A Igreja Católica sempre pautou o conceito de educação como promoção da pessoa humana e desenvolvimento dos povos. A educação é o meio pelo qual se pode criar a verdadeira fraternidade. Pelo processo educativo, pode-se criar a cultura do encontro, que nasce do diálogo entre as mais variadas culturas, religiões e gerações. Essa é a chave de leitura da educação proposta pelo Papa Francisco em seu destemido Pacto Educativo Global.
De fato, a educação é uma grande semeadura que perpassa o campo dos saberes e adentra no horizonte da dinâmica do relacionamento. É como que uma plataforma existencial que circunda todas as dimensões da formação integral dos sujeitos. Os alunos devem aprender a transitar com propriedade da dimensão intelectual combinando razão e fé, ciência e religião.
Em sua dimensão Física, combinar espírito e corpo, sem se descuidar da dimensão Afetiva que o prepara para a vivência de uma sexualidade equilibrada que o leve a relacionar de maneira natural com as pessoas, de ambos os sexos, classes sociais e religião. Esta perspectiva fecunda a dimensão Social do aluno que se torna construtor de pontes e alianças entre pessoas, etnias e povos, cultivando a tolerância e eliminando todo e qualquer tipo de racismos e preconceitos.
Ética e Moral
É nesse território sagrado da humanidade do ser que se desenvolve a dimensão Ética e Moral banhada pelo sentido religioso, divino que cada pessoa abarca e conquista que a dimensão Simbólica emerge como ponto de convergência de tudo aquilo que o sujeito é, e que ainda pode vir a ser, na dinâmica de um ecossistema educativo que coloca no centro, como diz Francisco, o desenvolvimento integral da pessoa e a proteção da casa comum.
É importante que todo educador leve em conta que vivemos em uma época que alguns chamam de “Era Hipermoderna”, na qual a personalidade emerge como a coisa mais frágil. O contexto plural e de crise que vivenciam as instituições e os indivíduos leva-nos a refletir sobre aquilo que o Papa Francisco trata no primeiro capítulo da Fratelli Tutti, “a perda de sentido social de uma comunidade humana” e a aparição de um reducionismo, próprio do nosso tempo, que formata uma certa “civilização do Eu, do Ego”.
Direito à intimidade
A novidade superficial e líquida imposta por um novo colonialismo cultural presidido pela globalização e montado no cavalo da digitalidade das coisas, apresenta, na visão do Papa Francisco, um espectro paradoxal se, por um lado, crescem as atitudes fechadas e intolerantes que, à vista dos outros, nos fecham em nós próprios, por outro, reduzem-se ou desaparecem as distâncias, a ponto de deixar de existir o direito à intimidade.
Tudo se torna uma espécie de espetáculo que pode ser espiado, observado, e a vida acaba exposta a um controle constante. Na comunicação digital, quer-se mostrar tudo, e cada indivíduo torna-se objeto de olhares que esquadrinham, desnudam e divulgam, muitas vezes anonimamente. Dilui-se o respeito pelo outro e, assim, ao mesmo tempo que o apago, ignoro e mantenho afastado, posso despudoradamente invadir até ao mais recôndito da sua vida” (F.T 42).
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Roubo da alma
Perdão e a reconciliação
Ademais, em um país como o Brasil que foi, recentemente, levado à exaustão, por um processo político eleitoral polarizado, violento e intolerante, é preciso reeducar a sociedade para o perdão e a reconciliação. É preciso fazer com que os adversários se deem as mãos e que o ódio e as ofensas deem lugar ao amor e à misericórdia.
Enfim, neste terreno tímido e opaco de fraternidade que o cenário eleitoral nos legou, a comunidade educativa, em especial as Escolas e Universidades Católicas, têm a grave missão de ser o tabuleiro do “humanismo solidário que corresponda às expectativas do homem e ao desígnio de Deus.