Certamente uma das maiores derrotas da humanidade é o fato da guerra. Derrota, porque na guerra ninguém sai vitorioso. Ela nunca terá sentido ou justificativa plausível. Por isso, precisamos observar cuidadosamente a forma como comentamos sobre esta realidade. Principalmente quando tentamos justificar partindo de uma visão simplória. Mas, é interessante que meditemos sobre este tema. A fim de que entendamos os fundamentos que levam os homens a travar batalhas contra seus semelhantes.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / Krea.
Rápida visão histórica do modo de fazer guerra
O modo de fazer guerra foi modificado ao longo dos séculos. Começou-se de forma muito rudimentar e limitada. Com as primeiras colônias humanas com o intuito de defender seus recursos primários, ou de buscar os mesmos. Mas, com o passar do tempo e o evoluir das técnicas, o modo de fazer guerra mudou. E em pouco espaço de tempo transformou drasticamente. O que não mudou ao longo dos séculos são as mortes, sofrimentos psicológicos e humano-afetivos. Estas feridas continuam a ser sentidas em todas as eras.
Quando pensamos em guerra, muitas vezes pensamos naquele combate corpo a corpo. Soldado contra soldado. Que medem forças em combates diretos. Ou, como vemos em filmes ambientados na primeira ou segunda grande guerra, com trincheiras cavadas num campo aberto, onde os dois exércitos atiram uns contra os outros.
O modelo de fazer guerra
Hoje o modelo de fazer guerra, diz muito mais sobre controles remotos e botões do que propriamente e diretamente no combate entre os soldados. Isto leva a um desastre ainda maior. Porque colocou todos os lugares do mundo em completa insegurança. Anteriormente os campos de batalha eram os lugares mais tensos num combate, existiam locais estabelecidos previamente para o combate. Normalmente eram estrategicamente montados como forma de proteger regiões importantes como fábricas, e cidades inteiras. Agora nenhum desses lugares está seguro.
Mísseis podem ser lançados do outro lado do globo terrestre em um local tão preciso. Tais artefatos podem viajar em velocidades impressionantes, e carregar um poderio destrutivo que chega a assustar até os mais entendidos nestas técnicas.
Atualmente, instrumentos, artigos, tecnologias e armamentos para o combate têm tomado o cenário da crise geopolítica. Diversas nações buscam desenvolver armas com capacidade cada vez maior de destruição, a fim de intimidar outras nações consideradas inimigas.
Alguns dados sobre as guerras
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) cerca de 30 países estiveram envolvidos no conflito. Durante a Segunda Guerra Mundial, considerado o maior conflito da história, mais de 72 países estiveram envolvidos no conflito.
Atualmente, segundo dados na internet, cerca de 120 nações em todo o mundo estão vivendo algum tipo de conflito armado em curso, onde 60 dos 193 Estados ligados às Nações Unidas, estão em conflitos. Isso significa 31% dos países do mundo. Alguns destes, são de caráter local, como as chamadas “guerras civis”, ou seja, não são conflitos com outras nações diretamente falando.
Apesar do nosso país não estar diretamente ligado a algum conflito ou, oficialmente, não estar em guerra, nem mesmo interna, chamada guerra civil, vivemos um verdadeiro conflito armado cotidianamente contra facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas. Isso coloca uma tensão sobre a vida comum das pessoas. Mas, sem minimizar o sofrimento de quem vive em lugares de conflito, não poderíamos comparar a angústia de quem vive o tempo inteiro sobre a tensão de uma possível bomba cair sobre sua cabeça ou, ter a liberdade de ir e vir cerceada por causa de um possível bombardeio. Pensando assim, acho importante que nós que vivemos em paz, devemos refletir um pouco sobre o tema das guerras.
Existe alguma justificativa para se fazer guerra?
A resposta a esta questão do ponto de vista cristão é muito simples: não existe justificativa. Mas do ponto de vista meramente mundano, porque não entendo este como sendo humano, ele poderia ser justificável sobre diversos modos, que vão desde interesses escusos, especulativos, até religiosos, o que nos assombra ainda mais. Por isso, diante destes números poderíamos questionar os reais motivos dessas guerras. Mas, como o cenário é bastante complexo, fica difícil dar uma única “justificativa” para o desenrolar deste ou daquele conflito. Usamos a palavra justificativa entre parênteses, porque não creio haver uma justificativa qualquer para o uso da força e da violência, pois para mim ela nunca será racionalmente justificável.
Mas apresentamos alguns argumentos comumente utilizados:
- Segurança Nacional e Defesa, principalmente quando se fala de soberania da nação, prevenção de ataques dos outros, ou para proteger os cidadãos;
- Interesses Geopolíticos e Econômicos, este últimos têm sobressaído nos últimos tempos, pois tende a estabelecer disputas por recursos naturais importantes, como combustíveis, gás, água entre outros. Mas também controle de rotas comerciais, influência, investimentos financeiros.
