Independência do Brasil

A data de sete de setembro e o valor de ser brasileiro

O Grito do Ipiranga, célebre pintura de Pedro Américo que registra o momento da proclamação da independência do Brasil, é poético, contudo não encerra em si todo o processo que culminou na emancipação do Brasil de Portugal.

É importante frisar que, desde o início dos processos coloniais, no século XVI, até a proclamação da independência no século XIX, o Brasil se construiu como nação gradativamente, alicerçando a identidade de seu povo, sua língua e sua cultura. Esse processo, nem sempre linear, foi intrinsecamente ligado ao contato das inúmeras culturas, tanto dos povos originários, dos colonizadores e aqueles que foram traficados como mão de obra escrava.

A língua basílica

Um exemplo dessa construção é a necessidade da compilação de “Arte de língua brasílica” pelo Beato José de Anchieta, em 1595, que viria a se tornar leitura obrigatória para os que vieram posteriormente em missão para as terras de Santa Cruz, e demonstram que para os primeiros brasileiros, o português não era a língua vernácula. Isto, em grande parte, deve-se ao simbiótico relacionamento entre os assentamentos portugueses, especialmente na Capitania de São Vicente, e as populações indígenas.

A chamada língua brasílica era uma adaptação das línguas tupi e guarani, grupos mais comuns a conviver tanto com os colonos portugueses quanto com os missionários jesuítas. Esta é evidente na escolha do nome de inúmeras cidades, como Aracaju, Araçatuba, Atibaia, Curitiba, Guaratinguetá, Pindamonhangaba etc.

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O bandeirantismo e a expansão territorial

Durante a chamada União Ibérica, o bandeirantismo chegou ao seu auge, ultrapassando os limites do Tratado de Tordesilhas, alcançando as grandes dimensões territoriais, próximas ao território atual. Período este que teve início, em 1580, depois da morte de Dom Sebastião, último rei da casa de Avis, que morreu na Batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos. Este, não tendo deixado descendência, teve seu trono reclamado pela dinastia filipina do Reino da Espanha, que assim uniu os domínios ultramarítimos espanhóis e portugueses.

A Aclamação de Amador Bueno

Com a Restauração da Independência, ocorrida em 1640, que culminou na dissolução da União Ibérica, ocorreu aquela que é considerada a primeira revolta nativista, a Aclamação de Amador Bueno, uma das primeiras insinuações de independência do Brasil em relação a Portugal em 1641. Esta, no entanto, foi muito mais simbólica do que prática, visto ser uma manifestação de descontentamento dos bandeirantes em relação às medidas tomadas pela coroa portuguesa.

Reforma Pombalina

A Reforma Pombalina, 1750-1777, foi um dos controversos degraus da história brasileira; se por um lado elevou o Brasil de colônia a Vice-Reino de Portugal, nomeando, neste processo, o Rio de Janeiro como nova capital no lugar de Salvador, por outro, impôs, com violência, o ensino e uso da língua portuguesa e o combate ao uso de línguas nativas. Além disso, a reforma educacional promovida causou a expulsão dos jesuítas.

Neste período, aconteceu um grande conflito conhecido como as Guerras Guaraníticas, conflito entre os guaranis, jesuítas, portugueses e espanhóis, envolvendo a disputa a respeito dos sete povos das missões, resultado do Tratado de Madrid.

A mudança da Corte Real Portuguesa para o Brasil

A mudança da Corte Portuguesa para o Brasil, no período das Guerras Napoleônicas, foi um dos grandes momentos para ascensão brasileira. Durante esse período, o Brasil experimentou um novo status e centralidade dentro do Império Português, sendo elevado a Reino Unido a Portugal e Algarves, em 1815, pelo Príncipe Regente Dom João. Além disso, neste transcurso da presença da família real no país, ocorreram importantes transformações, como a Abertura dos Portos às nações amigas, em 1808, o que permitiu um maior desenvolvimento econômico e comercial.

A vinda da corte também trouxe mudanças significativas para a estrutura política e administrativa do Brasil, com a criação de instituições como a Academia Militar, a Imprensa Régia e a Biblioteca Real, que ajudaram a promover o desenvolvimento intelectual e cultural do país.

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Esses movimentos de revolta foram fundamentais para a formação do sentimento nacionalista brasileiro e para a consciência da necessidade de se livrar do domínio português. No entanto, foi somente em 7 de setembro de 1822 que a independência do Brasil foi proclamada oficialmente.

A Independência

Diferentemente do retrato heroico pintado por Pedro Américo, a independência do Brasil fez-se por meio da diplomacia, da legitimidade e buscando evitar as sangrentas revoluções, como foram comuns a independência das demais colônias da América Latina Espanhola. Este processo foi, sobretudo, gestado pelo Conselho de Estado, que era presidido pelo Príncipe Regente Dom Pedro. Contudo, na ocasião da proclamação, era presidido pela Princesa Dona Leopoldina.

Não se pode, no entanto, afirmar que o processo se deu sem resistência, visto que uma parte dos portugueses presentes no Brasil, não aceitando o processo da independência, resistiu militarmente, levando a uma série de conflitos que ficaram conhecidos como Guerra da Independência do Brasil, que findaram com o Tratado de Amizade e Aliança firmado entre Brasil e Portugal, assinado em 29 de agosto de 1825, ou seja, 3 anos após o 7 de setembro.

A independência do Brasil marcou o fim de um longo processo histórico de construção da identidade brasileira, que envolveu a interação e influência de diferentes culturas e a luta pela autonomia política. Esse momento significativo na história brasileira abriu caminho para a consolidação do país como uma nação independente, que continuou a moldar sua identidade ao longo dos anos seguintes.

O Sete de Setembro e o ser brasileiro

Hoje, vivemos em um mundo globalizado, onde a cultura de massas transcendeu a simples expressão de questões regionais. Idiomas, história e identidade se tornam efêmeros frente à emergência de se adaptar para estar sempre pronto a absorver tudo a que temos acesso. Contudo, é tempo de lembrarmos de quem somos, de onde viemos enquanto nação. O conhecimento do mundo não deve obliterar a consciência de quem somos como povo.

O Brasil possui uma história rica, marcada sobretudo pela superação dos brasileiros, do intercâmbio entre os inúmeros povos que cimentaram seu caminho, temos o legado de culturas que não podemos desprezar. A revolução, a ideia de que estamos construindo algo do zero, desprezando o que foi antes de nós, é tentadora, mas se reconhecemos que somos mais do que nós mesmos, entendemos a riqueza que nos foi deixada.

Portanto, ao celebrar o Sete de Setembro, devemos não apenas comemorar a independência do Brasil, mas também refletir sobre todo processo histórico que nos trouxe até aqui. Devemos valorizar as conquistas, mas também reconhecer os desafios e as lutas que ainda enfrentamos como sociedade.

É crucial compreender a diversidade cultural, étnica e linguística que compõe a identidade brasileira. O Brasil é um mosaico de costumes, tradições e saberes que enriquecem nossa sociedade. Então, neste Sete de Setembro, celebremos não apenas a data em si, mas também todos aqueles que lutaram e contribuíram para a construção do Brasil que conhecemos hoje. Valorizemos a nossa diversidade, a nossa cultura e a nossa história, pois é isso que nos torna verdadeiramente brasileiros.

Jonatas Passos –  natural de Cruzeiro (SP), marido, pai e colaborador da Fundação João Paulo II. Formado em Tecnologia, Informática e História. Pós-Graduado em Jornalismo e História do Brasil, com extensão em História da Religião.