Alguns calam por timidez, outros por lhe faltarem as palavras, há ainda os que se calam para ouvirem melhor ou para admirarem a uma obra de arte. Há também os que se calam por reconhecerem-se diante de um mistério. Enfim, há sempre um ou outro motivo que oriente o ato de calar, no entanto, mais do que se possa imaginar, o silêncio é pleno de significado e está sempre comunicando algo e enviando uma mensagem.
O ato de “calar” é um comportamento que comunica, pois, ao contrário do que se possa pensar, é impossível ao indivíduo não comunicar, inclusive no silêncio. Tanto um grande e eloquente discurso quanto uma greve de silêncio passam uma mensagem. O ato de falar e o de calar precisam um do outro, pois, quem fala quer ser ouvido; e, é preciso calar para ouvir.
Alguém que se cala diante de outro que fala, pode assumir esse comportamento por diferentes razões, como: “interesse pelo assunto”; “timidez”; “fuga de conflitos”; “rouquidão”; “falta de disposição para a conversa” etc. Se o locutor for perspicaz e atento á essa mensagem que lhe passa o ouvinte, poderá assumir um novo comportamento, se perceber que isso convém.
Como entender a importância do silêncio?
A atitude de calar é essencial para um bom nível de relacionamento e compreensão do outro, porém, quando não se reconhece essa importância, pode-se cair em sérias dificuldades, dentre as quais destacamos: a rejeição da comunicação (pode se dar a partir da impaciência demonstrada diante do outro que fala: bocejos, inquietude, suspiros etc.; ou da interrupção do discurso do mesmo: abandono da conversa, olhar dirigido para outra direção etc.); a aceitação da comunicação (quando alguém aceita que o outro fale apenas para evitar conflitos ou separações – esse comportamento está longe de ser uma escuta amorosa do que o outro tem para revelar); e a desqualificação da comunicação (a não confirmação do outro: as mudanças bruscas de assunto, o “sair pela tangente”, as frases incompletas, o fazer de conta que não ouviu, as interpretações errôneas, as respostas monossilábicas, a atitude de nada dizer dizendo alguma coisa etc).
Para alcançarmos uma boa interpretação do silêncio, não vejo outra saída senão amar! Parece que estamos sempre voltando ao princípio, não é mesmo?! Tudo o que é bom, nos conduz ao amor, como numa escadinha de vários degraus.
“O silêncio, para todos os místicos e contemplativos, não é ausência, e sim plenitude de comunicação. (…) Evitemos o silêncio negativo do mau-humor, da agressividade, do desgosto, da raiva. É um silêncio que não agrada nem a Deus, nem as pessoas. O silêncio só é válido quando é adoração, escuta, amor. (…) Quando é amor, o silêncio fala. Quando é desamor, o silêncio agride” (Frei Patrício Sciadini, OCD).
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Compreendendo o calar
Lembro-me com muita propriedade de Madre Teresa de Calcutá que, nos seus cuidados aos moribundos, evangelizava mais do que com pregações sobre o Evangelho. Quantas pessoas encontraram Jesus por meio de Madre Teresa sem que ela lhes tivesse dito o nome dele! O calar é também uma atitude de respeito diante do outro e do mistério de sua existência. É um reconhecer-se pequeno e limitado diante de alguém que lhe ultrapassa, seja na sua dor ou na sua alegria. Nossas experiências, nossos conhecimentos nunca serão suficientes para compreender a outra pessoa na sua totalidade e no seu mistério pessoal.
O mesmo se dá no relacionamento com Deus, quando a última coisa que nos resta a dizer é: “Eis o mistério da nossa fé!”. E, nas pegadas e a exemplo de Maria, guardar todas as coisas que Ele nos diz no coração. O ato de calar, se realmente é movido pelo amor, nos faz ouvir melhor a nossa própria consciência, ao outro e a Deus; além de compreender o que se ouviu, meditar e amadurecer as ideias, então, viveremos melhor.
Nesta arte de se calar por amor nos arrisquemos. Mesmo se, até hoje, demos muitos motivos não positivos ao ato de calar, é sempre tempo de recomeçar!
Comunidade Shalom