Jesus nos ensina que devemos aprender a servir ao próximo
Jesus, que veio para servir e não para ser servido (Cf. Mc 10, 45), formou seus discípulos de todos os tempos na escola do serviço mútuo. Desde sempre, mesmo com o mistério do pecado, que provoca escândalos, divisão e todos os seus frutos (Cf. Lc 17, 1-4), o Senhor se faz presente, proclamando a misericórdia, espalhando o perdão, edificando a reconciliação e a paz. Até hoje, o serviço prestado pela Igreja, quando vivido com autenticidade, tem o rosto da caridade.
Só que os discípulos, desde tempos idos, devem ser continuamente formados e corrigidos. O Evangelho de São Lucas (cf. Lc 17, 1-10) reflete os caminhos para solucionar problemas vividos pelas primeiras gerações de cristãos, além de anunciar a Palavra de Jesus. Dali, colhemos ensinamentos para nossa vida pessoal e nas comunidades cristãs. Começa dos pequenos, os mais simples, a serem respeitados, que não podem ser escandalizados nem devem estar no coração da comunidade cristã (cf. Lc 17, 1-2). Com eles, ganham destaque (cf. Lc 17, 3-4)os mais fracos e pecadores, com os quais, “sete vezes”, isto é, sempre, há que se perdoar!
Certamente, a proposta de Jesus causa, até hoje, reações, parecendo impossível vivê-la integralmente. Só com a fé e a confiança total em Deus! (cf. Lc 17,5-6). Com a fé, podemos tornar-nos capazes de destruir a montanha de preconceitos existentes no relacionamento entre as pessoas, para jogá-la ao mar e tornar-nos livres e irmãos de verdade. Assim se pode compreender o que o Senhor pede, quando exige que os cristãos se sintam quais servos inúteis. Trata-se de servir aos outros sem buscar retribuição, apoio ou elogio. Mais adiante, a gratidão e a simplicidade, que não vão atrás da propaganda enganosa (cf. Lc 17,11-21), completam esse pequeno manual de vida cristã em comunidade! E ele pode ampliar seu alcance para a sociedade!
Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com
O papel do cidadão nas eleições
Justamente neste fim de semana, o Brasil inteiro vai às urnas para eleger as pessoas que deverão estar à frente dos poderes executivo e legislativo dos municípios de nosso país, chamados a servir e não ser servidos. Podemos imaginar a dificuldade para qualquer candidato acolher a provocante proposta de Jesus: “Assim também vós: quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos simples servos; fizemos o que devíamos fazer'” (Lc 17,10).
Embora não tenha nenhum partido político nem faça campanha partidária, a Igreja pode e deve orientar os seus fiéis sobre a importância de seu voto consciente e correto. “A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política, não pode nem deve se colocar no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça. Deve inserir-se nela pela via da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça não poderá firmar-se nem prosperar” (Bento XVI, Deus Caritas Est, n. 28).
Na Doutrina Social da Igreja, “política” é “uma prudente solicitude pelo bem comum” (João Paulo II, Laborem exercens, 20). “Os fiéis leigos não podem, de maneira nenhuma, abdicar de participar na ‘política’, ou seja, na multíplice e variada ação econômica, social, legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover de forma orgânica e institucional o bem comum” (João Paulo II, Christifideles laici, 42).
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Infelizmente, a corrupção eleitoral ainda é um problema enraizado na mentalidade do nosso povo. Muitos acham natural a troca do voto por algum favor do candidato. É preciso instalar uma nova consciência política e mudar a situação com o nosso voto. Voto não se vende. “Voto não tem preço, tem consequências”. Não se deve votar apenas levados pela propaganda, pela maioria, pelo interesse financeiro pessoal ou por pressão. Cada um é responsável pelo seu voto e suas consequências. O voto para escolher o prefeito e vereadores é importante. Depende de cada um de nós que o município seja governado por pessoas que desejam o bem de todos. Quem não cuida honestamente de seus negócios pessoais ou empresas não tem condições de representar o povo na prefeitura nem na câmara de vereadores. Cabe-nos escolher candidatos que não trocam seu voto por tijolos, bolsas de alimentos, remédios, promessas ilusórias para melhorar seu bairro, candidatos que respeitam e valorizam a família, candidatos com ficha limpa, que não aumentem seus bens pela corrupção.
Vote consciente
É necessário campear no meio do imenso leque dos homens e mulheres que se apresentam como candidatos, para ver quem valoriza a educação das crianças, adolescentes e jovens, o ensino religioso nas escolas e o atendimento melhor à saúde, quem respeita a vida em todas as idades e é contra o aborto.
Especialmente em nosso ambiente, verificar quem respeita o equilíbrio da natureza – florestas, rios –, promove o saneamento básico e a construção de moradia em lugares sem risco. Em quem apresenta projetos práticos por transporte digno para a população. Em quem se compromete com uma organização eficaz para a segurança e paz da sociedade (cf. Dom Fernando Rifan, Eleições 2012).
Um dos princípios basilares do Ensinamento Social da Igreja, a busca do bem comum, pode ser um critério adequado para o exercício da cidadania nas eleições municipais. Essa é uma das fragilidades da prática política em nosso país. Grupos ideológicos ou setoriais visam, em primeiro lugar, seus interesses corporativos em vez de compreender a política, que, em si é uma alta forma de caridade, como o caminho para se buscar o bem de todos, considerando como privilegiados os mais frágeis da sociedade, os pobres e excluídos, que clamam por justiça!
Enfim, podemos olhar para Jesus, o Filho de Deus, condenado à morte por um conluio político-religioso no tempo da ocupação romana na Palestina. Por causa de sua confiança no Pai, acolheu a todos como irmãos, interpelou um sistema político vigente, que mantinha marginalizadas tantas pessoas. Conduzido à morte no Calvário, diante de seus algozes, do alto do trono da Cruz, aquele que veio para servir e não para ser servido é capaz de dizer: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34). É ousadia, mas o perdão, a reconciliação, a capacidade para olhar os adversários na política e na sociedade como irmãos, tudo isso pode ser o caminho para o dia seguinte às eleições!