Não foi num exame de rotina. Eu não tinha o hábito de fazer o autoexame. Achava que eu não tinha idade para me preocupar com isso ainda.
Passei pela segunda gestação. Minha filha estava com oito meses quando, por diversos motivos, precisei parar de amamentá-la. Foi o primeiro grande milagre de Deus na minha saúde. Tomei remédio para o leite secar e, em menos de uma semana, notei um caroço enorme. Assustei-me e logo fiz contato com duas médicas que me acompanhavam. Ambas me indicaram uma mastologista. E assim fiz.
A angústia do diagnóstico de câncer de mama
Entre exames, biópsias e suspeitas, agendamos a cirurgia para retirada de um “cisto”. Ao resultado da biópsia, a notícia que eu pensava jamais receber. Era um câncer de mama. Tinha 5,5 cm. E era, dos cinco tipos de mama, o mais agressivo e rápido. Perdi minha esperança de vida naquele instante.
Foram dias de muita angústia até algumas etapas se cumprirem. Voltar à médica, entender o diagnóstico, aceitar o tratamento, fazer novas cirurgias… Tudo era tão confuso dentro de mim. Embora meu esposo estivesse comigo o tempo todo, sendo meu apoio para chorar, sendo o colo de que eu precisava nos altos e baixos, na maioria dos momentos, era só eu e Deus.
A fé é o sustento
Eu precisava deixar Ele voltar a ser o meu melhor amigo e cuidar de mim nessa fase de tanta dor e incerteza. Então, passei a desabar n’Ele minhas dores, meus medos, minha falta de fé. A dor não passou, mas eu sabia que esse era um caminho que poderia me fazer melhor, se eu permitisse.
Comecei a olhar para Jesus crucificado com outros olhos. E entendi que, para quem segue Jesus, não há outro caminho senão o Calvário. Foi aí que uma chave virou na minha cabeça. Então, passei a oferecer as minhas dores a Ele e aos que, próximos a mim, estavam sofrendo. Agradeci a Ele pela oportunidade de me tratar e de rever minha vida por completo. Se é para passar por isso, que seja para me tornar uma pessoa melhor para Deus, para minha família, para meus amigos. Não é fácil, mas com Deus fica mais leve.
Rezo e sinto muito por pessoas que passam pela dor sem fé em Deus. Como deve ser difícil…
Confiei meu tratamento à intercessão do Servo de Deus padre Léo de Bethânia. E sei que ele está pedindo a Jesus por mim e minha família. Aliás, sem ela, minha família, eu tenho certeza de que não teria forças para recomeçar todos os dias.
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A importância da família e dos amigos durante o tratamento
Olho nos olhos do meu esposo e dos meus filhos e vejo neles a vida e a esperança de que eu preciso me apoiar. Cada dia é a chance única de que preciso para viver. Parei de me preocupar demasiadamente com o amanhã.
“Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado.” (Mateus 6, 31-34).
A minha vida é importante hoje. Farei o melhor possível hoje. Aceitarei minhas limitações devido ao tratamento hoje. Resolverei minhas pendências com as pessoas e as amarei hoje.
Estou em tratamento, num caminho de Cruz, mas de esperança. Muitas coisas mudaram dentro de mim. A vida ganhou um sentido muito diferente do que eu tinha antes, envolvida em fazer, fazer, fazer coisas e me esquecer de viver. Encarei a sensação de morte, mas tenho a certeza de que foi para que eu ressuscitasse.
Deus me deu uma nova chance. E isso só me traz gratidão a Ele por tudo! Cada pedra no caminho, cada porta aberta para eu entrar, cada pessoa que me ampara espiritual, emocional e profissionalmente. Deus cuida de mim! Não tenho dúvidas.
Como viver o tratamento?
Antes de encerrar, quero deixar algumas dicas a partir da minha experiência e do que eu costumo ver durante o tratamento.
O câncer é rápido. Deixar a consulta para o semestre que vem ou o mês que vem pode custar a sua vida.
Câncer de mama não acomete apenas mulheres, mas homens também.
A família é o maior suporte e, ao mesmo tempo, a maior motivação para lutar pela vitória e cura.
Os amigos se demonstram no momento de dor. E, às vezes, as ajudas que aparecem são dos que nem imaginávamos. Não luto sozinha.
Deus coloca as pessoas certas e abre as portas necessárias para o caminho. Ele é o autor da vida. E a cada dia basta o Seu cuidado.
A vida é um belo presente de Deus. Não deve ser desperdiçada!
Camila Carvalho Duarte, professora.