Educar é conquistar o coração

“O lar é assim a primeira escola de vida cristã e uma escola de enriquecimento humano (GS,52,§ 1). É daí que se aprende a fadiga e a alegria do trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso e mesmo reiterado, e sobretudo o culto divino pela oração e oferenda de sua vida” (CIC, 1657).

“A catequese familiar precede, acompanha e enriquece as outras formas de ensinamento da fé” (CIC, 2226).

Fica claro, portanto, que a educação dos filhos, é obra da família, e por isso, sem uma família sólida na fé, a educação dos filhos poderá ficar comprometida. Portanto, a primeira preocupação dos pais deve ser criar um lar cristão, onde não haja lugar para valores não cristãos.

O Catecismo diz que:
“Os pais são os primeiros responsáveis pela educação dos filhos. Dão testemunho desta responsabilidade em primeiro lugar pela criação de um lar onde a ternura, o perdão, o respeito, a fidelidade e o serviço desinteressado são a regra. O lar é um lugar apropriado para a educação nas virtudes. Esta requer a aprendizagem da abnegação, de um reto juízo, do domínio de si, condições de toda liberdade verdadeira. Os pais ensinarão os filhos a subordinar as dimensões físicas e instintivas às dimensões interiores e espirituais” (CIC, 2223, CA, 36).

Com essas palavras a Igreja mostra qual deve ser o “conteúdo” da educação cristã: ternura, perdão, respeito, fidelidade, serviço, abnegação, reto juízo, domínio de si, fé. É evidente que para transmitir esses valores aos filhos, os pais precisam antes vivê-los. Acima de tudo é pelo bom exemplo dos pais que os filhos serão formados.

“Dar bom exemplo aos filhos é uma grave responsabilidade para os pais”, diz o Catecismo (CIC, 2223).

Quando errar perante os filhos, os pais devem ter a coragem de pedir-lhes perdão, sem medo de que esta atitude coerente possa diminuir-lhes a autoridade. Nós pais temos que ser coerentes diante dos filhos, não se apresentando perante eles como “super-homens” que não erram. Os pais também erram, e muito; portanto, só lhes resta a alternativa coerente de saber pedir perdão aos filhos, quando falharem com eles. Além do mais, esta atitude corajosa dos pais será para os filhos uma grande lição de humildade. Longe de roubar a autoridade dos pais, essa atitude os fará mais admirados e amados pelos filhos, em vista da sua honestidade diante deles.

O Catecismo, sobre isto, diz:
“Sabendo reconhecer diante dos filhos os próprios defeitos, ser-lhe-á mais fácil guiá-los e corrigi-los” (CIC, 2223).

Quando um homem erra, qualquer que seja a situação, só lhe resta uma alternativa ética: pedir perdão e reparar os danos causados pelo seu erro. Outra atitude seria orgulho e fingimento. Errar é humano, também para os pais.

Certa vez tive uma ingrata discussão com um dos nossos filhos, quando ele estava no último ano da Faculdade de Engenharia. Isto foi, infelizmente, na hora do almoço. Eu estava irritado e sem paciência, e o tratei com dureza nas palavras. Ele ficou tão ofendido que deixou o prato e saiu da mesa. Naquela hora meu coração ficou apertado… No mesmo instante me dei conta do erro que tinha cometido, e prometi a mim e a Deus: “vou pedir-lhe perdão!” À noite, quando ele regressou da Faculdade, o encontrei na cozinha fazendo o seu lanche. Fechei a porta, aproximei-me dele, passei meus braços sobre os seus ombros e lhe disse: “Filho, me perdoe, não é assim que devemos resolver os nossos problemas…” A sua resposta foi um abraço amigo, com apenas duas palavras e duas lágrimas: “obrigado pai”.

Naquele abraço dissiparam-se as trevas e voltou a paz em nossos corações, e hoje somos grandes amigos.

Não se pode adiar o pedido de perdão. É um ato de coragem e de coerência, que deve ser realizado no menor prazo possível, a fim de que o ressentimento da discórdia não tenha tempo de formar raízes em nós e nos filhos.

O Eclesiástico continua a nos ensinar:
“Aquele que dá ensinamento a seu filho será louvado por causa dele”
“O pai morre, e é como se não morresse, pois deixa depois de si um seu semelhante”(Eclo 30,2-4).

Cabe aos pais transmitir aos filhos os ensinamentos e conselhos “para que sejam salvos” (Eclo 3,2); contudo, os filhos só ouvirão os conselhos dos pais se tiverem estima e “admiração” por eles. Eis algo muito importante: o pai e a mãe têm que “conquistar” os filhos. Um filho que admira o pai, o segue e ouve os seus conselhos; caso contrário será difícil.

O nosso querido João Paulo II ensina que:
“Educar é conquistar o coração, animá-lo com alegria e satisfação em busca do bem”.

E como os pais devem conquistar os seus filhos?

Não deve ser com dinheiro, chantagens e outras artimanhas. Muitos pais erram grosseiramente nisto. Pensam que dando aos filhos tudo o que eles querem – roupas da moda, tênis de marca, programas mil, poderão conquistá-los. Não será assim; se o fosse, os pobres não teriam como educar os seus filhos.

O pai há de conquistar o filho “por aquilo que ele é”, e não por aquilo que tem e que lhe dá; isto é, o pai conquistará o filho pelo respeito que lhe dedica, pelo tempo que gasta ao seu lado, pelo consolo que lhe oferece nas horas de dificuldade, pelos passeios que faz com eles, pela ajuda dedicada naquele problema da escola, por sua honestidade pessoal e profissional, pelo bom nome que cultivou, pela dedicação à família, pelo amor e fidelidade à esposa e aos filhos, etc… O mesmo vale para a mãe.

Como é bela aquela frase do Pequeno Príncipe que diz assim:
“Foi o tempo que gastaste com tua rosa, que fez tua rosa tão importante”.

Caro pai, cara mãe, é todo o tempo, dinheiro, dedicação, carinho, atenção… que você gastar com o seu filho, que vai fazê-lo tão importante para você, e que também vai fazê-lo importante para ele.
Como poderá um filho ouvir os conselhos de um pai que não conquistou o seu respeito e admiração?

Do livro: “Família, santuário da vida”


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino