“Senhor, para onde vais?” Diante de um cenário de escuridão, onde vemos o Senhor caminhar, essa pergunta atravessa o coração do discípulo antes de ser pronunciada.
A complexa passagem do Evangelho de hoje poderia direcionar nossa atenção unicamente para Judas e a traição de Jesus. Certamente, esse é um tema presente no texto e um tema muito dramático. Mas, na verdade, no texto de João, os personagens que confrontam Jesus são três: Judas, Pedro e o discípulo amado.
Antes de mais nada, Judas. Dele, o texto observa que, quando saiu, “era noite”. Ele está na sala com Jesus, sentado à sua mesa, compartilhou o caminho de todos os discípulos seguindo Jesus, escutando Suas palavras, vendo Suas obras. Mas quando ele sai daquela sala, quando deixa a “companhia” de Jesus, segundo a perspectiva de João – além de como as coisas aconteceram historicamente –, ele entra na “noite”.
Senhor, para onde vais?
O segundo personagem é Pedro. Ele se questiona nesta passagem. Primeiro, ele se pergunta: “Quem é aquele de que Jesus está falando? Depois, ele questiona para onde Jesus está prestes a ir e para onde os discípulos não podem agora segui-Lo. “Senhor, para onde vais?”.
Também, no livro do Êxodo, Moisés pergunta ao Senhor: “Mostra-me o teu caminho, para que eu te conheça” (Ex 33,13). O Evangelho de hoje coloca, em primeiro lugar, o rosto do discípulo que trai e nega. Pedro pergunta a Jesus: “Senhor, aonde vais?”.
Mais tarde, ainda nos discursos de despedida, será Tomé que fará a Jesus uma pergunta semelhante: “Senhor, não sabemos para onde vais; como podemos saber o caminho?” (Jo 14,5). A Tomé Jesus responderá que Ele é “o caminho, a verdade e a vida”. Aqui, a Pedro Jesus diz: “Para onde eu vou, por agora não me podes seguir; mais tarde me seguirás”.
Agora, os discípulos não podem segui-Lo
Estamos diante da Paixão de Jesus. Durante a ceia, que começou com o Lava-pés, Jesus diz que “agora” os discípulos não podem segui-Lo. Também durante o Lava-pés, Jesus diz a Pedro que “agora” ele não pode entender o que Ele está fazendo, mas o entenderá mais tarde. É como dizer que para entender o caminho de Jesus e segui-Lo, para entender Seus gestos e trilhar o mesmo caminho que Ele está trilhando, é preciso primeiro passar pelos dias de Sua Paixão, para saber como aceitá-Lo plenamente como o Messias sofredor. Se não vive nem aceita até o fim o escândalo da Paixão e da Morte do Senhor, isto é, se não aceita a “Loucura da Cruz”, não pode ir aonde ele vai, não se pode ser verdadeiramente seu discípulo.
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O terceiro personagem, que de alguma forma contrasta com Judas, é “o discípulo amado”. Ele realiza um gesto muito simples, mas intenso: coloca sua cabeça sobre o peito de Jesus. Claro, agora ele não pode conhecer o caminho de Jesus, não pode segui-Lo para onde vai, mas pode fazer este gesto cheio de amor: coloca sua cabeça no peito do Senhor, bem juto ao Coração do amado.
Hoje, também nós estamos no limiar da Semana Santa como Pedro e como “o discípulo amado”. Também nós pedimos ao Senhor que nos faça conhecer o Seu caminho, o caminho até Jerusalém, o caminho que nos faz abraçar e acolher a “Loucura da Cruz” e que possa percorrê-lo com Ele até o amanhecer da Ressurreição. Mas só poderemos segui-Lo quando tivermos passado pelos dias da Paixão e da Morte; quando, ao contemplá-Lo, tivermos compreendido plenamente que a vida se salva ao ofertá-la.
O coração do Evangelho
Este é o coração maravilhoso do anúncio do Evangelho! Agora, nestes dias, só temos que ser como o discípulo amado, aquele cujo nome é o amor que Jesus tem por ele.
Nestes dias, somos chamados a colocar nossa cabeça no peito de Jesus para ouvir repetir nosso nome “amado por ele” nas batidas de seu coração. Então, após os dias de Paixão, poderemos segui-Lo até Sua casa, onde Ele preparou um lugar na festa para nós.
Citações:
Evangelho: João 13,21-33.36-38
Dom Cristiano Oliveira Sousa OSB Cam – Mosteiro da Santa Cruz de Fonte Avellana (Itália)