Desprendimento e pobreza cristã

O nascimento de Jesus e toda sua vida são um convite para que nós examinemos nestes dias a atitude de nosso coração até os bens da terra. O Senhor nasce em um estábulo, numa aldeia perdida. Nem sequer teve um berço, e sim um presépio. Passou fome (Mt 4, 2), não teve duas pequenas moedas para pagar o tributo do templo (Mt 17, 23-26), e Sua morte na Cruz é a mostra do supremo desprendimento. O Senhor quis conhecer a pobreza extrema – falta do necessário – especialmente nas horas mais marcantes de sua vida.

A pobreza que há de viver o cristão precisa ser uma pobreza real, ligada ao trabalho, à limpeza, ao cuidado da casa, dos instrumentos de trabalho, à ajuda aos demais, à sobriedade de vida. A pobreza que nos pede a todos o Senhor não é sujeira, nem miséria, nem desleixo, nem preguiça. Estas coisas não são virtudes. Para aprender a viver o desprendimento dos bens, em meio desta onda de materialismo, temos de olhar para nosso Modelo, Jesus Cristo, que fez-se pobre por amor a nós, para que fôssemos ricos por sua pobreza (2 Cor 8, 9).

Os pobres a quem o Senhor promete o Reino dos Céus não são qualquer pessoa que padece necessidade, mas aqueles que, tendo bens materiais ou não, estão desprendidos e não se encontram aprisionados por eles. Pobreza de espírito que há de viver-se em qualquer circunstância da vida. “Eu sei viver – dizia São Paulo – na abundância, mas sei também sofrer fome e miséria (Fl 4, 12).

O amor à riqueza esvazia o amor ao Senhor: não é possível que Deus possa habitar num coração que já está cheio de amor. O cristão procura e usa os bens terrenos, não como se fossem um fim, mas como um meio de servir a Deus. O desprendimento efetivo das coisas supõe sacrifício. Um desprendimento que não custa não se vive; se manifestará na generosidade na esmola, em prescindir do supérfluo, em evitar caprichos inecessários, em renunciar ao luxo, aos gastos por vaidade ou capricho.

A sobriedade com que vivemos será o bom aroma de Cristo, que sempre tem que acompanhar a vida de um cristão: pobreza real, que se note e que se toque. Se lutarmos eficazmente por viver desprendidos do que temos e usamos, o Senhor encontrará nosso coração limpo e aberto de par em par, quando vier novamente a nós na Noite Feliz. Não ocorrerá com nossa alma, o que sucedeu com aquela pousada: estava cheia e não tinham lugar para o Senhor.