Primeiros passos

Volta às aulas: ansiedade, angústia e muitas lágrimas!

Por que a volta às aulas causa uma mistura de sentimentos?

Recordo-me, com certa angústia, daquele portão de madeira sendo fechado. Do lado de fora, ela ficava a me olhar, meus braços tremiam de medo e as lágrimas escorriam dos meus olhos. Alguém, que eu acabara de conhecer, segurava-me e dizia palavras de conforto, assim foram os meus primeiros dias de aula.

O ano começa e com ele a primeira vez ou o retorno às aulas! Sentimentos se misturam e se confundem. Parece que, como pais, estamos sendo monstros ao deixar nossos filhos naquele lugar que, até então, apresenta tantas promessas de cuidado. No entanto, nada nos consola, menos ainda parece consolar nossos pequenos. É preciso enfrentar! Sobreviver parece o verbo melhor a ser conjugado.

Volta as aulas ansiedade, angústia e muitas lágrimasFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Colocar o filho na escola – seja ele bebê, criança em idade pré-escolar ou até mesmo um pré-adolescente – gera muitos sentimentos, os quais precisam ser olhados. Quero deter-me aqui aos bebês e crianças pequenas, que são colocadas em berçários, creches, maternal etc. Se puder ajudar, trabalharei alguns pontos que devemos observar.

Angústia de separação

Por nove meses, o bebê estava tão junto, que estava dentro. Depois, passou por meses onde o colo era o lugar de maior tempo a habitar; de repente, vê-se em outros colos, outros lugares e sob outros olhares. Sim! Não estou tão junto! E o pior: será que estou dentro? Sem parar em uma idade cronológica, mas me detendo aos sentimentos que a separação ocasiona, é preciso estar atento aos sentimentos dos filhos. Ele ainda não consegue se entender como um “eu sou”, e a ansiedade gerada pela separação dos pais, em especial da mãe, gera uma imensa angústia. Nessa hora, é preciso nomear a experiência que ele está vivendo. Diante do choro inconsolável do filho na escola, vá nomeando tal experiência a ele: “Eu o entendo, meu filho, deve ser muito difícil ver mamãe e papai sair e deixar você aqui, não é? Parece que papai e mamãe nunca mais voltarão! Eu entendo, por isso quero dizer que pode ficar tranquilo, você está tão dentro da gente, que não o deixaremos. Essas horas que você ficará aqui são horas onde pode brincar, estar com outras crianças; depois, mamãe e papai virão pegar você!”.

Frente à angústia de separação, a vivência de ansiedade extrema pode ser muito prejudicial ao desenvolvimento e pode levar à cristalização de padrões relacionais desadequados, como o desamparo existencial internalizado. Esteja atento ao seu filho, não o compare com nenhum outro, pois a experiência dele é única e precisa ser valorizada.

Entre a tolerância e o intolerável

Algumas crianças colocam-se de forma tranquila ao entrar na escola. Elas entram naquele lugar desconhecido com desejo de exploração, com vontade de conquistar territórios e anseio de dar um passo a mais em seu jeito de se colocar no mundo. Há crianças que olham para aquele lugar como algo assustador, como uma invasão em seu pequeno mundo ainda em construção e, sim, querem, a todo custo, que você o tire dali o quanto antes!

Como administrar a tolerância, a frustração, em um ser tão pequeno como nosso filho de meses ou poucos anos? Respeite-o no que para ele é tolerável.

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Os primeiros dias no berçário, creche ou escola pode ser de muitas lágrimas. Tende nomeá-las, coloque-se no lugar do seu filho e como ele pode estar se sentindo ali naquele lugar e com aquelas pessoas. Talvez, para ele esteja sendo uma experiência “intolerável”, e não se trata apenas de tolerar ser frustrado, mas sim sobreviver a uma invasão de sentimentos indescritíveis.

Apresente, aos poucos, essa nova realidade. Talvez, por uma hora, depois estenda essa hora, apresente parte da escolinha, depois estenda a outra parte. Perceba o que está sendo apenas uma frustração e o que já está sendo uma invasão para ele. E calma nessa hora! Não corra o risco de olhar e parar no sorriso do filho do outro, que está ao lado se sentindo na Disney. O seu filho não é menos, mas é outra pessoa.

Coloque-se no lugar

Por mais colorida que seja a escola, seu playground supermodernizado ou não, nada disso tira o colorido de seu sorriso como pai e mãe. Entenda que aquela caixa de papelão, que se transforma em carro a circular na sala de estar, é muito mais divertida que qualquer parquinho!

Colocar-se no lugar do filho é sinal de entendimento e empatia por ele. Não faça cobranças, entenda o ritmo de adaptação que ele tem. Respeite-o como pessoa, pois os sentimentos dele não são os seus. É preciso dar tempo ao tempo dele! Talvez, a adaptação dele durará horas ou quem sabe dias e até meses, essa é a oportunidade de dar a ele um espaço potencial para sua construção como pessoa. Não coloque um modelo a ser alcançado que não corresponda à singularidade de seu filho. Ele é único!

Sobreviva!

Esses tempos de adaptações e novidades mexem muito com nossos filhos, mas saiba que mexem demais com a gente. Quantos sentimentos surgem! “Estou abandonando meu filho! Estou sendo um pai ruim, uma ‘mãelévola’!”. Nessa hora, eu digo: sobreviva a si mesmo. Coloque a cabeça e o coração no lugar, reveja seus reais sentimentos e não se aniquile pela culpa e acusação. Inaugure um novo tempo nas relações e vínculos com seu filho.

Termino esse texto partilhando algo com você:

Amanhã, será o primeiro dia de minha filha na creche. Ela só tem seis meses! Dói meu coração e estou aflito, mas sobreviverei. Os papéis só se inverteram. Comecei o texto dizendo que eu ficava do lado de dentro do portão de madeira que se fechava; agora, estarei do lado de fora. Saiba que as lágrimas serão as mesmas. Não deixei de ser gente, mesmo tendo me tornado pai.