Chamado de Deus

A vida consagrada é um grande sinal do céu

Olhem para Maria, aquela que é toda revestida da Palavra de Deus, o “Grande Sinal” que realiza plenamente a vocação da Igreja

Por convocação do Papa Francisco, a Igreja Católica celebra um Ano dedicado à Vida Consagrada, no qual voltamos os nossos olhos para os homens e mulheres que foram chamados pelo Senhor à radicalidade de vida dos chamados Conselhos Evangélicos da Pobreza, Castidade e Obediência, para serem sinais dos valores definitivos da Partilha, do Amor indiviso e da Oblação da liberdade por amor a Deus e ao próximo. Em nossas Igrejas Particulares, Arquidioceses, Dioceses e Prelazias, resplandecem luminosos os pontos de presença da vida religiosa consagrada.

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De forma especial na Amazônia, foi através de gerações de religiosos e religiosas que a vida de Igreja se organizou e se consolidou. No dia da Apresentação do Senhor, em torno do Papa Francisco e pelo mundo todo, renova-se a consagração destas pessoas preciosas aos olhos de Deus e de todos os cristãos. Com velas acesas, simbolizando a entrega de suas vidas e o reconhecimento do grande sinal que representam, louvamos a Deus por estes irmãos e irmãs e pedimos o fortalecimento de suas disposições para o serviço do Reino de Deus.

A pessoa chamada à vida consagrada é “apressada”

Sabemos que a plenitude da vida acontecerá quando Deus for “tudo em todos” (Cf. 1 Cor 15, 28). A pessoa chamada à vida consagrada é “apressada”! Deseja viver, desde já, a realidade do Céu. Faz votos públicos de entrega de sua vida ao Senhor, plena liberdade. Basta ver a imensa lista de santos e santas, passando dos mais conhecidos, como São Francisco de Assis, Santo Antônio, São João Bosco e outros, até chegar aos que continuamente são apresentados à Igreja e ao mundo, nas beatificações e canonizações, como testemunhas qualificadas, que atestam a validade permanente do Evangelho. Há poucos dias, o Papa Francisco canonizou Padre José Vaz, um sacerdote religioso imbuído de grande espírito missionário e dedicação aos pobres.

Quando tantos põem sua segurança nas posses e a elas se apegam, os consagrados a Deus querem relativizar o ídolo do “ter” a qualquer custo, assumindo um estilo de vida simples e pobre, confiando-se à Providência de Deus. São homens e mulheres livres em relação às coisas, para ajudar a todos com a lição da partilha e da comunhão dos bens. Aceitam construir a própria vida e ajudar as pessoas a edificar a própria existência com os meios simples e pobres.

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O consagrado deve amar a todos com o sentimento de Cristo

São pessoas que vivem “ao pé da letra” a recomendações de São Paulo proclamadas pela Liturgia da Igreja neste final de semana: “O homem não casado é solícito pelas coisas do Senhor e procura agradar ao Senhor. O casado preocupa-se com as coisas do mundo e procura agradar à sua mulher e, assim, está dividido. Do mesmo modo, a mulher não casada e a jovem solteira têm zelo pelas coisas do Senhor e procuram ser santas de corpo e espírito. Mas a que se casou preocupa-se com as coisas do mundo e procura agradar ao seu marido” (1 Cor 7, 32-34). Tais pessoas olham para frente e para o alto e querem amar a todos, com os sentimentos do coração de Cristo. Renunciam a constituir uma família própria, para testemunhar a vida em comunidade e um amor efetivo a todos, sem reservas. Livres em relação aos afetos, para que reine o amor de Deus, derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Cf. Rm 5, 5).

Olhando para Cristo, que se fez obediente até a morte, e morte de Cruz (Cf. Fl 2, 6-8), oferecem a oblação da própria liberdade, prontos para ouvir a voz de Deus, que expressa sua santa vontade que liberta e salva a todos. São pessoas livres de si mesmas, pelo voto de obediência.

Estes são homens e mulheres que aceitaram serem sinais de Deus em todos os tempos. Em alguns casos, sua dedicação fundamental é a contemplação, como nos muitos mosteiros de várias ordens e congregações masculinas e femininas, verdadeiros para-raios de oração diuturna pela Igreja e pelo mundo. Outras pessoas estão presentes nas atividades pastorais, de forma ativa e dedicada, animando as Comunidades, formando catequistas, incentivando as vocações ou na animação bíblica de grupos e comunidades. Muitos religiosos e religiosas estão nas Escolas confessionais e públicas, apaixonados pela educação das novas gerações. Que dizer das pastorais sociais, como a Pastoral da Criança, da Saúde e outras áreas marcadas pelo testemunho que chega às raias do heroísmo. Em nosso país, tantos viveram tal testemunho até o derramamento do próprio sangue, mártires da verdade do Evangelho.

Onde encontram os religiosos e religiosas as forças necessárias à sua consagração? O fundamento de suas vidas está na escolha radical do seguimento de Jesus Cristo, em que reconheceram um “ensinamento novo, dado com autoridade” (Cf. Mc 1, 21-28). Decidiram ser discípulos missionários de Jesus. O Mestre descoberto os arrastou para estradas antes impensáveis! Abraçaram a causa do Evangelho, fazendo dela o ideal de sua existência, prontos a edificar uma nova família de irmãos, para serem sinais que atraem homens e mulheres de todas as idades.

Convite à vida consagrada

O Ano da Vida Consagrada quer chegar, de forma especial, aos adolescentes e jovens, rapazes e moças, em tempo de opções vocacionais. Deus tem um olhar pessoal e intransferível para cada cristão, e este olhar tem o nome de vocação. Convido todos os jovens a se confrontarem com a Palavra de Deus que escutam na Santa Missa, descobrindo-a como dirigida especialmente a eles. Provoco com força e ternura tantos deles que experimentam no mais profundo do coração a inquietação, que os conduz a buscarem a liberdade das coisas, dos afetos e de si mesmos, para se lançarem na maravilhosa aventura do seguimento radical de Jesus Cristo.

Aos religiosos e religiosas e outras pessoas que se consagram na profissão dos Conselhos Evangélicos, chegue o estímulo à fidelidade crescente ao Senhor, no amor a Ele e a todos os homens e mulheres de todas as idades e situações sociais, que suplicam a luminosidade do grande sinal. Olhem para Maria, aquela que é toda revestida da Palavra de Deus, o “Grande Sinal” que realiza plenamente a vocação da Igreja (Cf. Ap 12, 1-6). Nela está o dever ser que a Igreja e o Mundo esperam das pessoas consagradas.


Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.