A Gazeta do Rio de Janeiro, fundada em 10 de Setembro de 1808, foi o primeiro jornal em território brasileiro, tendo um papel muito importante na história do país. Sua criação foi resultado direto do estabelecimento da corte portuguesa ao Brasil durante o período conhecido como o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve. Ao longo de sua existência, a Gazeta do Rio de Janeiro se destacou como um veículo de informação fundamental no contexto histórico do Brasil.
A criação do primeiro jornal se deu no contexto do estabelecimento da corte portuguesa, que trouxe consigo para o Rio de Janeiro todo um aparato estatal, instalando em terras brasileiras, sendo um complexo sistema administrativo, gerando transformações na, até então, Colônia, que foi elevada ao status de Reino. Além da Gazeta, foram também criados a Administração-Geral do Correio da Corte e Província do Rio de Janeiro, antecessor dos Correios do Brasil e sucessor do Correio-mor, criada em 22 de novembro de 1808, e o Banco do Brasil, primeiro banco do Brasil, em 12 de outubro de 1808, todos pelo então Príncipe-regente Dom João.
A Gazeta era publicada por meio das máquinas da Impressão Régia no Rio de Janeiro. Dirigida por Frei Tibúrcio José da Rocha e tendo como redator Manuel Ferreira de Araújo Guimarães, que é considerado o primeiro jornalista profissional do Brasil.
Naquela época, o propósito da Gazeta do Rio de Janeiro era fornecer informações e notícias relevantes à corte portuguesa e à elite da sociedade brasileira. Era uma maneira de manter a comunicação entre a metrópole e a colônia, além de transmitir informações sobre os acontecimentos do país e do mundo.
Os grandes avanços
No entanto, à medida que o tempo passou, muitas mudanças ocorreram no campo da comunicação e da informação. O avanço da tecnologia e, principalmente, a chegada da internet transformaram drasticamente a forma como as pessoas consomem notícias. Hoje em dia, temos acesso a uma quantidade imensa de informações em tempo real, através de dispositivos móveis, redes sociais e uma ampla variedade de sites e aplicativos de notícias.
Essa profusão de informações disponíveis trouxe consigo desafios para os jornais e meios de comunicação convencionais. A questão da relevância se tornou um ponto crucial para esses veículos, que precisam competir com a velocidade e a quantidade de notícias fornecidas pela internet. Além disso, a disseminação de notícias falsas, as chamadas fake news, também se tornou um problema, colocando em xeque a credibilidade dos veículos de comunicação social.
Nesse cenário, os jornais convencionais têm buscado se adaptar e se reinventar para manter sua relevância. É preciso encontrar meios de se destacar em meio a toda essa enxurrada de informações. Um dos pontos-chave é a credibilidade. Os jornais tradicionais, por terem uma história e tradição, ainda são vistos como fontes confiáveis de informação. O rigor jornalístico, o compromisso com a apuração dos fatos e a busca pela imparcialidade continuam sendo valores fundamentais para esses veículos.
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Em sua mensagem para o LVII Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa Francisco destacou: “ Todos somos chamados a procurar a verdade e a dizê-la…”; em outro trecho: “O apelo para se falar com o coração interpela radicalmente este nosso tempo, tão propenso à indiferença e à indignação, baseada, por vezes, até na desinformação que falsifica e instrumentaliza a verdade”. Essas falas refletem exatamente este cenário controverso em que está imersa a comunicação e seus veículos, carente de bons exemplos.
Buscando adaptar-se, muitos jornais têm investido em tecnologia, diversificando seus canais de comunicação e buscando alcançar um público mais amplo. A presença on-line se tornou essencial, com sites, aplicativos e perfis em redes sociais. Os jornais também têm apostado em formatos de conteúdo diferenciados, como podcasts, vídeos e interatividade com o público.
No entanto, é importante destacar que a importância dos jornais convencionais não se limita apenas à sua capacidade de transmitir informações. Eles desempenham um papel importante na formação da opinião pública e na construção de uma sociedade mais informada e engajada. Os jornais têm o poder de realizar investigações aprofundadas, de apontar problemas sociais e de dar voz a setores da sociedade, expor contradições e desigualdades.
O quarto poder
Dentro de uma Estado Democrático de Direito, os veículos de comunicação, apelidados de Quarto Poder, têm uma função essencial na fiscalização dos poderes instituídos. Além disso, no aspecto da filtragem e verificação das informações, devem ser baluartes da verdade, ajudando a evitar a disseminação de notícias falsas, apurando e contextualizando os fatos, oferecendo ao público informações confiáveis e embasadas.
Portanto, apesar dos desafios impostos pelas mídias digitais e pelo fenômeno das fake news, os jornais convencionais continuam a ter relevância e importância na sociedade. Sua tradição e credibilidade, ainda que hoje exista o desafio imposto pela tecnologia, são elementos fundamentais para garantir o acesso à informação, dando-nos salvo-conduto diante da avalanche de desinformação que atinge a sociedade como uma avalanche dia após dia.
Logo, ao comemorarmos a memória do primeiro jornal do Brasil, cabe uma reflexão: quão importante é a fonte da informação que temos consumido? Importamo-nos em verificar qual instituição ou pessoas estão por trás das notícias que tomamos como verdadeiras ou simplesmente nos dispomos a abraçar inverdades, simplesmente por que corroboram com nossa visão, muitas vezes errada, do mundo?
Devemos buscar a verdade, tendo cuidado com os meios pelas quais nos informamos, não sendo presas fáceis às fake news. Sendo hoje não só consumidores, mas disseminadores de informação, compartilhando e mesmo produzindo conteúdos, devemos nos lembrar das palavras do Papa Francisco: “Todos somos chamados a procurar a verdade e a dizê-la”. Assim, devemos ter uma postura responsável em nossa presença no universo da informação, não nos permitindo ser propagadores de desinformação.
Jonatas Passos é natural de Cruzeiro (SP), marido, pai e colaborador da Fundação João Paulo II. Formado em Tecnologia, Informática e História. Pós-Graduado em Jornalismo e História do Brasil, com extensão em História da Religião.