito nobre arte da política, preparem-se para ela; e procurem exerce-la sem pensar no interesse próprio ou em vantagens materiais” (nº 75).

No que se refere ao cidadão, serão pedidas contas pelo comparecimento e o voto segundo sua consciência cristã bem formada. O Vaticano II é claro: “Todos os cidadãos se lembrem, portanto, do direito e simultaneamente do dever que têm de fazer uso do seu voto livre em vista da promoção do bem comum. A Igreja louva e aprecia o trabalho de quantos se dedicam ao bem da nação e tomam sobre si o peso de tal cargo, a serviço dos homens” (“Gaudium et Spes”, nº 75). Nas eleições, o católico deve examinar o procedimento do candidato em relação às normas da Lei de Deus e da Igreja. Para isso, é muito útil e até constitui dever, acompanhar não só o comportamento particular do candidato, mas sua atuação política.

A CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, nos apresenta três critérios para a escolha dos candidatos para as eleições de 2004. a)- proposta para a redução da fome; b)- Moradia; c)- Direitos humanos.

Redução da Fome: Percebemos que a cada dia cresce o numero de miseráveis em nossas cidades, o evangelho de São Lucas no capítulo 9, 13 nos diz “Dai-lhes vós mesmos de comer” – esse apelo de Jesus Cristo aos Apóstolos, continua vivo entre nós. Quando vemos tantos sinais de injustiças, percebemos que em muitos casos somos co-responsáveis pela fome e pela miséria que assolam nossa nação. Devemos analisar as propostas de cada candidato, a fim de percebermos qual delas estão, de fato, contemplando medidas que possam trabalhar em favor da superação da fome.

Moradia: Não é diferente a situação das favelas nas grandes cidades e da difícil situação dos moradores de rua. Essa é uma outra triste realidade que deve ser considerada pelas frentes partidárias, a fim de que se possa estabelecer critérios de atuação em favor da redução das precárias moradias ou das condições daqueles que vivem nas ruas.

Direitos Humanos: Tomar como critério os direitos humanos que a própria constituição brasileira reza, é o mínimo que devem propor aqueles que almejam representar a população brasileira. No entanto, o que vemos é o direito particular sobressair ao direito de todos.

Cada um desses critérios apresentados pela CNBB é, na verdade – uma tentativa de se apresentar a todos cristãos – critérios na hora da escolha de seus candidatos, pois os valores do evangelho não podem ser esquecidos em um momento tão nobre como nas eleições. O cristão deve fazer política, na certeza de que a política é o instrumento capaz de mudar inúmeras estruturas político-sociais que machucam e ferem os valores da família cristã e da nação brasileira, que é a maior nação cristã do mundo.

Por fim, podemos considerar que fé e política não são elementos antagônicos, mas caminham juntos e, à medida que se entrelaçam melhor, se pode perceber a relação de Deus com o seu povo. Em diversos momentos, a Igreja procurou e procura orientar seus fiéis, para que tomem consciência de sua missão junto à sociedade, fazendo da política um tempo privilegiado da justiça e do bem comum.