Continuando nossa série de textos sobre a confissão, nas semanas anteriores nós já tratamos brevemente sobre a beleza dos sacramentos que temos na Igreja Católica. Em seguida, já nos debruçamos sobre a confissão e as partes que a compõem. Hoje, vamos nos aprofundar sobre a matéria da confissão: o pecado.
Você já percebeu a ordem que há no universo criado? E na natureza? Até mesmo no seu próprio corpo há um ordenamento que torna a vida possível. Há também uma ordem que rege a alma da pessoa, suas motivações, vontades e pensamentos. Se você parar para meditar um pouco que seja, vai perceber que todo esse ordenamento só pode ter sido feito por Alguém inteligente, logicamente, anterior ao homem. Pois bem, todo pecado é uma transgressão da ordem que nos foi dada pelo próprio Deus.
Não conseguimos ir especificamente contra Deus. Não somos capazes disso. Por isso, o pecado se manifesta quando vamos contra o ordenamento que Deus constituiu.
Quais são os tipo de pecado?
Existem duas classificações para os pecados: os graves, que rompem nossa comunhão com Deus e nos fazem merecedores das penas eternas; e os pecados veniais: não nos tira a graça de Deus, mas nos conduzem aos vícios e impendem a perfeição. Quanto mais um ato vai contra a lei natural, mais grave se torna em pecado.
Lei natural? Já escrevi alguma coisa sobre isso, veja em “O Governo espiritual e temporal visto pelo cristão”. Ah, tem outro: “Por que a lei natural permite ao homem o poder de discernir”.
Pecados veniais
Vênia (do pecado venial) significa perdão. São mais facilmente perdoáveis, não sendo obrigatória a confissão sacramental. Esse tipo de pecado já traz alguma transgressão da ordem, embora ainda toleráveis. Exemplo: um entregador de pizza que faz as entregas de cara feia, com pequeno atraso. A pizza chega ainda morna. Esse seria comparável ao pecado venial. Agora, se o entregador estivesse sorridente, atencioso, chegasse antes do combinado, com a pizza bem quente, esse se compara àquele que está em processo de santidade, buscando a perfeição. Já o entregador que chega atrasado, tratando mal os clientes, ainda os agredindo, esse rompeu completamente com a ordem. Não é mais compatível com a empresa sob nenhuma hipótese. Esse cometeu o pecado grave.
A vida espiritual é para se desenvolver de forma extraordinária. As pessoas que só evitam os pecados graves e não querem se desenvolver mais, não se santificam. Santificar-se é unir-se a Deus.
O santo é aquele que quer mais. Santa Tereza nos ensina que a vida espiritual se desenvolve dentro de nossa alma, percorrendo “Moradas” em nosso “Castelo Interior”. Para isso, é preciso o desenvolvimento da fé e do amor após o rompimento com os pecados graves. Temos vários excelentes textos explicando essa caminhada espiritual: clique aqui.
Pecados mortais
Os pecados mortais se chamam assim porque a pessoa morreu para a vida na graça. É o rompimento de forma intolerável da ordem. Como o entregador de pizza, que agride o cliente ao chegar, ou como no caso de um marido que bate na esposa. Não podem apagar o mal cometido. Esse é o pecado grave, que exige a confissão para o conserto das coisas, para que seja refeita a ordem espiritual de nossa alma, como também para se reintegrar à Igreja, pois somos membros de um mesmo corpo, o Corpo de Cristo. Mesmo embora podendo ser perdoados, a partir de um profundo arrependimento, não desobriga a confissão. Como já foi explicado no texto anterior, o pecado grave nos faz perder a graça de Deus. Também é necessário a reconciliação com aqueles que magoamos.
A própria vivência do mandamento do amor como também a comunhão eucarística, já é capaz de perdoar os pecados veniais, pois não houve o rompimento da ordem natural.
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Como podemos ir contra o ordenamento que se refere a Deus?
São as ações que vão contra as Virtudes Teologais (fé, esperança e caridade). Essas virtudes são exatamente os meios que nos aproximam de Deus. A ordem da vida é exatamente aproximar-se do nosso Criador.
Vamos contra as Virtudes Teologais quando, por exemplo, odiamos ou temos raiva de Deus, quando blasfemamos e desrespeitamos as coisas sagradas. Após ter feito uma experiência do amor de Deus, a pessoa resolve desistir, não acreditando que pode mudar de vida ou que Deus não vai a ajudar. Desesperar quanto à própria salvação.
E o ordenamento ao próximo?
Para isso, é preciso interpretar uma passagem do Novo Testamento que diz: “Mas eu vos digo: todo aquele que se irar contra seu irmão será castigado pelos juízes. Aquele que lhe disser ‘Louco’, será condenado ao fogo da geena” (Mt 5,22). Esse ensinamento de Jesus, deixa mais clara a interpretação dos mandamentos no que se refere à lei natural com relação ao próximo.
Nosso Senhor coloca como pecado grave tudo o que vai contra o outro. Ele deixa claro que a menor falta de benevolência contra o próximo já se trata de falta grave. Xingar, falar mal, querer o mal, matar, roubar, usar palavras que vão magoar, excluir alguém (exceto o caso de ser uma pessoa perigosa) são todos exemplos de faltas graves. Não significa que todo tipo de chateação que sentimos com relação ao outro seja pecado grave. Por exemplo, ficar chateado, sem dormir, triste por ter perdido o emprego de forma injusta, desde que não se cometa nenhum mal contra Deus ou contra o próximo, não há pecado. No entanto, se começa a falar mal de quem o demitiu (falar mal já é um meio de matar o outro) ou das pessoas que ajudaram na sua demissão, encolerizar-se a ponto de querer o mal a elas, aí entrou o pecado grave.
O que Jesus nos pede é que rezemos uns pelos outros, especialmente pelos nossos inimigos (Mt 5,44). Eu quero ir para o céu, você quer ir para o céu. Se rezarmos pelo outro, significa que queremos que ele também vá para o céu. É querer o maior tesouro imaginável para a outra pessoa: a salvação eterna. O maior de todos os bens para o menos merecedor. Isso é o maior ato de benevolência que se pode fazer!
Nossa sociedade caiu num nível moral tão baixo (tenho mais explicações sobre isso aqui: “Os princípios da crise do homem moderno sob a luz da Igreja”), que tratar sobre o pecado num único artigo fica grande demais. Vamos passar a semana meditando sobre este texto (faz bem ler mais vezes) e semana que vem retomamos.