O desafio da fé no caos urbano
Você, que mora numa capital e enfrenta o trânsito todo dia, como é ser católico e ter ética no trânsito sem xingar todo mundo, vendo nisso uma forma de penitência? Como tem sido sair de casa, no mesmo horário de sempre, e pegar um trânsito horrível, ficar atrás de um motorista que dirige devagar, ver o sinal fechando várias vezes e seu carro nem andar, e ver o horário passando?
Essas narrativas descritas acima fazem parte do cotidiano da grande maioria dos brasileiros. Entendo que a dificuldade está em preservar a nossa boca do pecado (Pr 4,24), de não perdermos nossa “sanidade” no meio desse caos diário. Isso mesmo, diário, pois esses problemas não ocorrem uma, duas ou três vezes no ano. Ao contrário, ocorrem quase todos os dias.
O que mais vemos no trânsito são motoristas irritados, gritando, brigando, cortando todos os carros, estressados e, não poucas vezes, brigas no trânsito.
O convite de Deus para o trânsito
E dentro de toda essa realidade, Deus faz um convite a nós católicos: “Não te desvies nem para a direita nem para a esquerda, e retira teu pé do mal” (Pr 4,27).
Deus deseja de nós que, independente de onde estivermos, o que vivermos, que permaneçamos no bem e, nem ao menos uma vez, coloquemos nosso pé no mal. Não nos desviemos, nem para direita nem para a esquerda, de nossa meta: o Céu.
Créditos: Zorica Nastasic / GettyImagens
Nesse caso sobre o qual estamos falando, sobre o trânsito caótico, precisamos saber canalizar, de forma equilibrada, as turbulências e dificuldades, para o nosso bem e crescimento, pois, como diz São Paulo: “A tribulação produz a paciência” (Rm 5,3b). E se não estão produzindo em você a paciência, precisa, diante de Deus, perguntar o que se deve fazer para que produza, pois esse versículo de São Paulo é um princípio eterno, uma lei; logo, se não está se cumprindo em você, com certeza o problema não está na lei.
Educando a vontade no asfalto
Um dos pontos que pode ajudar você, no seu dia a dia, ao dirigir no trânsito quase anárquico da cidade grande, é o que o padre Miguel Fuentes nos fala sobre “educar a vontade”. Ele nos diz que educar a vontade é:
- Adquirir virtudes: nesse caso, quando podemos buscar o silêncio, a fortaleza, a resignação,
aproveitando esse momento como de crescimento em novas virtudes, fortalecendo as que já possui; - Extirpar vícios: como nos diz Platão e Aristóteles, vício é tudo aquilo que nos dificulta de ver a verdade.
E, nesse caso, a verdade está no fato que existem coisas que não controlamos e, com isso, gritar, ficar
destemperado não resolverá o problema, isto é, não fará o trânsito fluir; - Corrigir defeitos: como defeitos são características e/ou traços da personalidade, esses momentos de
dificuldades podem ser aproveitados para domar, por exemplo, a ira ou o mau humor que lhe
acompanha dia a dia, de crescer em qualidades que sejam contrárias a esses defeitos citados.
A corrida da transformação pessoal
Importante estar sempre na busca constante dos três pontos acima. Considerar como se fosse uma corrida e que, a cada metro conquistado, comemorar, sabendo que precisa percorrer o metro seguinte. Essa corrida será por toda a vida. Em alguns momentos, haverá o cansaço, mas não pode parar. Pode andar, mas parar nunca. Uma vez descansado, voltar a correr. Sempre medindo sua vontade e gerando mais vontade.
Leia mais:
.: A importância de ser motorista prudente e responsável no volante
.: São Cristóvão: motoristas, eis o seu patrono e exemplo
.: Dia Mundial da Não-Violência e Cultura da Paz
.: Defendendo a Dignidade: Dia Internacional dos Direitos Humanos
E não pode parar, precisa ser vivido dia a dia. A luta precisa ser constante: lutar para adquirir as virtudes. Lutar parar extirpar meus vícios. Lutar para corrigir meus defeitos.
Vencendo a batalha interior
Dessa forma, o problema com o trânsito será encarado como seu adversário, sendo que, agora, você possui armas com as quais poderá vencê-lo. A vitória não será mais contra aquilo que você não consegue controlar: os carros, os sinais, o fluxo do trânsito, mas contra você mesmo, em seus vícios e defeitos, na busca por aumentar as virtudes.
Vivendo o agora no trânsito
Padre Fuentes ainda nos fala que “o valor do homem se mede pelo valor do hoje e agora”; e como, no trânsito, você buscará viver o agora? Você dará um novo sentido às dificuldades que tiver ao dirigir. Sua visão será revigorada e reformulada, pois as dificuldades serão oportunidades de crescimento e não um adversário gigante contra o qual você não tem força e só perde. Ao contrário, quando ocorrer de pegar um trânsito que poderá, ou obrigatoriamente o fará, chegar atrasado ao trabalho, você estará pronto para a luta. Saberá como responder aos transtornos, pois será um ótimo momento de se encher de virtudes, extirpar vícios e corrigir seus defeitos.
Através desse novo sentido, dessa nova forma de enxergar o trânsito, você viverá mais leve e se tornará uma pessoa melhor.
O trânsito poderá ser o mesmo de sempre, mas você, esse sim, será diferente.
Junior Alves
Missionário da Comunidade Canção Nova, Graduado em Ciência da Computação(UFRJ) e mestre em Administração de Empresas(PUC/RJ).
