Dia do Homem

Segundo a Bíblia, a missão masculina é uma missão sacrificial

Não obstante suas fraquezas, limites e humanidade, o homem é chamado por Deus à nobreza do sacrifício, tornando-se um verdadeiro dom para aqueles que com ele dividem a vida. Na carta aos Efésios 5,25, o texto sagrado nos diz: “Homens, amai as vossas esposas como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela”. E a subsequente pergunta é a seguinte: como Cristo amou a Igreja? Resposta: Sacrificando-se e entregando-se por ela, ou seja, dando integralmente sua vida para que ela fosse fecunda e encontrasse redenção.

O amor de Cristo foi um amor de sacrifício, de uma doação concreta de vida por uma nobre finalidade, e a missão do homem (sobretudo em relação a sua família) passará inevitavelmente por este viés.

Como disse o Beato Pier Giorgio Frassati: “Viver sem fé e sem um nobre patrimônio para defender, sem uma luta constante pela verdade, isto não é viver, é apenas existir”. Estaremos você e eu apenas existindo ou realmente vivendo? Estamos vivendo nossa fé e missão como homens cheios de vida? Lembrem-se das famosas palavras do Papa Emérito Bento XVI: “Não fostes criados para a comodidade, mas para a grandeza”. Qualquer grandeza como homens depende deste sacrifício de si e desta luta por ser melhor (pela santidade). O que precisamos é coragem, segurança e humilde confiança nos recursos infinitos de Deus.

O homem deve deixar o egoísmo

Segundo a Sagrada Escritura, o homem é chamado ao sacrifício de um amor generoso, e não a um egocentrismo que o torne refém da busca de um prazer hedonista (e egoísta). Ele é vocacionado por Deus ao sacrifício do renunciar a si mesmo e as suas más tendências todos os dias, para então honrar seus compromissos e cumprir sua missão, cuidando efetivamente das pessoas e realidades que na vida Deus lhe confiou.

Segundo a Bíblia, a missão masculina é uma missão sacrificial

Créditos: Duncan_Andison by GettyImages/cancaonova.com

Ele é chamado à disciplina com relação a si mesmo e ao sacrifício corajoso de si pelo bem dos seus. Ele é vocacionado em toda a Escritura a sacrificar-se para realizar integralmente sua missão. Contudo, a Bíblia o convida ao sacrifício sensato de si, mas não (é claro) ao masoquismo. Masoquismo é um sofrimento sem sentido nem nobreza (pelas causas e motivos errados), já o autossacrifício consciente é a feliz atitude de se entregar pelo bem de uma realidade que realmente nos foi confiada (e que é digna), pela qual nos responsabilizamos e ofertamos nossa vida para cuidar. O ato de se sacrificar conscientemente por uma missão e ideal dá sentido à razão de ser do homem e lhe confere uma alegria muito singular.

O homem não deve ter medo de viver o sacrifício necessário pelo bem dos seus e daquilo que ele acredita (sobretudo por sua família e sua fé): ele precisa cultivar a viril disposição para sacrificar-se cotidianamente no cuidado, no amor, na paciência, no trabalho, na perseverança, na oração, muitas vezes no silêncio e na espera em favor de sua missão e pelo bem de sua família.

O maior exemplo é Cristo

Homem de verdade, segundo a Bíblia, é aquele que tem visão espiritual e sabe que sua entrega de cada dia (no trabalho, no autodomínio, na paciência, no cuidado para com os seus) está gerando frutos de vida e redenção para sua família, e que, impulsionado por um viril amor, se entrega para ser para os seus aquilo que a Bíblia o vocaciona a ser: um outro Cristo. Alguém que se doa inteiramente no sacrifício de cada dia sem “se economizar”, a fim de gerar frutos de vida e fecundidade para os seus.

Homem maduro, segundo a Sagrada Escritura, é aquele que não é narcisista nem fica pensando apenas em seus próprios interesses, mas é aquele que se oferta e se entrega por uma causa que lhe é superior. É aquele que, quando só tem uma vaga no carro, vai de ônibus, para que sua mulher e sua filha possam ir de carro. É aquele que, quando necessário, levanta-se de madrugada para levar o filho ou outro familiar para o hospital. É aquele que fica sem dormir ou comer, se necessário, para cuidar e alimentar os seus.

É aquele que cuida da esposa doente, que ajuda nas tarefas de casa (na louça, na limpeza etc.), que se envolve na educação dos filhos, que sabe “segurar a onda” e consegue ficar sem sexo durante (e após) a gravidez da esposa e nos períodos do seu resguardo, que trabalha em dois (ou mais) trabalhos, se necessário; enfim, que se sacrifica pelos seus sem medo e não fica olhando apenas para as próprias necessidades.

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À semelhança do sacrifício de Jesus, o realmente viril, segundo a Escritura, é aquele que entrega sua vida gradativamente (no sacrifício e na renúncia de cada dia) para que outros tenham vida, saúde e se salvem (cf. Mc 9,35). Não faz parte da masculinidade bíblica uma fragilidade excessiva e egocêntrica, ou um narcisismo preguiçoso que faça com que o homem olhe apenas para o próprio umbigo. Ser homem, segundo a Escritura Sagrada, é ter uma constante disposição ao sacrifício do próprio tempo, habilidades, do prazer pessoal e até da própria vida (se necessário), entrega essa que é sempre valorosa e inteligente, pois é feita com amor realmente másculo e com um sentido de fé.

