Senhor Jesus, sois meu Deus, agradecer-vos quero e exaltar-vos (SI 118,28)
João (21,1-14) narra outra aparição de Jesus, no lago de Tiberíades, após uma noite que os apóstolos passaram em pesca inútil. Não O reconhecem, todavia, atendem ao Seu convite de lançar novamente a rede, e esta se enche a tal ponto que já não podem a puxar. Imediatamente, o discípulo que Jesus amava percebe, na pesca extraordinária, o sinal da presença do Mestre, e diz: “É o Senhor!”. O amor torna João mais perspicaz que os outros, mas o mesmo amor torna Pedro mais ágil: logo, atira-se na água para alcançar, mais depressa, o Senhor. “Cada um – comenta o Crisóstomo – com o próprio caráter: um tinha maior penetração, o outro maior vivacidade. João foi o primeiro a reconhecer Jesus, mas Pedro foi o primeiro a ir ao encontro d’Ele” (cf. Jo 87,2). É significativa a delicadeza com que João, protagonista e relator do fato, aqui como no sepulcro, ressalta a precedência de Pedro, reconhecendo-lhe, de bom grado, aquele primado que o próprio Jesus lhe conferira.
É possível reconhecer o Senhor!
“É o Senhor!” Sob este título, familiar aos discípulos, João reconhece e indica Jesus, mas, agora que Ele está ressuscitado, tal título assume valor novo, significado mais profundo e vital.
A Páscoa, de fato, é o pleno coroamento da soberania de Jesus. Todas as criaturas, enfim, lhe pertencem, porque as resgatou à custa do próprio sangue, do aniquilamento e da obediência até a morte de cruz. “Por isso Deus o exaltou e lhe deu o Nome que está acima de todo nome, a fim de que toda língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória do Pai” (cf. FI 2,9-1.1). Deve toda língua anunciar com alegria que Jesus ressuscitado é o Senhor. Das profecias ao Apocalipse, toda a Escritura proclama Sua glória: ‘Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder e a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor’ (Ap 5,12). Deve o cristão unir-se a este coro universal e cantar as glórias do Ressuscitado, deixando triunfar em si a sua soberania: há de ceder-Ihe todo direito e lugar; há de entregar-se-Lhe sem reservas, para que seja Jesus o único Senhor de sua vida.
Jesus é o Senhor, mas, mesmo ressuscitado, suas maneiras não mudam: é sempre aquele que “veio não para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28). Preparou na praia ‘brasas com pão em cima e peixe’, e quando chegam os amigos, cansados pela noite passada no lago, a arrastarem, penosamente, a rede para a praia, convida-os a se refazerem: “Vinde comer”. “Tomou o pão e lhes deu e também o peixe”. Teriam os apóstolos recordado aÚltima Ceia, quando Jesus tomou o pão, benzeu-o e lhos deu dizendo: “Tomai, coroei, isto é o meu corpo” (Mt 26,26)? Embora não se trate, aqui, da Eucaristia, a relação é fácil, espontânea.
Só Ele é Senhor da vida e da morte
O Senhor ressuscitado continua a preparar para os homens sua mesa e, em lugar de servir-lhes pão e peixe, serve-os até lhes dar em alimento seu Corpo, e em bebida seu Sangue. Desse modo, sustenta nos fiéis aquela vida divina, para a qual os gerou com sua morte e ressurreição. A Eucaristia, portanto, é o aperfeiçoamento do batismo, é sacramento essencialmente pascal. Se a Eucaristia é o memorial da morte do Senhor, o é também de Sua Ressurreição, porque o Corpo e o Sangue de Jesus Sacramentado não são o corpo e o sangue de um morto, mas de um vivo, de um Ressuscitado que vive eternamente e tem o poder de tornar participantes de Sua imortalidade os que d’Ele se nutrem. “Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo6,54). Então, a soberania do Ressuscitado chegará à manifestação máxima, tendo assumido em Sua Ressurreição a de todos os fiéis.
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Pedro, zelosa testemunha da soberania de Cristo, será o primeiro a defendê-la diante dos tribunais. Quando interrogado sobre a cura do coxo, dirá com todo o seu entusiasmo: “É em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, que vós crucificastes e que Deus ressuscitou dos mortos, que este se acha diante de vós, curado… E em nenhum outro nome se encontra salvação” (At 4,10.12). Só Jesus tem o poder de salvar, só Ele é Senhor da vida e da morte, capaz de curar e de ressuscitar.
Eduardo Rocha Quintella