contrastes

A convivência humana e o papel dos cristãos

A convivência humana é tecida por contrastes

A vida dos cristãos está sujeita às mesmas limitações existentes nas outras pessoas, tanto que a história da humanidade nos mostra participantes e responsáveis por muitos conflitos e crises. Se nos falta a necessária vigilância, podemos estragar mais do que contribuir para o aperfeiçoamento das relações entre as pessoas. E aqui tocamos numa grande sede de relacionamentos autênticos que conduzam à felicidade e à paz. A convivência humana é tecida por contrastes, conflitos de interesse, visões diferentes, gostos, opções, pelo fato de sermos diferentes uns dos outros, ainda que iguais quanto à dignidade com que Deus nos criou.

A convivência humana e o papel dos cristãos

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

Desde os primórdios, a experiência do povo da Bíblia inculcou uma grande responsabilidade recíproca entre as pessoas. “Caim disse a seu irmão Abel: ‘Vamos ao campo!’ Mas quando estavam no campo, Caim atirou-se sobre seu irmão Abel e o matou. O Senhor perguntou a Caim: ‘Onde está teu irmão Abel?’ Ele respondeu: ‘Não sei. Acaso sou o guarda do meu irmão?’. ‘O que fizeste?’, perguntou o Senhor. Do solo está clamando por mim a voz do sangue do teu irmão” (Gn 4,8-10)!

Somos responsáveis pelos outros

No livro do profeta Ezequiel (cf. Ez 33, 7-9), nós somos considerados responsáveis pelos outros! “Quanto a ti, filho do homem, eu te coloquei como sentinela para a casa de Israel. Logo que ouvires alguma palavra de minha boca, tu os advertirás de minha parte. Se eu disser ao ímpio que ele deve morrer, e não lhe falares advertindo-o a respeito de sua conduta, o ímpio morrerá por própria culpa, mas eu te pedirei contas do seu sangue. Mas se tiveres advertido o ímpio a respeito de sua conduta para que a mude, e ele não a mudar, o ímpio morrerá por própria culpa, mas tu salvarás a vida”.

Nas relações entre os povos, a solução de conflitos, muitas vezes, pede a presença de um “mediador”, pessoa ou organização capaz de ouvir as partes envolvidas com a necessária isenção, administrar as concessões recíprocas, estimular os passos de aproximação a serem dados e selar os pactos. Quando falta essa figura, as diferenças se radicalizam e as feridas permanecem abertas. Basta olhar ao nosso redor para ver quanto aumentam os conflitos entre pessoas, grupos, classes sociais e nações, porque falta uma presença isenta que estabeleça os laços. E nós temos à disposição Aquele que é caminho, verdade e vida, presença que restaura as relações e quer estar permanentemente entre nós!

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“Ele está no meio de nós!”

O Evangelho de São Mateus, no discurso de Jesus sobre a vida em Comunidade (cf. Mt 18, 1-34), estabelece algumas características do relacionamento entre os cristãos: o valor das crianças e dos pequeninos, o cuidado para não escandalizá-los, a correção fraterna e a oração em comum. É como um manual de “boas maneiras”, mas com um segredo especial. Trata-se da presença de Jesus em nosso meio.

Quantas vezes repetimos: “Ele está no meio de nós!”. Não se trata de uma frase de efeito, mas de uma das presenças verdadeiras do único mediador (cf. I Tm 2,5). Aquele que está presente no íntimo de cada um de nós, presente em Sua Palavra, no irmão que passa ao nosso lado, na Eucaristia e nos pastores da Igreja, está realmente entre aqueles que se reúnem em Seu nome! Só que esta presença depende do acordo entre as pessoas. Jesus quis depender de nossa capacidade de amar-nos reciprocamente. Condescendência de amor, responsabilidade imensa!

Para tê-Lo assim presente entre nós e experimentar os frutos de tão boa companhia, é necessário colocar-se de acordo (cf. Mt 18,19), superando a desconfiança, estar prontos a dar a vida uns pelos outros (cf. Jo 13, 34-35; 15, 12-17), escolhê-Lo como o grande motivo para estar juntos. No trato com as outras pessoas, saber decidir-se por aquilo que não passa: “Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor que deveis uns aos outros, pois quem ama o próximo cumpre plenamente a Lei” (Rm 13,8).

O resultado se faz sentir, pois a presença verdadeira de Jesus ilumina as decisões, equilibra as paixões, conduz ao perdão e à reconciliação, e cria o clima necessário para a oração. O “acordo” entre as pessoas chegará ao Pai, pois não Lhe interessa, em primeiro lugar, o resultado de eventuais discussões ou impasses, mas a caridade, que faz o céu vir à terra e a terra subir ao céu. Vale para as pessoas, vale para os grupos, vale para as nações. Difícil? Desafiador? Está em nossas mãos! “Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 35).

Equipe de colunistas do Formação