Depoimento de um padre

A tarde era bela, os raios do sol cobriam a cidade. O coração ansioso, confiante e agradecido. Oito de dezembro de 2005, dia em que me tornei padre, me vem à mente como se fosse hoje. Algumas horas antes da minha ordenação, a experiência foi marcante: procurava uma definição simples e concreta da palavra “padre” e me veio ao coração, como um raio de luz, o verso bíblico que diz: “Cristo passou a sua vida fazendo o bem” (Atos dos Apóstolos 10,38b). A definição que emergia no meu interior naquele momento era: ser padre é alguém que, a exemplo de Cristo, passa a vida fazendo o bem.

Vejo, no concreto, que a oportunidade que tenho de fazer o bem é constante: ao saudar as pessoas, ao sorrir e ao olhar em seus olhos. No abraço amigo, ao atendê-las em confissão, nas visitas às famílias; ao estar com os mais pobres, com os enfermos e ao celebrar com devoção a Santa Missa.

Percebemos que a partir do momento em que o sacerdote não vive somente para si mesmo, e não retém a sua vida e seu ministério, mas os entrega para Deus, para a Igreja e a cada pessoa encontrada, ele se torna esse benfeitor e promotor da paz e do bem.

Andando um pouco pelo território das minhas recordações, lembro-me do saudoso Dom Aloísio Lorscheider, um grande mestre na arte teológica, ensinando-nos de maneira exemplar, em suas aulas de Teologia, que o padre “é o maior benfeitor da humanidade”. Com suas aulas inesquecíveis e sua presença marcante, conseguiu esculpir em nós as marcas do amor aos estudos e à vocação; marcas estas que se tornaram memoráveis, eternas…

A nossa Igreja, em seu rico acervo teológico, nos diz que o sacerdote é um sacrifício de um homem, um homem imolado, que se entrega livremente por uma causa: a fascinante causa do Reino de Deus, que é o maior bem que o próprio Deus coloca no coração e nas mãos de cada um de nós.

Sou um ser humano mais feliz como padre, por vários motivos, um deles é que Deus me ama e me chama a evangelizar e eu sempre gostei disso, sempre gostei de promover o bem extraordinário da proposta do Reino de Deus e do anúncio do amor entre as pessoas. Desde adolescente eu já evangelizava nas escolas, nos grupos de jovens e nas famílias. E como padre posso evangelizar ainda mais, ou melhor, minha vida se tornou uma experiência constante de evangelização.

A evangelização está em mim e ou não me vejo mais sem ela, evangelizar é viver para mim. Eu me recordo agora de uma frase belíssima de Dom Bosco a respeito da evangelização: “Por eles eu rezo, eu estudo, e por eles me santifico”.

Os desafios são grandes e as lutas são constantes, por isso, não deixamos de nos motivar pelos versos da canção que persiste em dizer: “Pois sei que para além das nuvens, o sol não deixou de brilhar, só porque a terra escureceu, minha vida está em Deus” ancorando-nos sempre na certeza de que a graça de Deus é maior e nos conquista a cada dia.

Outro motivo, é que ser padre me faz ser mais de Deus e mais dos outros, pois a vida do sacerdote é pertença de ambos. Ser mais do Senhor me conduz a ser mais dos outros e vice-versa.

É uma grande graça ser feliz na comunidade, estamos juntos, juntos queremos ser concretos no bem, formamos um exército de promotores da solidariedade, da justiça, da paz.

Por aqui aprendemos com Dom Alberto que “a vida se torna mais bela quando se torna um dom para os outros”. É nessa certeza, nesse belo desafio que caminhamos e seguimos sem parar, porque, para nós, parar é voltar atrás. Por isso é que navegamos nos versos da canção que nos diz: “não dá mais pra voltar, o barco está em alto-mar”.