Evangelho de São Marcos 14, 1-15,47
Desde o princípio da Quaresma temos nos preparado com obras de penitência e de caridade. Neste dia, a Igreja recorda a entrada de Cristo, o Senhor, em Jerusalém, para consumar o Seu mistério pascal. Por isso, em todas as Missas se comemora esta entrada do Senhor na cidade santa: ou com a procissão, ou com a entrada solene antes da Missa principal, ou com a entrada simples antes das outras Missas.
Foi para realizar esse mistério da Sua Morte e Ressurreição que Jesus Cristo entrou na cidade de Jerusalém. Por isso, recordando com fé e devoção essa entrada triunfal na cidade santa, acompanharemos o Senhor, de modo que, participando agora da Sua cruz, mereçamos um dia ter parte na Sua ressurreição.
A leitura atenta da Paixão suscita uma inevitável pergunta: quem foram os responsáveis? Os judeus ou os romanos? Na morte de Jesus misturaram-se motivos políticos e religiosos, embora a responsabilidade mais direita caia, de acordo com a narração evangélica, sobre as autoridades judaicas daquele tempo, não sobre todo o povo. Porém, a leitura crente do Evangelho descobre outros responsáveis da morte de Cristo: somos todos nós. Ele mesmo foi abatido pelas nossas iniquidades (cf. Isaías 53, 3).
Cada um de nós pode ouvir, dirigidas a si, as palavras que o profeta Natã dirigiu a Davi quando este lhe perguntou quem é o malvado que matou a única ovelha do pobrezinho. Ele responde: Tu és esse homem (cf. II Samuel 12, 7). Sim, foi você e fui eu e fomos todos, cada um dos homens. Não estão nisso só Judas, que O atraiçoou, Pedro que O negou, Pilatos que lavou as mãos, a multidão que repete: crucifica-O, os soldados que repartem entre si as vestes do Condenado e os ladrões criminosos. Estamos todos nós.
Mas não podemos ficar aqui. Sabemos não só que Jesus morreu verdadeiramente e foi sepultado. Sabemos também que ressuscitou ao terceiro dia e subiu à direita do Pai. Morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa salvação.
Desde hoje temos de olhar já para o Domingo de Páscoa. Mas, para que este olhar não seja um sentimento vazio, precisamos tomá-lo verdadeiramente a sério: Morrer pelo arrependimento e pela confissão dos nossos pecados, sobretudo, pelos pecados mortais, e assim ressuscitar para a vida da graça.
Bendito seja o que vem em nome do Senhor! A liturgia do Domingo de Ramos é como que um pórtico de ingresso solene na Semana Santa. Associa dois momentos entre si contrastantes: o acolhimento de Jesus em Jerusalém e o drama da Paixão; o «Hosana!» de festa e o grito repetido várias vezes: «Crucificai-O»; a entrada triunfal e a derrota aparente da morte na cruz. Assim, antecipa o «momento» em que o Messias deverá sofrer muito, será morto e ressuscitará no terceiro dia (cf. Mateus 16, 21) e prepara-nos para viver em plenitude o mistério pascal.
Portanto, «Solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti» (Zacarias 9, 9). A cidade que vive a memória de Davi rejubila-se ao receber Jesus; a cidade dos profetas, muitos dos quais nela sofreram o martírio por causa da verdade; a cidade da paz, que ao longo dos séculos conheceu a violência, a guerra e a deportação.
De certa forma, Jerusalém pode ser considerada a cidade-símbolo da humanidade, sobretudo no dramático começo do terceiro milênio, que estamos vivendo. Por isso, os ritos do Domingo de Ramos adquirem uma particular eloquência. Ressoam confortadoras as palavras de Zacarias: «Exulta de alegria, filha de Sião! Solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti: ele é justo e vitorioso, humilde, montado num jumento. O arco de guerra será quebrado. Proclamará a paz para as nações» (9, 9-10). Hoje estamos em festa, porque Jesus, o Rei da Paz, entra em Jerusalém.
Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus! Ouvimos de novo a clara profissão de fé, pronunciada pelo centurião, que «O viu expirar daquela maneira». Daquilo que viu, surge o testemunho surpreendente do soldado romano, o primeiro que proclamou que aquele Homem crucificado «era o Filho de Deus».
Senhor Jesus, também nós vimos como sofrestes e como morrestes por nós. Fiel até ao extremo, Tu nos libertaste da morte com a Tua morte. Senhor Jesus, como o oficial romano, confesso a Tua condição de Filho de Deus crucificado. Que eu compreenda o verdadeiro sentido de Tua paixão e possa professar: VERDADEIRAMENTE ESTE HOMEM ERA FILHO DE DEUS! Hosana ao Filho de Davi. Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel. Hosana nas alturas.
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