- Questões ideológicas e políticas. Promoção de sistemas de governo ou ideologias muitas vezes justificáveis como democracia, socialismo, liberalismo econômico. Outros conflitos estão no âmbito do combate ao terrorismo, ou por mudança de regime de governo, algumas vezes pressionados por países aliados. Apoio a sistemas separatistas ou de libertação e independência.
- Outros conflitos são de caráter histórico ou cultural. Também entram aqui questões de religião, reivindicações de territórios históricos, nacionalismos.
- Também tem um ponto que tem sobressaído nos últimos tempos, que é o controle pela informação e pelas novas tecnologias, como a inteligência artificial. Alguns justificam que redes sociais podem ser causa de espionagem ou de implantação de espionagem velada.
Enfim, diversas são as “justificativas” e argumentações para se desenvolver guerra, mas, repito, nenhuma delas poderiam verdadeiramente ser aceitas por quem segue o Deus da paz, Cristo Jesus.
Leia mais:
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.:Você está pronto para a guerra?
.:Até que ponto a guerra entre países é legítima, segundo a Igreja?
Paz na Terra
O Santo Padre o Papa São João XXIII, em 1963, publicou uma encíclica chamada “Pax in Terris”. Esta foi a primeira Encíclica em que o Papa não se dirigiu diretamente aos católicos, mas a “todos os homens de boa vontade”. Quando o Papa publicou esta Encíclica o mundo vivia a chamada “Guerra Fria”. O Papa então utilizando do seu magistério convocou o mundo a urgente necessidade de promover a paz mundial baseada na verdade, justiça, caridade e liberdade.
Esta mesma Encíclica agora é mais atual como nunca. Precisamos trazer em nossas mentes e em nossos corações que é urgente o estabelecimento da paz. Já alguns comentaristas, dizem de uma iminente Terceira Guerra Mundial, pelos números apresentados anteriormente penso que já estamos vivenciando o prelúdio desta guerra. Mas, penso ser ainda tempo de interromper esta sinfonia marcada pelo drama e por fortes movimentos.
A paz na Terra, certamente só será construída diante destes quatro pilares apresentados pelo Papa.
- A verdade deve prevalecer e não os interesses individuais transvestidos de caridade.
- Deve manifestar a verdadeira caridade que provém do termo latino, muitas vezes traduzido por “amor”. Amor que vem de Deus, que atravessa o coração humano e chega a todos os cantos do mundo.
- Para que seja implantada a justiça, a fim de que aqueles que não desejam promover a paz, sejam removidos de seus postos e possam estes serem ocupados pelos verdadeiros promotores da paz e da liberdade dos povos.
- A fim de que a ninguém seja imposto o julgo da escravidão, principalmente aquela do pecado, que já foi redimido pelo sangue de Cristo.
Por fim, rezemos, irmãos caríssimos, pela paz em nossas comunidades, em nosso País e no mundo inteiro.
Salmo 121
1.Cântico das peregrinações. De Davi. Que alegria quando me vieram dizer: “Vamos subir à casa do Senhor…”.
2.Eis que nossos pés se estacam diante de tuas portas, ó Jerusalém!
3.Jerusalém, cidade tão bem edificada, que forma um tão belo conjunto!
4.Para lá sobem as tribos, as tribos do Senhor, segundo a Lei de Israel, para celebrar o nome do Senhor.
5.Lá se acham os tronos de justiça, os assentos da casa de Davi.
6.Pedi, vós todos, a paz para Jerusalém, e vivam em segurança os que te amam.
7.Reine a paz em teus muros, e a tranquilidade em teus palácios.
8.Por amor de meus irmãos e de meus amigos, pedirei a paz para ti.
9.Por amor da casa do Senhor, nosso Deus, pedirei para ti a felicidade.
Pe. Jaelson C. Santos
Referências
João XXIII, Pacem in Terris, 1963, em https://www.vatican.va/content/john-xxiii/pt/encyclicals/documents/hf_j-xxiii_enc_11041963_pacem.html [acesso: 16.6.2025].
«Feliz Ano Novo, com 120 guerras em andamento no mundo», em Nexo Jornal, em https://www.nexojornal.com.br/feliz-ano-novo-com-120-guerras-em-andamento-no-mundo [acesso: 16.6.2025].
«O que foi a Guerra Fria?», Brasil Escola, em https://brasilescola.uol.com.br/guerras/guerra-fria.htm [acesso: 23.6.2025].
«Primeira Guerra Mundial: resumo, estopim, consequências», Mundo Educação, em https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/primeira-guerra-mundial.htm [acesso: 23.6.2025].
«Primeira Guerra Mundial: tudo sobre essa guerra global», Brasil Escola, em https://brasilescola.uol.com.br/historiag/primeira-guerra.htm [acesso: 23.6.2025].