É preciso ser vigilante com os filhos

“Adula o teu filho e ele te causará medo, brinca com ele e ele te causará desgosto” (Eclo 30,9).

Adular é bajular, agradar e elogiar em excesso, colocar o filho numa posição de destaque exagerado, como se fosse o melhor do mundo, sem perceber que ele também precisa da correção.

Como a criança aprende mais por imitação do que por reflexão, o filho que é bajulado aprende a bajular, o que é péssimo para o seu futuro. Aquele que sabe adular, sabe também caluniar. Einstein dizia: “enquanto não os atrapalho os homens me elogiam”. Coelho Neto afirmava que “quem sobe por bajulação sempre deixa um rastro de humilhação”. Muitos, infelizmente, aceitam até rastejar para conseguir os seus interesses escusos; não devem reclamar se por acaso forem pisados por alguém. É próprio do escravo ter um preço; e qualquer um que aceite subir pela bajulação, fixará, com a sua conduta, o seu próprio preço e a sua escravidão. Não se pode cultivar isto nos filhos.

“Brincar” com o filho é não levá-lo a sério, achar graça até nas coisas erradas que ele faz, etc. Há pais que parecem cegos diante dos problemas dos próprios filhos. Às vezes a criança está sendo inconveniente, incomodando todo mundo com os seus maus hábitos, de gritar, chutar, correr onde não pode, etc, e mesmo assim o pai e a mãe não tomam a mínima providência; ou, quando o fazem, não usam de autoridade, e, por isso, não têm sucesso. Quantas vezes a criança irrita a todos, mas para os pais parece que tudo está bem; parecem cegos.

Se de um lado, é preciso ter certa tolerância com o comportamento da criança, por outro lado, não se pode permitir que ela ultrapasse os limites da própria idade. Há pais que são muito “moles” com os filhos, isto não é amor, é fraqueza que gera maus hábitos na criança.

Há também aqueles pais que têm o péssimo hábito de exibir os filhos, como se fossem as melhores crianças do mundo. Isto acontece no lar, na rua, na casa dos outros principalmente, e até na igreja durante a celebração da missa. Tem mãe que parece levar a criança na igreja mais para exibi-la do que para ensiná-la a rezar, ou porque não tem com quem a deixar em casa. Ora, deixemos de ser orgulhosos e exibicionistas. Aquela criança passeando no meio da igreja está tirando a atenção de quem está participando da missa, a maior celebração da nossa fé. Além do mais atrapalha o celebrante, especialmente durante a homilia.

É preciso se conscientizar que os nossos filhos não são objetos de decoração, exibição e nem vitrines do nosso eu que deseja aparecer através deles.
Os pais devem cultivar nos filhos as atitudes de sobriedade, discrição, respeito, acolhimento, etc, e não, como tanto se vê, atitudes de exibicionismo. Isto não faz bem à criança.

André Berge, educador francês, costumava dizer que “os defeitos dos pais são os pais dos defeitos dos filhos”; portanto, é preciso tomar muito cuidado para que os nossos erros não sejam transmitidos para os filhos. Sabemos que “filho de peixe é peixinho”; isto é, a criança tende a ser a cópia dos pais, naquilo que eles têm de bom e de mau.

“Não lhe dês toda a liberdade na juventude, não feches os olhos às suas extravagâncias” (Eclo 30, 11).

Na arte de educar os filhos, a corda mais sensível é a da liberdade. De um lado, não se pode dar “toda” a liberdade que eles querem, mas, por outro lado não se pode suprimi-la de vez. Alguns pais erram, exagerando num extremo ou no outro. Diria que educar é ensinar o filho a usar a liberdade com responsabilidade. O pecado, o mau comportamento, consiste exatamente no “abuso da liberdade”, no seu uso sem responsabilidade e sem o compromisso com a verdade.

Para conseguir isto, os pais devem dar liberdade aos filhos na medida em que eles correspondem com responsabilidade. Quanto mais responsável o filho se mostrar, tanto mais liberdade receberá; até o ponto em que ele mesmo porá limites a si próprio. E é importante dizer que esta prática deve começar bem cedo, tão logo a criança adquira o uso da razão, por volta dos seis anos de idade.

Sobretudo, é preciso prestar atenção ao que foi dito: “não feches os olhos às suas extravagâncias”. Às vezes os pais estão percebendo que os filhos não estão agindo bem, e mesmo assim nada fazem. Mesmo até quando algum amigo ou parente, vem alertá-los sobre os maus comportamentos do filho, e ainda assim, permanecem sem agir. Muitas vezes a mãe está vendo que aquele namoro não está indo bem, ultrapassando os limites, mas faz de conta que não percebe a gravidade da situação; até que mais tarde venha a chorar porque a filha engravidou, ou porque o filho está se drogando, ou porque se envolveu em sérias confusões com a polícia, etc. Ora, é preciso ser vigilante com os filhos; isto é dever dos pais, dado por Deus.
Na sua sabedoria o Eclesiástico diz aos pais:

“Obriga-o a curvar a cabeça, enquanto jovem, castiga-o com varas enquanto ainda é menino, para que não suceda endurecer-se e não queira mais acreditar em ti; e venha a ser um sofrimento para a tua alma” (Eclo 30,12).

Conhecemos muito bem o provérbio que diz: “é de pequenino que se torce o pepino”. Quando a planta é ainda pequena, é possível retificá-la facilmente, amarrando-lhe uma estaca. O mesmo se dá com a natureza humana. Sem reações, a criança aceita a correção do pai e da mãe, não lhes questiona a autoridade, pois não tem ainda o senso crítico desenvolvido. É a melhor hora para educar e moldar o seu caráter com os valores retos da moral e da fé. É precisamente esta a sagrada missão que Deus confiou aos pais; moldar aquele caráter em formação, desenvolver na criança os hábitos corretos, de maneira suave, indolor, natural, na hora certa. Se passar a “hora certa”, tudo vai ficar mais difícil depois, para os pais e para os filhos.
A criança aprende mais por imitação do que por convicção. Se ela vê o pai e a mãe gritarem, ela também grita; se ela vê os pais baterem, ela bate também nos irmãos menores; se ela vê os pais rezarem, ela reza; se ela ouve os pais dizerem palavrões, ela diz também.

Por fim o Eclesiástico termina dizendo:
“Educa o teu filho, esforça-te por instruí-lo para que te não desonre com sua vida vergonhosa” (Eclo 30,13).

Insisto neste ponto: o filho só aceitará a instrução do seu pai ou de sua mãe, se os respeitar e admirar pelo seu próprio valor. Para isto é fundamental que os pais tratem os filhos, desde pequenos, com atenção, seriedade e respeito.

“Educa-se mais por aquilo que se é do que por aquilo que se ensina” (frei Dr. Albino Aresi).

Do livro: “Família, santuário da vida”


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino