A mãe do rosto feio

Certa vez, em missão, numa cidade do interior de São Paulo, conheci uma história no mínimo fascinante.

Quem me contou foi o filho único de uma mãe que tinha seu rosto muito feio.

Quando ele era criança, cresceu vendo a mãe com um rosto cheio de quelóides e de marcas. Acostumou-se com este rosto; nunca tinha visto sua mãe de outro jeito. Ela sempre foi assim desde que ele nasceu.

Ele morava numa vila de uma usina de cana. Poucas pessoas moravam ali. Nunca ninguém comentava nada.

Quando chegou o tempo da escola, aquela mãe decidiu morar mais próxima da cidade. Seu filho precisava estudar.

E quando este menino começou a freqüentar as primeiras aulas da sua vida, ficou fascinado. Eram muitas crianças e muitas novidades por dia. Aprendia coisas que nunca imaginou…

Mas na hora da entrada e saída da escola começou a perceber que as outras mães eram mais bonitas que a sua, e o mais surpreendente: alguns pais vinham buscar seus filhos.

Ele se deu conta que nunca havia percebido a falta de seu pai.

– “Onde será que os pais moram?” – se perguntava.
– “Será que os “pais-homens” moram em outro lugar?
– E por que a minha mãe é tão feia?”

Naquela cabecinha de criança muitas perguntas que nunca haviam aparecido.

Veio o mês de maio. Festa das mães. Tinha que levar uma foto da mãe para a escola, a mãe não tinha nenhuma foto.

Começaram as piadinhas dos colegas: “-Também com uma mãe tão feia…”

E quando veio o Dia dos Pais… Cadê o pai?

Aquele menino tinha apenas seis anos de idade e já vivia um conflito interior grande demais.

Foi conhecendo as histórias dos seus coleguinhas com seus pais e foi descobrindo palavras como: separação, alcoolismo, divórcio, abandono.

Logo formulou em sua cabeça a hipótese que seu pai largou sua mãe por que ela era muito feia. E num dia em que dentro de uma casa as coisas ficam tensas, ele jogou tudo pra fora.

Nervoso, pequeno, ousado e sem discernimento – pois era uma criança do alto dos seus seis anos de idade – esbravejou:

“- Mãe, a culpa de meus problemas é que a senhora é muito feia. O papai deixou a senhora por causa disso, não foi?”.

A mulher chorou, reagiu, afagou aquela cabecinha confusa, silenciou e, no dia seguinte, contou sua história ao filho que agora precisava compreender um pouco mais da vida:

Perto da região de usina onde moravam antes houve uma queimada de cana. Aconteceu um acidente. O menino descobriu que seu pai teve que fazer uma escolha: salvar o filho ou a mãe da criança, sua esposa

O pai morreu tentando salvá-lo.

No mesmo incêndio que queimou todo o rosto e parte do corpo de sua mãe.

Termino aqui esta história homenageando este filho que, já conheci adulto e com os olhos cheios d’água, me fez sua partilha.

Que Deus, agora, cure você de toda a vergonha de seus pais e dê a graça de conhecer a história que talvez eles nunca contaram a você. Mas que os fez ficar assim.

Bênção e Paz.