A maternidade é uma bênção! Sei disso pela alegria que percebo nas minhas amigas mais próximas que vivenciam genuinamente esse doar-se diariamente em função de um serzinho que vai crescendo e, desde a concepção, desenvolvendo-se e tendo seu caráter forjado pelos pais. No entanto, essa realidade não é para todos os casais. Nem todos serão pais e mães, pois a condição biológica, a fertilidade de muitos casais não permite a fecundação.
Além disso, há algumas suposições de que o nosso estilo de vida atual – o uso de anticoncepcionais hormonais desde muito cedo pelas adolescentes e jovens, uma alimentação repleta de agrotóxicos e o fato dos casamentos chegarem, por vezes, depois dos 30 anos para homens e mulheres – é também apontado como fator que contribui para que as taxas de fertilidade sejam menores hoje do que em meados do século passado.
Recentemente, uma série dominical na TV aberta tratava exatamente deste problema: pessoas que querem ter filhos e não conseguem. A repórter chegou a apresentar o número de famílias nesta situação no Brasil: oito milhões. Ao longo dos episódios, foram apresentadas diferentes técnicas de fecundação em laboratório. Inclusive, uma delas fornecida pelo Sistema Único de Saúde, e também apresentou a nós um casal que adotou seus filhos judicialmente.
No dicionário, fertilidade é entendida como a qualidade do que é fértil
A série incomodou-me muito. Faço parte desses oito milhões e entendo que conceber um filho não é um direito. A narrativa da série, porém, mostra o contrário, como se bastasse ter muito dinheiro ou sorte na fila do SUS para se conquistar o título de pai e mãe do ano.
Nenhum segundo sequer das filmagens foram citados os métodos naturais que têm comprovada eficácia. Métodos que não comprometem o corpo da mulher com diferentes hormônios e medicamentos perigosos. Também não se falou dos casais que, sem filhos, seguiram a vida de maneira a abraçar, cuidar e amar os filhos dos outros.
Um dos métodos naturais que poderia ter sido abordado, por exemplo, já é antigo e foi desenvolvido na década de 1960 pelo casal de médicos australianos Jonh e Evelyn Billings, cujo sobrenome rotula o Método. Esse oferece a possibilidade de detecção do período fértil da mulher com base nas observações diárias do corpo feminino.
Outro deles, desenvolvido por um médico dos Estados Unidos, Tomas Hilgers, que estudou com o casal Billings, identifica os biomarcadores no ciclo menstrual da mulher à luz do método billings, mas com outros detalhes e intervenções que são realizadas de maneira precisa, quando se é identificado o motivo da infertilidade. Esta nova técnica é chamada Naprotecnologia, (Natural Procreation Technology).
No Brasil, é realizada apenas por dois médicos, em São Paulo e em Goiânia. Envolve também o acompanhamento com instrutoras, tal como o método Billings. Em ambas as técnicas, o fundamental é que o casal conheça seus corpos e o ciclo da mulher, para assim aumentar as possibilidades da gestação.
Qual o posicionamento da Igreja em relação a esses métodos?
Ambas as técnicas são fruto de pesquisa e reconhecidas como moralmente lícitas pela fé católica. O Catecismo da Igreja Católica descreve que as pesquisas que visam diminuir a esterilidade humana devem ser estimuladas sob a condição de serem postas: “a serviço da pessoa humana, de seus direitos inalienáveis, de seu bem verdadeiro e integral, de acordo com o projeto e a vontade de Deus” (parágrafo 2375).
A doutrina católica não recomenda as técnicas artificiais de reprodução, porque elas retiram da relação sexual o seu caráter procriativo, uma vez que a fecundação por meio desses métodos é produzida em laboratório. Além disso, para cada embrião que se forma, vários outros são descartados, outros ficam congelados e, depois, serão descartados.
Inclusive, em alguns países, quando se descobre alguma síndrome, há o descarte de embriões e fetos. A vida humana deve ser preservada em toda a sua dignidade e não apenas conforme o gosto do freguês. Eis a importância dos casais que buscam seguir a Doutrina Católica compreenderem que a Igreja não é punitiva nem restritiva, mas recomenda o que considera melhor, com base na dignidade de cada vida humana.
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Todos os casais são chamados a conceber filhos?
No dicionário, fertilidade é entendida como a qualidade do que é fértil, e fértil é aquele que produz muito, que tem alta capacidade produtiva, que é fecundo, farto, capaz de produzir pessoas, coisas, ideias novas. Para que a fertilidade seja um projeto de vida no seu caráter mais amplo, deve-se entender que nem todos os casais são chamados a conceber um filho. E muitos desses casais, mesmo abertos à adoção, não estarão necessariamente aptos judicialmente a adotar uma criança.
Ainda, conforme o Catecismo , “os esposos a quem Deus não concedeu a graça de ter filhos podem, no entanto, ter uma vida conjugal cheia de sentido, humana e cristãmente falando. O seu matrimônio irradiar uma fecundidade de caridade, de acolhimento e sacrifício” (parágrafo 1654).
A nossa vida pode ser muito fecunda mesmo sem filhos. Estar abertos à vida é missão de todo casal que busca viver conforme a Doutrina da Igreja Católica. Entretanto, é preciso estar também abertos à missão de Deus para a vida de cada um de nós.
Dom de Deus
Casais que tentam ter um filho há mais de dois anos sem sucesso são considerados com diagnóstico de infertilidade. Se você teve esse diagnóstico de infertilidade, eu a convido a conhecer os métodos naturais que citei acima e a buscar profissionais sérios que trabalham com eles. Aqui você encontra mais informações sobre o Método Billings, e aqui sobre a Naprotecnologia.
Faça tudo que for possível e moralmente lícito dentro do que a Igreja Católica recomenda. Entregue a Deus todos os dias o seu desejo de conceber uma criança e, caso o bebê não venha, não se desespere nem se endivide em busca das tecnologias que vendem sonhos e ilusões a um preço muito caro e num processo doloroso, nem traia os seus valores. Casais com filhos são abençoados demais, porém, filho é um dom de Deus, não um direito.
Casais sem filhos não são menos abençoados, apenas têm uma missão diferente que pode ser revelada e materializada de diferentes formas. Talvez, você possa adotar projetos sociais que apoiam famílias em condição de vulnerabilidade ou possa dar suporte emocional e financeiro para outras pessoas de sua própria família. Ou mesmo criar algum projeto que frutifique em bênção na vida das pessoas.
Na Bíblia, várias mulheres estéreis gestaram, inclusive na velhice, como Sara (Gen 16-18), Rebeca (Gen 25, 21) , a mãe de Sansão (Jz 13) e Isabel, (Lc1), a quem Nossa Senhora correu para acudir. E há também a possibilidade de adoção não por obrigação dos casais, mas por amor. É um direito. No Brasil, podemos recorrer ao Cadastro Nacional de Adoção no site do Conselho Nacional de Justiça.
Eu não sei o que você pode fazer, mas eu o convido a rezar e pedir a Deus que lhe mostre como a sua vida pode ser fecunda. Ou melhor, que você saiba reconhecer a fecundidade em sua vida. Nenhum casal é menor por não ter filhos biológicos. Lembre-se: sua vida pode ser muito fecunda de outras formas.
Um abraço carinhoso de alguém que não perde a esperança e busca fazer a vida muito fecunda nas pequenas coisas.