Quando iniciei meu curso de filosofia, na Faculdade Canção Nova, uma das primeiras coisas que me foram ditas foi que a filosofia era para todos. Claro que eu, como qualquer outra pessoa, ao ouvir falar desse assunto, já pensava que se tratasse de algo de muita sabedoria e inteligência que não estava ao meu alcance. Com o passar do tempo, fui percebendo uma outra faceta dessa matéria, até que, ao concluir o curso, vejo-a com um pouco mais de clareza e simplicidade.
A filosofia nasce de dois movimentos no interior do homem. O primeiro: trata-se daquele desejo interior de conhecer as coisas, aquele movimento que nos leva para a curiosidade, nos leva a querer saciar um aspecto da nossa alma que deseja conhecer, assim também pensava Aristóteles e tantos outros. É essa admiração pelas coisas que te leva a querer descobrir como aquilo é feito, o que tem por dentro, não somente material, mas de desvendar um mistério que te leva a ir de encontro com o objeto.
A verdadeira filosofia é feita de perguntas
Bom, só aí já desvendamos muita coisa sobre o que é a filosofia, mas ainda falta um segundo movimento. Esse seria o de questionar, fazer perguntas. Parece que o motor da filosofia são as perguntas muito mais do que as respostas. Responder algo faz finalizar o processo, agora, viver em modo de perguntas coloca a coisa em um patamar de infinito. Sabe aquela fase da criança que tudo questiona, tudo pergunta, aquele momento é um ato de intensa filosofia. Perguntar o porquê das coisas, algo tipicamente “infantil”, é uma atitude que nenhum de nós deveria perder. Talvez, boa parte da sociedade parou de ser filósofo, ali, enquanto era criança e foi corrigida, mandada parar com aquilo.
Um dos primeiros livros que li na faculdade tinha um título um tanto curioso “você também é filósofo”, e vejo que é uma afirmação verdadeira. Você, que me lê, também é filósofo, naquilo que é a essência da filosofia, naquele ato de parar e gastar tempo pensando na vida, criticando as coisas do mundo, avaliando e desejando conhecer o universo. Em nós ainda existe aquela criança que deseja conhecer, que se pergunta, mas que pela correria do dia a dia e as preocupações recorrentes se cansou de questionar-se, de gastar tempo procurando e pensando. Isso é filosofia, meus amigos e amigas.
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Obviamente, não poderia deixar de lado aquilo que o próprio Hegel propôs, dizendo que não se faz filosofia sem história da filosofia, ou seja, a cada período conhecer o autor e seu pensamento. Contudo, ainda creio que isso seria algo secundário, diante da essência de existir filosoficamente. Todo ser humano é filósofo em sua raiz, na sua constituição de alma, porque filosofia é vida, é experiência vivida que não se esgota em uma resposta simplória.
Quero recordar aqui o próprio pai do tema, Sócrates. Ele que viveu a questionar-se e a questionar as coisas em seu método de Maiêutica, que consistia basicamente em perguntar ao outro, ouvir sua resposta e novamente o questionar. Um verdadeiro diálogo que leva a falar e ouvir as opiniões, pensando e repensando até que seja gestada uma ideia.
Dessa maneira, quero te convidar a quebrar os preconceitos criados com relação à filosofia, a recobrar em seu coração o desejo de conhecer e perguntar sobre as coisas. A filosofia é para todos, desde o analfabeto até o mais culto, todos são capazes de tirar um pensamento bonito sobre o que é a vida ou como se chega a felicidade. Nos ditados populares, encontramos muito de filosofia, muito de alguém que pensou no que vivia e ensinou algo que perdura até os dias atuais. Não tenha medo ou vergonha, você também é filósofo!