É claro que este sacrifício precisa ser sábio e sensato, e não camicase e irrefletido. Sacrificar-se não significa ser imprudente, colocando em risco a própria saúde, segurança e a própria vida, o que deixaria a família (em virtude de uma morte ou invalidez) ausente do cuidado e da proteção deste homem em questão. Não é apenas um autonegar-se de maneira insensata, ao contrário, significa possuir-se e ser inteiro (sabendo cuidar de si e investir nos próprios talentos) para, exatamente por isso, tornar-se capaz de direcionar tudo para um sacrifício sincero de autodoação e cuidado para com os seus e no exercício da missão que lhe foi confiada.

É claro que o homem pode ter momentos de fragilidade e fraqueza (como já afirmei), isso é humano e natural. Todavia, não faz parte de sua constituição e chamado escolher morar na fragilidade e no coitadismo, fazendo-se sempre de vítima e fraco diante dos infortúnios da vida. O homem precisa ser um constante lutador, que não desiste diante dos problemas nem foge diante dos sacrifícios que lhe são requeridos por sua missão.

Homem, Deus está contigo

Não diz da natureza masculina uma fragilidade e autoproteção excessivas, e tal realidade contradiz o chamado de todo homem a partir do ensinamento da Sagrada Escritura, pois todo homem deve assumir para si o que disse Deus a Josué no capítulo 1, versículo 9, de seu livro: “Isto é uma ordem: sê firme e corajoso. Não te atemorizes, não tenhas medo, porque o Senhor está contigo em qualquer parte para onde fores!”.

Ali, Josué estava para assumir uma grande e desafiante missão: a de substituir o grande Moisés e introduzir o povo de Deus na Terra Prometida, e, diante do medo e da insegurança que aquela situação poderia evocar, Deus dá a Ele essa ordem, direcionando-o para a bravura e com compromisso com sua missão. É claro que Deus lhe assegurou que estaria sempre com Ele; contudo, ordenou para que Ele não olhasse para trás nem se comparasse com os outros, ao contrário, disse a Ele: “Ordeno-te que seja forte e corajoso, e que enfrente sua missão como um homem disposto ao sacrifício de si”.

É evidente que será sempre desafiante viver esse tipo de entrega sacrificial, que doa integralmente a própria vida para salvar e cuidar do outro (sobretudo da própria família), mas a ideia e noção psicológica deste tipo de entrega estão associadas ao masculino em toda a Escritura. Além de que, como já apresentamos, essas virtudes e este tipo de postura estarem, historicamente, ligados à identidade masculina.

Sempre cuidar e defender

Deus enxerga cada homem como um “valente guerreiro” (Jz 6,12) vocacionado à bravura do sacrifício, e, como Ele mesmo ordenou a Gideão, também determina hoje a você, querido irmão: “Vai com essa força que tens e livra Israel (os seus) dos medianitas (dos inimigos). Porventura, não sou eu que te envio?” (Jz 6,14). E, ainda: “Eu estou contigo, valente guerreiro!” (Jz 6,12).

Há algum tempo aconteceu, em um pequeno país ocidental, uma manifestação pública na qual os homens exigiam o direito de serem sempre frágeis e de serem constantemente cuidados por suas esposas, e alguns deles exigiam até mesmo o “direito” de, por exemplo, colocar a esposa ou a namorada na frente do ladrão quando este fosse atirar, ao invés de defendê-la e protegê-la, sacrificando-se por ela. Achei curioso este tipo de manifesto por parte de tais homens, e afirmo que isso não tem nada a ver com a missão e vocação do homem segundo a Bíblia, pois, mesmo não tendo que ser um macho glutão e rude, o homem é, sem sombra de dúvida, chamado ao amor-sacrifício em toda a Escritura Sagrada, e a sua real virilidade consistirá no entregar-se até as últimas consequências para cuidar e defender os seus.

A fragilidade faz parte, mas não é a vocação do homem

Este tipo de responsabilidade e missão não devem tornar o homem amargo e sobrecarregado, ao contrário, pois ele não está sozinho para cumprir sua vocação visto que tem sua família ao seu lado e, sobretudo, o próprio Cristo (que é o homem que Se autossacrifica por excelência) para fortalecê-Lo e guiá-lo em tudo na concretização de seu propósito de vida e em sua missão.

Mais uma vez afirmo: o homem tem, sim, o direito de ter momentos de fragilidade e deve sim ser sensível (do jeito masculino, é claro), contudo, ele precisa sempre cultivar a resiliência e a disposição de alguém que se percebe vocacionado ao sacrifício de amor, e que por isso necessita sempre estar pronto a entregar a própria vida pelos seus e por aquilo que ele crê.

Trecho extraído do livro “Curar e Restaurar O Masculino : Uma Jornada pela Cura da Masculinidade” do padre Adriano Zandoná.