entenda

Uma personalidade harmoniosa é fruto de uma maturidade humana

Não é amor a busca de si, mas a doação de si

Hoje se fala tanto de maturidade humana como um estilo de vida, um modo de ser que faz o homem capaz de cumprir com serenidade e com satisfação a própria missão, sem perder o equilíbrio diante de dificuldades, mesmo graves, que se encontram no decorrer da vida. Entende-se que o homem é um “ser para”. Ele possui uma personalidade harmoniosa na medida em que sabe viver pelos outros e com os outros.

Também no campo da sexualidade, toda pessoa – prescindindo da sua vocação específica – deve procurar alcançar essa maturidade se é que deseja uma vida equilibrada na relação consigo e com os outros.

Uma-personalidade-harmoniosa-é-fruto-de-uma-maturidade-humanaFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

É fácil notar o comportamento instintivo de uma criança que toca os objetos que encontra e os leva espontaneamente à boca. Quando não consegue fazê-lo, lamenta-se e faz toda sorte de manhas. Parece que todo o mundo circunstante deva estar a seu serviço. É um pouco a imagem do egocentrismo infantil. Através de uma obra educativa paciente e progressiva, terá que aprender a reconhecer a existência de outras pessoas iguais a ela e a partilhar com elas os seus brinquedos.

Sem esta educação ao amor para com o outro a criança, quando chega à adolescência, fechar-se-á sempre mais em si mesmo para deleitar-se das suas belas qualidades, no narcisismo, ou para lamentar-se das suas carências. No campo sexual, poderá fixar-se no autoerotismo ou masturbação.

É bom notar a este propósito que, sendo o caminho da formação humana e cristã um caminho progressivo, não há de se espantar se na adolescência acharmos facilmente esta prática. A sua presença não deve desencorajar, mas estimular à conquista daquele completo autodomínio sobre os próprios instintos que ajudará a amadurecer como pessoa.

O adolescente que desde menino procurou seguir esse caminho no amor, acha-se nas melhores condições para descobrir e entender o verdadeiro sentido da sexualidade humana em todos os seus aspectos, inclusive a genitalidade, e a descoberta da função dos dois sexos, vistos segundo o plano inscrito por Deus na natureza e, iluminado ainda mais pela fé, não só não será para ele traumatizante, mas o comprometerá a preparar-se modo digno para o futuro que o espera. Se, pelo contrário, vem a faltar esta visão sadia da sexualidade humana, o jovem corre sérios riscos de viver de modo egoísta a própria sexualidade.

Educação sexual distorcida

A imaturidade pode levar a procurar expansão afetiva e satisfação dos seus instintos sexuais de forma inadequada. É algo muito complexo e hoje muito difundido, que quase sempre afunda suas raízes numa educação sexual distorcida e exige um cuidado cauteloso. Não basta porém ter a orientação correta da sexualidade e deixar de lado todo tipo de narcisismo, voltar-se de alguma maneira para o outro sexo, para considerar-se pessoas maduras neste campo.

Ninguém tem o direito de ir até o outro para impor qualquer coisa que seja, nem utilizar afetiva e sexualmente a outra pessoa, como uma esponja que absorve tudo para seu próprio prazer. Sugar e desfrutar uma outra pessoa só leva à infelicidade. Não é amor a busca de si, mas a doação de si. Faz-se necessário adquirir o sentido da oblatividade, do serviço e da doação. Um pressuposto indispensável para conseguir a maturidade, é a capacidade de autocontrole. Para dar alguma coisa é necessário antes possuí-la. Para que nossa pessoa possa ser uma doação para os outros, devemos antes possuir-nos, ter o autocontrole de nós mesmos.

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Todos os nossos pensamentos, desejos, impulsos sexuais, tudo aquilo que constitui neste campo o nosso psiquismo consciente e inconsciente deve encontrar uma forma de equilíbrio através do autocontrole, de modo que, tendo alcançado uma liberdade interior, o nosso agir será uma doação a quem está próximo de nós, no pleno respeito das exigências alheias e da lei de Deus, inscrita no coração humano. Sabemos que todo homem e toda mulher são uma obra-prima de Deus, um ser único e irrepetível, criado por amor e lançado por amor na divina aventura da vida.

O autocontrole nos ajuda a nos colocarmos perto de todo homem e de toda mulher não como elemento que perturba este plano de Deus e torna o outro infeliz, mas como alguém que o ajuda a alcançar a felicidade. Quando uma pessoa alcançou certo equilíbrio e sabe sair do próprio egoísmo para doar-se, então ela é livre e se encontra nas condições normais para aceitar o chamado de Deus ao matrimônio ou à virgindade. Podemos dizer que ele tem a pureza no sentido evangélico; pode, por isso, descobrir e colocar em prática o plano de Deus na sua vida: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8).

Extraído do Retiro Popular 2017


Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.