Jesus andava por todas as cidades e aldeias ensinando, pregando e curando toda doença e enfermidade. Observava as multidões e teve pena delas, porque estavam cansadas e abatidas como ovelhas sem pastor. Jesus disse aos seus discípulos: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita!” [1]. Esse é o anúncio da mensagem evangelizadora que Jesus nos deixou: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações” [2]. Enviados os apóstolos em missão, a Palavra de Deus nos apresenta “os Sete”, aqueles primeiros discípulos que foram instituídos pelos “Doze”.
Os Doze eram Pedro, André, Tiago Menor, João, Filipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus, Tiago Maior, Tadeu, Simão e Judas Iscariotes [3], cuja missão inicial era restrita a casa de Israel [4]. Antes de serem enviados ao mundo todo, era necessário ter fé na ressureição de Jesus Cristo. Todos, até os pagãos, creem na morte de Jesus pela cruz, mas o alicerce da vida cristã é a ressureição. Só então, quando eram onze, os discípulos foram enviados a todos povos, para fazer discípulos batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo [5].
Quem eram os outros discípulos?
O livro do Atos dos Apóstolos narra a instituição dos Sete, o segundo grupo de discípulos que foi formado pelos Doze. No texto bíblico, Lucas utiliza a palavra diakonía, que significa serviço, assistência, ministério. Assim, pode-se dizer que a instituição dos Sete contribuiu de alguma forma para o que posteriormente se tornou o diaconato conhecido atualmente. Os Sete eram Estêvão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Tímon, Pármenas e Nicolau [6]. O Papa Francisco explica que os Apóstolos criam sete diáconos, e entre eles, destacam-se em particular Estêvão e Filipe.
Estêvão é logo mencionado como homem cheio de fé e do Espírito Santo, cheio de graça e de poder, que fazia prodígios e grandes sinais entre o povo [7] e de quem não se conseguia resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava [8]. A história da Igreja conta com a memória de muitos diáconos que foram mártires de Cristo e, no caso de Estêvão, a perseguição não demora a chegar [9]. Seu martírio ocorreu em Sinédrio, após um discurso que apresentava um resumo da história de Israel, mas contra a qual o povo rangeu os dentes, expulsando-o e apedrejando-o. Estêvão morreu em oração, proclamando sua crença no Filho do Homem e pedindo que seu espírito fosse recebido no Reino dos Céus e pelo perdão de seus malfeitores [10]. O martírio de Estêvão nos revela a crença na Santíssima Trindade, porque as mesmas orações que ele fez em nome de Jesus, o Cristo havia feito em nome de Deus [11].
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Esse martírio irrompeu uma violenta perseguição que fez com que muitos dispersassem, com exceção dos Apóstolos e de alguns homens devotos que sepultaram e fizeram grande luto por Estêvão [12]. Contudo, essa dispersão não surgiu em prejuízo da missão evangelizadora, ao contrário, aqueles que se espalharam o fizeram anunciando a Boa-Nova por toda a parte [13] até que se reuniram novamente em Fenícia, Chipre e Antioquia [14], sendo que essa última é a primeira grande cidade do mundo antigo na qual se pregou o Evangelho de Jesus Cristo. Há ainda uma figura muito importante no martírio de Estêvão, que é Saulo. Sim, ainda enquanto era perseguidor dos cristãos, São Paulo foi testemunha do assassinato de Estêvão, o que foi lembrado em seu discurso aos judeus de Jerusalém [15].
Filipe foi outro nome dentre os Sete que recebeu destaque em Atos dos Apóstolos. Na dispersão que teve origem com o martírio de Estêvão, Filipe foi até uma cidade da Samaria, na qual anunciou o Cristo e fez muitos sinais, expulsando demônios, curando os doentes e levando muita alegria àquele povo, batizando muitos homens e mulheres [16]. Filipe viveu em Cesaria, onde recebeu São Paulo e os que estavam com ele [17]. Essa passagem é importante para nos ajudar a diferenciar esse Filipe, dos Sete, do Filipe apóstolo de Jesus Cristo. Lucas narra que Paulo entrou na casa de Filipe, o evangelista, que era um dos Sete. Então, quando falamos de Filipe dos Sete, o chamamos de evangelista, diferente do Filipe Apóstolo.
Diferenciar o Filipe Apóstolo do Filipe Evangelista é importante para reconhecermos que foi aquele primeiro quem batizou o eunuco na conhecida passagem de Atos dos Apóstolos [18]. Repare que, no martírio de Estêvão, os apóstolos ficaram em Jerusalém, ou seja, Filipe Apóstolo está em Jerusalém enquanto o Filipe Evangelista foi para Samaria. Após falar da evangelização das aldeias samaritanas, o texto bíblico diz que um anjo do Senhor se dirigiu a Filipe e disse-lhe para se levantar e ir para o sul, pela “estrada que desce de Jerusalém a Gaza” [19]. Aqui, notamos que esse Filipe estava em Jerusalém, ou seja, é o apostolo, não o evangelista.
Ao falar sobre o discurso de Estêvão, o Papa Francisco ensina que não são os belos discursos que revelam a nossa identidade de filhos de Deus, mas sim o abandono da própria vida nas mãos do Pai e o perdão para aqueles que nos ofendem mostram-nos a qualidade da nossa fé. Os Sete foram eleitos pelos Doze apóstolos de Jesus, assim como nós somos também eleitos para a missão evangelizadora. Dedicados à vida em Jesus Cristo, que possamos seguir os exemplos dos primeiros discípulos, de forma a cumprir nossa missão de anunciar a Boa-Nova no mundo inteiro. Que assim seja!
Citações do texto bíblico
[1] (Mt 9, 35); [2] (Mt 28, 19); [3] (Mt 10, 1-4); [4] (Mt 10, 5-6); [5] (Mt 28, 19); [6] (At 6, 5); [7] (At 6, 8); [8] (At 6, 10); [9] (At 6, 12); [10] (At 7, 54-60); [11] (Lc 23, 34.46); [12] (At 8, 1-2); [13] (At 8, 4); [14] (At 11, 19); [15] (At 22, 20); [16] (At 8, 12); [17] (At 21, 8); [18] (At 8, 26-40); [19] (At 8, 26).
Referências:
BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB, 18 ed. Editora Canção Nova.
FRANCISCO, Audiência Geral. Vaticano, 25 set. 2019.
SAGRADA BIBLIA. Traducción y notas Facultad de Teología Universidad de Navarra. Edição Digital. Editora EUNSA. 2016.