Os meios de comunicação a serviço de evangelização
Ao se despedir de seus colaboradores, Jesus lhes ordenou: “Ide, pois, fazei discípulos em todas as nações” (Mt 28,19). A Igreja vive desta ordem ou, como lembrava Paulo VI: “A Igreja existe para evangelizar!” Sua missão é imensa, pois há multidões que ainda não foram atingidas pela proposta de nosso Senhor, Salvador e Mestre.
Não diria que o mundo atual seja mais difícil de ser evangelizado do que aquele enfrentado pelos primeiros apóstolos e cristãos. Temos, sim, alguns desafios que são próprios de nossa época: o subjetivismo, que se traduz na busca da própria realização a qualquer custo, mesmo que isso prejudique outros; o ateísmo, não mais teórico, mas prático e, por isso mesmo, muito mais perigoso; a desagregação da família, entre outros motivos, pela falta de preparação adequada dos pais para sua missão; a ignorância religiosa, fazendo com que muitos vivam e morram sem conhecer as riquezas da Igreja, como a Palavra de Deus, os sacramentos, o papel de Nossa Senhora e do Papa; o fraco sentido de pertença à Igreja etc. Por tudo isso, para evangelizar, precisamos ser criativos, corajosos e mesmo ousados. Ou, como nos ensina o atual Papa, precisamos “ter o mesmo entusiasmo dos cristãos da primeira hora” (NMI 58).
“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura”
É nesse quadro que situo a importância do uso dos meios de comunicação no serviço evangelizador. Para “fazer discípulos em todas as nações”, a Igreja não pode se contentar com o uso do púlpito e de seus salões e salas de catequese. Precisa, sim, utilizar-se também de jornais e revistas, de visitas domiciliares e de emissoras de rádio; de canais de televisão e de páginas na internet.
A Igreja encara os meios de comunicação social como dons de Deus, à medida em que criam laços de solidariedade entre os homens, podendo e devendo ser utilizados no trabalho evangelizador. Olhando para Jesus Cristo, aprenderemos como viver, em que valores colocar nossa vida e que meios utilizar para anunciar sua palavra. Ele não usou os meios de que dispunha, como um barco afastado da margem, uma colina ou o encontro de pessoas numa refeição?
A partir dos exemplos que nos deixou, concluímos que será impossível realizar nossa missão se deixarmos de lado dos modernos meios de comunicação. Lembro, aqui, uma frase do Setor de Comunicação Social da CNBB, em 1995: “Se o Mestre fosse conduzido hoje ao deserto das tentações, possivelmente o Tentador já não lhe ofereceria anacrônicos e decadentes reinos, para que o adorasse, mas o espetacular e tremendo poder da moderna máquina da comunicação, mais sutil e, por isso mesmo, imensamente mais eficaz para dominar povos e nações. São grandes os desafios para tornar visível e presente o Projeto do Reino, sinônimo na história de uma cultura da vida, como contraponto de uma sempre mais presente cultura da morte”.
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Em resposta à ordem de “fazer discípulos”, precisamos nos perguntar constantemente: como utilizar os meios de comunicação? Que meios usar? O que fazer para tê-los à nossa disposição? Há muito trabalho à nossa espera. Longe de nos deixar levar pela agitação, caindo no risco do “fazer por fazer”, queremos olhar para a frente, confiando na palavra de Cristo: ‘Eu estarei convosco todos os dias!” (Mt 28,20) A certeza de sua presença nos dá coragem para evangelizar “em águas mais profundas” isto é, utilizando-nos de meios difíceis como a televisão e a internet, tão imprescindíveis no mundo de hoje.
Quando os problemas se avolumarem, lembremo-nos: “Eu estarei convosco!” Mais: tenhamos sempre presente que a Igreja é dele. Ele a conquistou com seu sangue precioso. Quanto a nós, não passamos de operários, de “servos inúteis”.
Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de Salvador-BA