SANTIFICAÇÃO

A espiritualidade do trabalho santificado também é para você

Na Canção Nova nós trabalhamos muito, porque a nossa espiritualidade é do trabalho santificado. Vivemos em vista da missão e essa missão, que é “evangelizar, comunicar Jesus Cristo e a vida nova que Ele trouxe, pelos encontros e, de maneira preferencial, mas não exclusiva, pelos meios de comunicação social, para formar homens novos para o Mundo Novo”, é sobremaneira exigente. Para realizá-la, fazemos muitas coisas, trabalhamos em muitas áreas, estudamos, coordenamos, dirigimos, limpamos, varremos, filmamos, calculamos, organizamos, consertamos, editamos, escrevemos… Quantos verbos seriam necessários para descrever tudo o que se faz na Canção Nova em vista da missão?

Uma característica fundamental do membro Canção Nova, nos diz o Monsenhor Jonas, é ser trabalhador, estar “disposto a viver a lei do trabalho, a ganhar a vida com o suor do seu rosto”. A espiritualidade do trabalho santificado nos diz que é na labuta do dia a dia que encontraremos as oportunidades criadas por Deus para nos santificar. Seja fazendo uma auditoria, varrendo o rincão, fazendo uma ronda policial, cozinhando para a família, consertando um carro ou escrevendo uma petição, Deus nos dá, em cada uma dessas situações, a graça para crescermos na perfeição.

Essa realidade, contudo, não é exclusiva da Canção Nova. Você, como todo cristão, é chamado à santidade, e pode ser santo no campo de missão em que você se encontra hoje, sem precisar pregar, cantar no microfone, falar de Jesus em frente às câmeras. Só precisa santificar-se por meio do seu trabalho, fazer do seu trabalho a escada que o leva até o céu.

A espiritualidade do trabalho santificado também é para você

Foto ilustrativa: Kuzma by Getty Images

O trabalho é capaz de santificar uma pessoa?

Naturalmente, não é o trabalho por si só que nos santifica. Necessário é, nos ensina Dom Rafael Llano Cifuentes, que tenhamos três cuidados a respeito dele. Em primeiro lugar, precisamos trabalhar bem. Nós fomos chamados à perfeição, por isso não podemos trabalhar de qualquer jeito. Minha função é apertar um parafuso? Farei isso com o máximo de esmero e cuidado. Meu trabalho é ser professor? Da mesma maneira, terei a preocupação de não ser “mais um” professor, porque sei quem é meu patrão: o Senhor. A espiritualidade do trabalho é também a “espiritualidade da alegria, daquele que faz contente o seu trabalho, que tem prazer em fazê-lo e, por isso, se sente satisfeito, realizado mesmo”.

De onde vem essa alegria? De sabermos para quem trabalhamos e para que trabalhamos. O trabalho faz parte da minha missão e é esse olhar que muda tudo. Um pedreiro pode trabalhar exclusivamente pelo seu salário, mas um pedreiro que mantém o olhar no alto, nas coisas de Deus, sabe que o salário é importante, mas levantar as paredes de uma casa, rebocá-la, assentar um piso, são tarefas que têm um significado espiritual: moldarão o homem novo, à semelhança de Cristo no dia a dia, na virtude da paciência, que precisa ser cultivada para lidar com aquele aprendiz, na virtude da fortaleza, para suportar a tentação de entregar-se à preguiça, e assim sucessivamente, virtude após virtude, tijolo após tijolo, crescendo de fé em fé.

Eficácia sobrenatural do trabalho

Nós, membros da Canção Nova, cremos na eficácia sobrenatural do nosso trabalho, de maneira que temos consciência de que realizá-lo bem, ainda que ele não esteja diretamente ligado com a evangelização, contribuirá com o corpo Canção Nova e ajudará na nossa santificação e na daqueles que conosco convivem.

Um segundo ponto levantado por Dom Rafael Cifuentes é a necessidade de colocarmos o trabalho em seu devido lugar. Se não posso trabalhar de qualquer jeito, sendo indolente e procrastinador, também não posso transformar o trabalho na razão da minha vida. O trabalho é parte integrante da minha espiritualidade, por isso não pode nunca me afastar de Deus. Se percebo que minha rotina de trabalho está tão puxada que não tenho tido tempo de fazer a minha oração pessoal, não encontro mais tempo para estar com minha família, para viver bem a vida fraterna ou mesmo para gozar de um justo descanso, esse trabalho está sendo maldito.

São Bernardo de Claraval corajosamente escreveu ao Papa Eugênio, advertindo-o do perigo que o Sumo Pontífice corria ao se deixar consumir no trabalho incessante de presidir litígios dia e noite. O Santo sabia que as ocupações desmesuradas levavam o homem ao endurecimento do coração, por isso não teve medo de advertir o próprio Papa: “Essas malditas ocupações podem te levar até esse extremo (de endurecer o coração)”. Devemos examinar sempre a nossa própria vida para ver se o que foi dito ao Papa Eugênio poderia ser dito a nós: “Tu te consomes em um trabalho estulto, com ocupações que são aflição para o espírito, enervamento da mente e perda da graça”. Deus nos livre dessa desgraça!

Como viver o trabalho santificado?

Qual a solução para viver efetivamente o trabalho santificado? Viver o terceiro ponto destacado por Dom Rafael Cifuentes: trabalhar com amor. Não importa o que fazemos, mas quanto amor colocamos naquilo que fazemos. É por isso que não existe trabalho mais ou menos relevante. Fazer o pagamento de uma fatura de mais de um milhão de reais pode parecer aos homens uma tarefa mais importante do que fritar pastéis para vender ao povo de Deus num Acampamento de Oração. Para Deus, contudo, o que importa é o amor com que fazemos isso ou aquilo, essa ou aquela tarefa. Quer dar eficácia sobrenatural a tudo o que você fizer na sua vida, por mais simples que seu trabalho pareça? Pare de se preocupar com o que você faz e preocupe-se em colocar amor em tudo o que você faz.

Dom Rafael Cifuentes destaca algo desconcertante: Maria nunca fez nada de extraordinário. A única coisa extraordinária que aconteceu em sua vida – a Encarnação – não foi ela que fez, mas Deus. De resto, sua vida foi uma repetição monótona de trabalhos ordinários: Maria cozinhou, arrumou a casa, costurou, lavou roupas, ajudou José, colocou o pequeno Jesus para dormir, enfrentou o sol da Palestina para buscar água em algum poço, consertou sandálias e quem sabe mais o que uma mulher do seu tempo fazia no seu dia a dia. Ela soube fazer extraordinariamente bem as coisas ordinárias de cada dia, assim como também o fez São José.

Transforme o dia a dia numa Canção Nova a Deus

Encerro com São Josemaria escrivá, que nos ensina que, ao invés de pedirmos um milagre a Deus, é Ele quem nos pede um milagre:

O milagre que o Senhor nos pede é a perseverança na vocação cristã e divina, a santificação do trabalho de cada dia: o milagre de converter a prosa diária em decassílabos, em verso heroico, pelo amor com que desempenhamos as ocupações habituais.

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Traduzindo para a linguagem da minha comunidade, posso dizer que precisamos transformar, pelo amor, a prosa diária do nosso trabalho em uma linda e transformadora Canção Nova.

Equipe Formação Canção Nova