A mentira é algo tão estrutural na história da humanidade que Deus precisou colocá-la no rol de suas proibições, nos 10 mandamentos: “Não levantarás falso testemunho”. Adão e Eva, por exemplo, foram expulsos do paraíso porque mentiram para Deus. Jesus intitulou o demônio como o autor e o ‘pai da mentira”. E nós, o que fizemos? Tragicamente, inventamos um dia do calendário (1º de abril) para celebrá-la.
A verdade, no entanto, é que a mentira acarreta uma série de transtornos em nossa vida prática, e não é fácil conviver com pessoas que têm o hábito de sempre inventar as coisas. Todos nós sabemos bem disso, pois já sofremos ou fizemos alguém sofrer por causa de uma mentira. Negar isso é recusar que somos parte da humanidade.
Perfil de uma pessoa mentirosa
Mas quem é o mentiroso? Por que ele mente? Podemos descrever dois tipos de mentirosos: o compulsivo e o consciente.
O mentiroso compulsivo é a pessoa que apresenta um transtorno de personalidade, e o comportamento de inventar histórias pode ser observado desde a sua infância. A mentira tornou-se um hábito em sua vida, as invenções ficam cada vez mais extravagantes com o passar do tempo e não existe culpa ou arrependimento quando suas fábulas são descobertas. Neste caso, a pessoa mente porque precisa esconder uma angústia muito primitiva, como alguém que foi abandonado e rejeitado na infância e, através de invenções sobre si, pudesse ser aceito por todos.
Algumas pessoas com problemas psíquicos podem usar a mentira como artifício para atingir seus objetivos, como é o caso dos psicopatas, pessoas com transtorno antissocial e borderline. O prognóstico não é positivo nesses casos, pois se trata de algo da estrutura psíquica do sujeito. Conviver com pessoas requer uma boa dose de paciência e entendimento de que se está lidando com uma pessoa enferma; e dificilmente alguém conseguirá convencê-las de que tal comportamento deve ser mudado.
O mentiroso consciente é aquele onde eu, você e 99% da população se encontra. Aquela mentirinha para “sair bem na foto”, aquela história inventada para ser aceito no grupo ou “ficar por cima” nas situações do cotidiano, mas, no fundo, também esconde uma baixa autoestima e um medo de ser rejeitado. A diferença é que, nesse caso, a pessoa tem consciência de que está fazendo algo errado e, na maioria dos casos, é invadida por um sentimento de culpa e desconforto quando a mentira é descoberta. É dessas pessoas que vamos falar abaixo.
Como lidar com pessoas mentirosas no dia a dia?
Essa não é uma tarefa fácil, pois lidar com pessoas que costumam mentir é sempre uma linha tênue entre o querer ajudar e o se distanciar para não ser prejudicado. Abaixo, listo algumas dicas que podem preservá-lo dos embustes do mentiroso, ao mesmo tempo em que pode dar apoio para que busque ajuda.
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Pergunte, questione e cheque os fatos: o ditado “a mentira tem perna curta” só se torna real quando usamos o questionamento como ferramenta para chegar à veracidade dos fatos. Partindo do pressuposto de que tal pessoa tem histórico de mentiras e você desconfia de que ela não diz a verdade é preciso perguntar e checar os fatos. Não se trata de viver desconfiado das pessoas, mas de zelar pelo que é verdadeiro. Tenha sempre registrado as mensagens, e-mails e documentos, até mesmo para que se proteja de eventuais falsas acusações.
Trate a pessoa com carinho e não hesite em ajudar
Apresente a verdade com caridade: pegar alguém na mentira é sempre algo constrangedor, mas necessário para que a pessoa tome consciência de seus atos desordenados. No entanto, a acusação e a discussão raivosa não resolve o problema, pelo contrário, pode agravar o sentimento de culpa e baixa autoestima do sujeito. Cabe, nesses casos, chamar a pessoa em particular, apresentar as inverdades e questionar as reais intenções de ter mentido. Se, mesmo assim, a pessoa não se redimir, faça como nos diz o Evangelho: “Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas” (Mt 18,17).
Ofereça ajuda: Como dito acima, a mentira é sinal de que algo no interior da pessoa não vai bem. Tendo em conta que não se trata de um mentiroso patológico, ofereça ajuda a essa pessoa, indicando que esse comportamento pode prejudicá-la nos seus relacionamentos, na sua vida profissional e espiritual. Uma psicoterapia, por exemplo, ajuda a pessoa a voltar na sua história para enxergar que tipo de vazio ela quer preencher com suas fabulações.