A morte do Papa Francisco: o que acontecerá agora?

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Na manhã daquele 21 de abril muitos se perguntavam se era verdade a notícia que circulava nas redes sociais, nos aplicativos de mensagem. Não demorou muito a confirmação: “O Papa morreu”. Uma das lideranças mundiais mais significativas e referenciais deixava seu legado de simplicidade, empatia e misericórdia. Junto com o vazio da ausência, a pergunta que acompanhava a todos era: o que acontecerá agora?
O Conclave: lições de um tempo histórico
A Sala de imprensa do Vaticano substituiu os boletins diários sobre a saúde do Papa pela nota de falecimento e as comunicações constantes dos passos sucessivos. A Igreja não estava à deriva, não estava sem Governo, acabara de entrar em um Governo em transição. Da morte de Francisco até o início do conclave neste dia, 07 de maio, três momentos foram claramente identificados: O luto – Funeral; o Pré Conclave; o Conclave. Esta tríade traçava assim um percurso realizado pelos mais de 170 cardeais que aos poucos foram chegando a Roma.
Cardeais Brasileiros no conclave
Entre os muitos cardeais estavam oito brasileiros. Destes oito, sete estavam hospedados no Pontifício Colégio Pio Brasileiro, e destes sete, seis eram cardeais eleitores. Ficaram hospedados no Pio Brasileiro os eleitores: Dom Jaime Spengler, Dom Leonardo Ulrich Steiner, Dom Odilo Pedro Scherer, Dom Orani João Tempesta, e Dom Paulo Cezar Costa, com eles estava o Cardeal Emérito de Aparecida Dom Raimundo Damasceno Assis, o oitavo Cardeal era Dom João Braz de Aviz, que já reside em Roma desde que iniciou seus trabalhos na Cúria Vaticana.
As dimensões do imaginário e do real
Se analisarmos o falecimento do Papa, o período pré-conclave e o próprio conclave como um evento histórico, podemos identificar duas dimensões distintas: o imaginário e o real. A dimensão imaginária é formada pelas percepções individuais, fortemente influenciadas por representações culturais – seja por filmes, livros ou narrativas midiáticas sobre eventos similares. Trata-se de uma realidade construída a partir de referências prévias. Já a dimensão real corresponde aos fatos que ocorrem no cotidiano do processo, muitos dos quais permanecem inacessíveis ao público. Neste cenário, movido pelo imaginário coletivo, as pessoas tendem a criar inferências, elaborar hipóteses e desenvolver especulações sobre o que realmente está ocorrendo.
A comunicação institucional da Igreja no conclave
Ao longo de todo o processo – desde o falecimento do Papa até a realização do conclave, a Igreja enfrentou o desafio de manter uma comunicação eficaz em meio ao caos informativo da era digital. A instituição precisava navegar entre uma avalanche contínua de informações e desinformações que circulavam através de celulares, e-mails e até mesmo de certos veículos de imprensa. A comunicação eclesial, ou se preferirem a comunicação institucional da Igreja, neste contexto crítico, foi testada em seus limites: era necessário conciliar a transparência sobre os acontecimentos e próximos passos com a imprescindível preservação do sigilo quanto a etapas decisivas – cujo eventual vazamento poderia influenciar o processo eleitoral. Ao mesmo tempo, cabia à Igreja proporcionar adequada formação, ajudando os fiéis e o público em geral a compreender a singularidade daquele momento histórico e seu profundo significado.
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Experienciar este momento foi único, e aqui me permitam um breve relato pessoal. Como escrevi, no imaginário das pessoas havia uma disputa política por busca de poder muito grande, comentadores das mais diversas áreas do conhecimento traçaram perfis e análises, muitas delas fortalecendo o imaginário das pessoas. Como residente do Pontifício Colégio Pio Brasileiro, coordenador do departamento de comunicação do colégio, eu estava vivendo o real, por dentro do fato. E pensava sempre que era difícil se fazer análises sendo parte do processo. Fui educado pelo rigor da pesquisa científica que a melhor visão sobre um dado se pode ter quando se toma certa distância dele.
A beleza e a riqueza da Igreja Católica Apostólica Romana
No entanto, este “estar no processo” me permitiu acessar o real, o cotidiano, as impressões, as percepções, a temperatura do momento. E, em uma frase carregada de personalismo e subjetivismo, posso afirmar: eu testemunhei a beleza e a riqueza da Igreja Católica Apostólica Romana. Beleza presente na harmonia, na unidade entre os Cardeais que não pouco encontrei à mesa das refeições, nas entrevistas individuais com falas tão marcadas pela experiência comunitária. Riqueza revelada na simplicidade, no serviço e no desejo de se alcançar o bem comum na Igreja e na sociedade.
Uma experiência com a fé primitiva
Conviver nestes dias foi uma experiência de fé primitiva, como aquela das primeiras comunidades cristãs narrada pelo livro de Atos dos Apóstolos. Partilha, sinodalidade, e oração foram as características fortes deste tempo. Se tornou evidente uma espiritualidade que nominei ESPIRITUALIDADE DO CAMINHO. Entendendo espiritualidade como aquilo que nos move, só quando estamos caminhando, juntos, fazemos a mesma experiência do amor e da providência de Deus que fez o povo no deserto com Moisés; quando nos colocamos a caminho reconhecemos Deus que age em meio nossas fraquezas e limitações como fez com Abraão tirando-o de Ur dos caldeus; apenas no caminho somos consolados pela empatia e a misericórdia de Deus, como o foram aqueles dois discípulos retornando a Emaús.
Um mundo melhor é possível
No momento que escrevo este texto ainda não se tem claro quem será o novo Papa para Igreja, mas uma coisa é muito certa: juntos caminharemos e neste caminho faremos a experiência de sermos tocados pela Graça de Deus. Se posso chamar de lições, o que este momento histórico imprimiu em mim foi a certeza de que aquele “vinde e vede” de Jesus foi mais que provocador, foi transformador. Os jornalistas que vieram, viram! Os cardeais que vieram, viram! Os peregrinos que vieram, viram! Quem duvidava do poder da empatia, da escuta e da oração, testemunhou que um mundo melhor é possível – mas não quando ficamos presos a meias verdades, nem quando nos contentamos com qualquer informação (ou desinformação) que aparece.
O desejo de fazer diferente não basta se não for acompanhado pela ação que faz a diferença. Vivamos este novo tempo!
Padre Robson Caramano
Padre da Diocese de São Carlos, Mestre em Linguagens, Mídia e Arte pela PUC Campinas e aluno do Programa de Mestrado em Filosofia com Especialização em Filosofia Prática da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Coordenação do Departamento de Comunicação do Pontifício Colégio Pio Brasileiro