Criação de Deus

Homem e Mulher

Você parou para pensar o quanto é especial para Deus? Muitos já devem ter falado isso para você, pode ser que livros te falaram, ou de uma maneira mais profunda, sensível, você se sentiu especial para nosso Senhor. Mas, hoje, quero falar com você de uma forma diferente, vamos perceber que, a partir de nós mesmos, da nossa anatomia, o nosso corpo expressa, sobretudo, o amor que Deus tem por cada um de nós, de maneira muito particular, e mais do que isso, aponta a nossa vocação.

Você já deve saber, mas vou lembrá-lo de que para formar um novo ser são necessárias duas células, uma se doando a outra e, ao mesmo tempo, completando-se, são elas, o espermatozoide, que vem do pai, une-se à outra da mãe, o óvulo, num processo chamado fecundação, a partir desse momento um novo ser é formado, com as características genéticas (cromossomos) vindas metade do pai e metade da mãe. Sem esse evento não há formação de nova vida, isso nos aponta algo divino, sobrenatural – somos feitos para nos doar, fomos gerados para o outro e vivemos essa experiência desde a fecundação, esse ensinamento de São João Paulo II com a teologia do Corpo mostra a nossa essência divina, assim como o Pai doa seu filho para nos salvar, eu e você também somos chamados a viver, doando nossa vida, completando a vida do outro.

Homem-e-Mulher

Foto Ilustrativa: by Getty Images / tomozina

Deus teve o cuidado de planejar a criação do homem e da mulher

A sua criação e a minha são muito diferentes de como Deus formou o mundo, não somos o resultado de uma sucessão de acontecimentos, pelo contrário, o Criador parece recolher-se em si e, então, decidir – “Façamos o homem à nossa imagem, à nossa semelhança” (Gn 1, 26), perceba que honra para nós, somos imagem e semelhança de Deus, do Criador, Ele não nos fez para sermos qualquer um, Ele sonhou com cada um de nós, fomos planejados por Deus, não somos frutos do acaso ou de um evento qualquer, é um mistério de profundo amor!

Mais adiante, no versículo 27 do mesmo capítulo de Gênesis, relata que Deus criou homem e mulher; e, nesse sentido, desde o desenvolvimento do embrião, características próprias de atitudes e da personalidade do homem e da mulher ficam evidentes por meio dos processos biológicos que acontecem, nos aprofundando nessa evolução, entendemos nossa vocação. Vários são os eventos que ocorrem para o desenvolvimento do ser, a partir da formação de tecidos, órgãos e sistemas que, em sua integralidade, compõem o ser humano. Além disso, desenvolve também estruturas e substâncias endócrinas que irão determinar o desenvolvimento de uma menina (cromossomos XX) ou de um menino (cromossomos XY). Na sétima semana, a presença ou a ausência do cromossomo Y determina o tipo de órgãos sexuais do embrião em desenvolvimento.

A natureza da criação

Nesse contexto e entrando no mistério da nossa criação, a diferenciação sexual ocorre sempre no sentido feminino; é a presença do cromossomo Y que muda esse percurso através da sinalização para produção do hormônio testosterona para o desenvolvimento dos órgãos sexuais masculinos e não há necessidade de produção de nenhuma outra substância para a formação de uma menina. Isso nos mostra que, desde o período embrionário, o homem vai à luta, ao enfrentamento, à ação. Esse processo traduz a vocação do homem para a expressão da sua sexualidade.

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Por volta da oitava semana de gestação, um outro evento acontece nos meninos, a formação dos testículos, esses órgãos são formados na cavidade abdominal, mas não podem ficar aí, até o nascimento devem estar no escroto para terem a temperatura ideal, a fim de produzirem os espermatozoides, isso demonstra, mais uma vez, a necessidade de força, ação, iniciativa nos meninos. Deus nos ensina tudo isso de forma natural, nos oportuniza viver o sonho d’Ele para expressarmos a nós mesmos e aos outros a nossa sexualidade ordenada ao amor, doação e não aos desrespeitos à obra criadora que o mundo reproduz com uma sexualidade sem sentido.

Há também uma correspondência perfeita entre as genitálias externas masculina e feminina e fica evidente, mais uma vez, que a diferenciação dos órgãos genitais externos no menino sofrem muito mais mudanças do que a feminina, para garantir essa complementaridade da obra criadora, demonstrando mais uma vez o esforço para ser menino e como iniciativa para se relacionar com o sexo oposto. Todas essas iniciativas, esforços, ações relacionadas aos meninos são as primeiras formas de iniciar o homem para a sua vocação, seu chamado!

A complexidade e complementaridade do ser humano

Os autores Lara e Romão (2013), indicam ainda, que o estrogênio age no encéfalo, em uma região de controle (hipotálamo) relacionado a expressão da sexualidade masculina, é um processo complexo de transformação de testosterona em estrogênio, que atua nessas áreas de controle, promovendo a masculinidade encefálica. Veja a profundidade desses eventos para nos criar, a necessidade do homem e da mulher, sua doação, sua complementaridade, o hormônio feminino atua na formação do homem de forma ativa! A nossa vocação é nos doar para criar no outro a expressão do Amor de Deus.

Ao nascimento, nascem menino ou menina em seu corpo e mente, isso quer dizer que o ser biológico está completamente formado, as estruturas anatômicas irão desenvolver-se e funcionar sob controle neural e endócrino, atuarão de maneira integral vida vegetativa, ou seja, na manutenção das funções biológicas e na vida de relação que é visualizada também na expressão da sexualidade. Essa última, como menciona o Papa Francisco na Encíclica “Laudato si”, se relaciona diretamente com a valorização do próprio corpo em sua feminilidade e masculinidade para reconhecimento de si e do outro. Nesse processo, a socialização, as relações interpessoais e experiências com os outros devem enriquecer a percepção do Deus criador, da singularidade da criatura e da reciprocidade com os outros, por meio da maneira como expressa a sua sexualidade.

Por fim, conhecendo um pouco do nosso corpo, entendemos que a obra criadora tem um papel fundamental na maneira como nos relacionamos conosco e com os outros. A nossa identidade e vocação são claras, mas podem estar obscurecidas por experiências ruins. O convite hoje é para nos aprofundarmos em nós mesmos, conhecermos nossos corpos, quem somos e encontrar, num castelo interior, como fala Santa Teresa de Ávila, o sentido, o centro de nossa vida, Aquele que traz; é o sentido e nos revela nosso papel nesse mundo.

Referência

Lara LAS; Romão APMS. The differentiation male and female brain. Rev. Bras. Ginecol Obstet. 2013; 35 (2):45-8.

São João Paulo II. Teologia do Corpo: o amor humano no plano divino. 2 ed, Campinas, SP: Ecclesiae, 2019.

Paulo Alexandre Galvanini
Casado com Cláudia e pai da Stela e da Alice. Biólogo, mestre e doutor em anatomia humana, professor da Universidade Federal de Sergipe. Vocacionado Canção Nova – Missão Aracaju.

Prof. Dr. Paulo Galvanini – Graduado em Ciências Biológicas (UEM – 2005); Mestre em Ciências Morfofuncionais (USP – 2008); Doutor em Interações Orgânicas (UEM – 2013) e professor de Anatomia e Fisiologia Humana – Universidade Federal de Sergipe

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