As bem-aventuranças do Ancião

Há uma força extraordinária na felicidade da pessoa que viveu a vida “com sentido” e que, “repleta de dias”, pode anunciar, vivendo, o sentido da permanência e da continuidade da vida.

É uma felicidade “nova” e diferente: para percebê-la, precisamos de olhos novos, abertos para a vida, que permanece e que transcende o tempo, e para “proclamá-la” murmuramos, silenciosamente, estas bem-aventuranças:

Bem-aventurado o ancião que não quer colher flores no tempo das frutas.

Bem-aventurado o ancião que durante a vida soube desfrutar da energia do despertar e da serenidade do crepúsculo, porque saberá encontrar na unidade do despertar e do crepúsculo a Beleza suprema e total.

Bem-aventurado o ancião que renasce a cada dia pela palavra e pelo poder do Espírito, porque sente que a vida não morre nunca.

Bem-aventurado o ancião que espera ansioso o tempo do repouso, como um tempo de amor total, de goso e plenitude.

Bem-aventurado o ancião que vive o seu tempo livre como oração, como tempo privilegiado para a adoração admirada e sem limites da Beleza infinita do Pai.

Bem-aventurado o ancião que vive no amor de Deus que faz novas todas as coisas.

Bem-aventurado o ancião que compreendeu as palavras de Jesus: “Felizes os que são como as crianças” (Lc 18,17).

Bem-aventurado o ancião que é criatura nova, que não tem idade, que mostra em seu aspecto e em seus olhos as marcas gloriosas do Ressuscitado.

Bem-aventurado o ancião que, como Simeão e Ana, está cheio de Espírito, porque é o Espírito enviado pelo Pai que renova a face da terra (Sl 103).

Bem-aventurado o ancião cujos braços são o berço de um mundo novo. Amém.

(Tereza Porcile Santisco, do livro “Terceira idade, tempo de viver”. P. 125s)